LIÇÃO Nº 6 – JONAS, A MISERICÓRDIA DIVINA
O livro de Jonas mostra-nos
que Deus é misericordioso, não tem prazer na morte do ímpio.
INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo dos
profetas menores, estudaremos hoje o livro de Jonas.
- O livro de Jonas é um
retrato da misericórdia divina, primeiro em relação ao profeta, depois, aos
ninivitas, mostrando que Deus não tem prazer na morte do ímpio.
I
– O LIVRO DE JONAS
- Prosseguindo o estudo dos
livros dos profetas menores e sua atualidade, hoje estudaremos o quinto livro na
ordem constante do cânon do Antigo Testamento, o livro de Jonas.
- Em hebraico, Jonas é
"Yonah" (יןנה), que significa “pombo”. Jonas era filho do profeta
Amitai e era da cidade de Gate-Hefer (II Rs.14:25), cidade mencionada em
Js.19:13 e que pertencia a tribo de Zebulom, localidade próxima à cidade de
Nazaré, cerca de 8 km ao norte. Portanto, tratava-se de um profeta do reino do
Norte, o reino de Israel.
- Jonas, como se pode
observar, era filho de profeta e um profeta que, primeiramente, profetizou no
reino do norte (Israel), tendo, inclusive, predito o restabelecimento dos
termos de Israel desde a entrada de Hamate (Síria) até o mar da planície, o que
sucedeu no reinado de Jeroboão II, ou seja, seu ministério ficou marcado como
um mensageiro que trazia boas novas a seu povo, o que teve grande influência em
sua resistência para ir até Nínive, como veremos infra.
- Existe uma tradição que
entende que Jonas teria sido o filho da viúva de Sarepta de Sidom que teria
sido ressuscitado por Elias (I Rs.17:17-24). A viúva teria se casado com o
profeta Amitai, que teria adotado Jonas e que teria sido, posteriormente, um grande
profeta.
- Jonas, como já vimos,
profetizou pouco antes ou no reinado de Jeroboão II, o que faz dele um dos mais
antigos profetas literários, muito provavelmente anterior a Oseias ou, no
máximo, contemporâneo aos primeiros dias do ministério daquele profeta. Esta
sua antiguidade é um dos argumentos dos críticos que descreem que Jonas tenha
existido, entendendo que seu livro é apenas uma lenda, um mito, algo
inadmissível já que o Senhor Jesus a este profeta se referiu explicitamente
(Mt.12:39,40; 16:4; Lc.11:29,30,32).
- Edward Reese e Frank
Klassen, co-organizadores da Bíblia em ordem cronológica, situam o livro do
profeta Jonas por volta dos anos 767 ou 798-784 a.C. Ambos entendem que o livro
de Jonas está situado entre a primeira parte do livro de Oseias e o livro de
Amós, já no reinado de Jeroboão II.
- O livro de Jonas é um
livro diferenciado entre os profetas menores, pois, em vez de conter predições,
como acontece com os outros profetas, é um livro biográfico, em que Jonas
relata o que aconteceu tanto com ele quanto com a cidade de Nínive, capital da
Assíria, a potência mundial da época, tendo o Senhor, em ambos os casos,
deixado de exercer o juízo em virtude do arrependimento e conversão dos que
deveriam ser castigados.
- O livro de Jonas mostra,
assim, com grande clareza, que é completamente falsa a imagem que ainda hoje se
defende de que Deus, no Antigo Testamento, é um ser cruel, sanguinário e sem
misericórdia. Pelo contrário, no livro de Jonas vemos como Deus sempre foi
misericordioso, não só em relação a Israel, mas também em relação aos gentios,
como foi o caso dos ninivitas.
- De pronto, já temos uma
demonstração da atualidade deste livro, na medida em que temos a revelação de
um caráter divino e que, como tal, é atemporal, qual seja a Sua misericórdia,
ou seja, a disposição que Deus tem de não nos dar aquilo que merecemos em
virtude de nossa natureza pecaminosa decaída, desde que haja arrependimento e
conversão.
- A mensagem do livro diz
respeito a um importante episódio do ministério profético de Jonas, qual seja,
o de ter de pregar uma mensagem de destruição a Nínive, a capital da Assíria, o
grande império daqueles dias e que representava uma grande ameaça ao povo de
Israel.
- Tratava-se, portanto, de
uma mensagem ao principal inimigo, o que representava grandíssimos riscos para
um profeta israelita. Jonas tentou escapar à ordem divina, mas, após muito
sofrer, acabou cumprindo a determinação divina. Surpreendentemente, os
ninivitas se arrependeram e Deus não os destruiu. O livro de Jonas é a mais
eloquente demonstração no Antigo Testamento de que Deus é um Deus que ama todas
as nações. Jonas, por isso, é conhecido como o "profeta missionário",
o que, aliás, faz jus a seu nome de “pombo”, ave que se constituía em
importante meio de comunicação naquele tempo (os “pombos-correios”).
- O livro de Jonas, que tem 4 capítulos, pode
ser dividido em três partes, a saber:
a) 1ª parte - chamada e
desobediência de Jonas - Jn.1;
b) 2ª parte - arrependimento
de Jonas - Jn.2;
c) 3ª parte - pregação de
Jonas e seus efeitos - Jn.3-4.
- Em Jonas, vemos a
revelação do amor de Deus para com todos os homens, mesmo os ninivitas, maiores
inimigos do povo de Israel. Temos uma figura do maior missionário de todos os
tempos, aquele que veio salvar a humanidade por inteiro, Jesus Cristo.
OBS: " O Livro de Jonas
ante o Novo Testamento - Jesus assemelhou-se a Jonas: 'Uma geração má e
adúltera pede um sinal, porém não se lhe fará outro sinal, senão o do profeta
Jonas, pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia,
assim estará o Filho do Homem três dias e três noites. Os ninivitas ressurgirão
no juízo com desta geração e a condenarão, porque se arrependeram com a
pregação de Jonas. E eis que está aqui quem é mais do que Jonas."
(Mt.12.39-41)." (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.1314).
" Cristo Revelado - As
palavras de Deus a Jonas em 4.10-11 fazem paralelismo entre as palavras de
Jesus em Jo.3.16. Deus Se preocupa com todas as nações da Terra. É verdade que
Cristo tem um relacionamento especial com os membros do Seu Corpo, a Igreja, o
amor de Cristo pelo mundo foi dramaticamente demonstrado quando Ele morreu na
cruz pelos pecados de toda a humanidade. João Batista reconheceu a
universalidade desse amor, quando exclamou: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo' (Jo.1.29). O amor de Deus por todos os seres humanos, como ensinado
a Jonas, foi demonstrado principalmente por Jesus Cristo, que declarou que um
Dia está por vir, quando 'ajuntarão os Seus escolhidos, desde os quatro ventos,
de uma a outra extremidade dos céus; (Mt.24.31). (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE,
p.336).
- Segundo Finnis Jennings
Dake (1902-1987), o livro de Jonas tem 4 capítulos, 48 versículos, 8
ordenanças, 12 perguntas, nenhuma promessa, um versículo de profecia cumprida e
6 mensagens distintas de Deus (1:2; 2:10; 3:2; 4:4,9,10).
- Segundo alguns estudiosos
da Bíblia, o livro de Jonas, o 32º livro da Bíblia, está relacionado com a
décima letra do alfabeto hebraico “yod” (י), cujo nome tem significado de
“mão”, palavra que simboliza o poder, a permissão, a habilidade e a autoridade,
sendo um livro que nos mostra a necessidade que temos de estar debaixo da mão
do Senhor, ou seja, de temermos a Deus.
III
– CHAMADA E DESOBEDIÊNCIA DE JONAS
- O livro de Jonas começa
com uma ordem de Deus para que o profeta, identificado como “o filho de Amitai”,
fosse até a grande cidade de Nínive e clamasse contra ela, porque a sua malícia
havia subido até o Senhor (Jn.1:1,2).
- Notamos, portanto,
que Jonas, ao tempo desta ordem do
Senhor, já era um profeta estabelecido em Israel, certamente já proferira as
mensagens a respeito do restabelecimento dos termos do reino do norte, e era chamado
pelo Senhor para ir pregar aos ninivitas, ou seja, ir pregar na capital da
Assíria, potência mundial da época e que ameaçava Israel, para lá pregar uma
mensagem de juízo, dizendo que Deus não estava a Se agradar do comportamento
mau daquele povo.
- Os assírios ficaram
conhecidos na história por sua grande crueldade. Ao contrário dos outros povos,
os assírios não se contentavam apenas em conquistar as outras nações. Sua
conduta era de dizimar os inimigos, matando o maior número possível deles e,
depois, os espalhando em outras terras, a fim de que as nações conquistadas
desaparecessem por completo.
- Uma das mais conhecidas
técnicas cruéis empregadas pelos assírios em suas conquistas era o empalamento ou
empalação, que consistia num “…método de tortura e execução utilizada
antigamente que consistia na inserção de uma estaca no ânus, vagina, ou umbigo
até a morte do torturado. Algumas vezes deixava-se um carvão em brasa na ponta
da estaca para que, quando esta atingisse a boca do supliciado, este não
morresse até algumas horas depois, de hemorragia. Usava-se também cravar a
estaca no abdômen.…”(Empalamento. In: WIKIPEDIA. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Empalamento Acesso em 03 set. 2012).
- Compreende-se, portanto, a
reação do profeta diante da ordem divina. Conhecido como um profeta que havia sido
usado por Deus para falar do restabelecimento dos termos de Israel e sabedor de
que os principais e cruéis inimigos do seu povo estavam a ponto de serem
destruídos por Deus, Jonas, dentro de seu nacionalismo, não quis saber de levar
uma mensagem para aquela nação, até porque “havia o risco de os assírios se arrependerem”
e, como Jonas sabia que Deus era misericordioso, pois, por isso mesmo, apesar
da vida pecaminosa de Israel, estava a restabelecer-lhes os termos (II
Rs.14:26,27), Israel teria de conviver com estes inimigos, mantendo a nação em
perigo.
- Não bastasse isso, Jonas
estava sendo chamado para profetizar aos gentios, a um povo que não gozava das promessas
de Deus, um povo idólatra e que, portanto, não era “o povo de Deus”. Como poderia
Jonas pregar a um povo gentio sendo ele israelita? Como os assírios poderiam
dar crédito a um profeta estrangeiro, sendo, aliás, extremamente cruéis como
eram para os estranhos, notadamente Israel, que era a próxima nação no mapa a
ser conquistada?
- Embora compreensível, o
pensamento de Jonas era inadmissível. Deus é o Senhor de todas as coisas, faz
como quer e cabe a nós, Seus servos, obedecer-Lhe tão somente. Não cabia a
Jonas decidir se a Assíria deveria, ou não, ser poupada do juízo divino, nem
Deus estava a precisar do profeta para executar Seu juízo. Como profeta, ou seja,
porta-voz de Deus, cabia a Jonas tão somente ir a Nínive e proferir a mensagem
divina.
- Ademais, Jonas havia se
esquecido de que o Senhor, no instante mesmo em que propôs o pacto com Israel
no monte Sinai, dissera que toda a terra é d’Ele (Ex.19:5) e que fazia parte da
missão de Israel ser “um reino sacerdotal e um povo santo” (Ex.19:6), de modo
que o fato de ter chamado Jonas para pregar em Nínive era uma demonstração
deste papel sacerdotal.
- O profeta, diante desta
ordem, procurou “fugir de diante da face do Senhor”. Desceu até Jope, conhecido
porto israelita e achou um navio que ia para Társis, o mais longínquo lugar
conhecido da época, o extremo ocidental do mundo até então conhecido No navio,
como que querendo mesmo se esconder da presença divina, Jonas foi para o porão,
como se isto fosse suficiente para se esconder da presença do Senhor (Jn.1:3).
- Jonas deliberadamente se
rebelava contra o Senhor, numa atitude que era, num certo sentido, mais grave
que a dos próprios assírios a quem ele não queria pregar. Deus dizia que os
ninivitas se comportavam muito mal, que eram muito maus e a malícia subira até
o Senhor, mas os assírios não conheciam a Deus como o profeta, nem tampouco
sabiam a Sua vontade.
- Jonas, ao revés, era um
profeta, alguém que tinha intimidade com Deus, que conhecia a Sua voz, que
sabia quem era o Senhor e que recebia o Espírito de Deus, já que se tratava de
um profeta. Por isso, assim que embarcou naquele navio, Jonas já sentiu a mão
do Senhor, visto que Deus mandou ao mar um grande vento e fez-se no mar uma
grande tempestade e o navio estava para quebrar-se (Jn.1:4).
- A malícia dos assírios,
embora tivesse subido até o Senhor, não promovera qualquer reação divina a não
ser a ordem ao profeta para que anunciasse o juízo divino. Já a desobediência
do profeta trouxe, de imediato, já no início da viagem, uma grande tempestade
que pôs em risco todos os tripulantes e passageiros do navio.
- Este fato já nos mostra
que a desobediência de um servo de Deus é mais grave aos olhos do Senhor do que
a maldade praticada por quem nunca conheceu a Deus. A reprovação divina aos
desobedientes que uma vez já provaram do perdão divino é bem maior do que
daqueles que jamais receberam a Deus como Senhor. Por isso mesmo o apóstolo
Pedro afirmou que a estes que apostatam da fé “…tornou-se-lhes o último estado
pior do que o primeiro, porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da
justiça do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora
dado; deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: o cão
voltou ao seu próprio vômito e a porca lavada ao espojadouro da lama” (II
Pe.2:20 “in fine”-22).
- Nós, que já recebemos a
Cristo Jesus como Senhor e Salvador de nossas vidas, precisamos ficar bem
atentos a esta realidade bíblica. O exemplo de Jonas é uma demonstração de que
o servo de Deus desobediente está em situação bem pior do que o incrédulo
impenitente. Pensando abreviar o tempo de vida de Nínive negandolhe uma
pregação de juízo de onde poderia vir o arrependimento e conversão e, por
conseguinte, a manifestação da misericórdia divina, Jonas só tinha conseguido
trazer prejuízo para si e para os que estavam com ele.
- Quantas pessoas não foram
prejudicadas pelo gesto tresloucado do profeta? Sua desobediência pôs em risco não
só a vida dos demais tripulantes e passageiros, como também as cargas que eram
transportadas naquele navio, o que envolvia, também, as economias de todos os
envolvidos nestas transações comerciais, cargas que foram lançadas ao mar
diante da grande tempestade. Quando o servo de Deus desobedece ao Senhor traz prejuízos
para todos quantos estão à sua volta.
OBS: Como bem disse o pastor
Edi Marcos Vinagre de Lima, presidente das Assembleias de Deus – Ministério
Vila Bela – São Paulo/SP, em estudo proferido em 21 de setembro de 2010, na
Assembleia de Deus do Belenzinho, em São Paulo/SP, Jonas causou incômodo até
para o peixe que o engoliu, pois não deve ter sido fácil para aquele animal
ficar com Jonas em seu ventre por três dias e três noites…
- A tempestade aumentava e
tudo o que era feito era inútil para garantir a segurança do navio. Jonas, no entanto,
diante de tamanho alvoroço, desceu aos lugares do porão e se deitou, e dormia
um profundo sono. O mestre do navio, ao encontrá-lo nesta situação de absoluta
indiferença a tudo o que ocorria, acordou-o e o mandou invocar o seu Deus, a
fim de que o Deus do profeta pudesse se lembrar daqueles homens e não permitisse
a sua morte.
- Jonas, um profeta, ser
chamado à atenção por um gentio para que orasse e buscasse a Deus! Que
vergonha, amados irmãos! Mas quantas vezes isto não acontece conosco? Quantas
vezes Deus também não usa pessoas incrédulas para nos repreender em nossa
negligência com as coisas espirituais?
- Deus usou aquele mestre do
navio como um “mensageiro” para retirar Jonas do estado de letargia espiritual.
Jonas estava completamente
indiferente à sorte daqueles homens que estavam a ponto de perecer naquele navio,
do mesmo modo que estava indiferente à vida dos ninivitas, tanto que havia se
recusado a pregar-lhes a mensagem de juízo.
- A indiferença com a sorte
do próximo é uma das características de quem está a desobedecer a Deus. Assim como quem está em
comunhão com o Senhor sente compaixão pelas almas perdidas, não tem prazer na ideia
de que muitos estão a perecer eternamente por não conhecerem ao Senhor Jesus;
aquele que não está em comunhão com o Senhor pensa apenas “no próprio umbigo”,
não tem a dimensão do próximo, não está nem um pouco incomodado com o fato de
que milhares de vidas, todos os dias, estão caminhando para a perdição eterna.
- Façamos uma reflexão: qual
é a nossa reação diante da iminência da morte eterna dos que nos cercam? A reação
de Jonas, de total indiferença, de sono profundo no porão da consciência, ou a
do apóstolo Paulo, que exclamava: “ai de mim se não anunciar o evangelho!” (I
Co.9:16 “in fine”)? Quantos Jonas não temos visto, na atualidade, em nossas
igrejas locais…
- Jonas, mesmo diante da
fala do mestre do navio, manteve-se inerte, sem qualquer reação. Não invocou o nome
do Senhor, porque sabia que não seria ouvido, pois Deus não ouve a pecadores
(Jo.9:31). Parecia conformado com a situação, sabendo que a tinha causado, mas,
ainda assim, sem se importar com as vidas que estava levando à morte juntamente
com ele.
- No desespero, os
marinheiros resolveram lançar sortes para saber por que causa lhes havia
sobrevindo aquele mal. Mais uma vez, vemos a manifestação da misericórdia
divina, que já havia se manifestado através da fala do mestre do navio, que
havia provocado Jonas a uma reflexão. Agora, as sortes caíram sobre Jonas.
- Alguns, a lerem esta
passagem, ficam confusos. Como poderia um procedimento gentílico, vinculado à adivinhação,
levar até Jonas? Haveria algum valor neste procedimento? Poderíamos, então,
recorrer a tais práticas para tentarmos descobrir as coisas?
- Temos aqui um caso
excepcional e que tinha a sua razão de ser. Evidentemente que o lançar sortes
não é uma prática recomendada pela Bíblia Sagrada e os servos de Deus não devem
valer-se dela. Ocorre que Deus estava usando da Sua misericórdia, não queria
que aqueles homens viessem a morrer por causa de Jonas, nem mesmo queria que
Jonas morresse e, em virtude disto, permitiu que a prática apontasse Jonas como
o causador do mal. Deus sempre está no controle de todas as coisas, amados
irmãos!
- Os marinheiros
confrontaram então o profeta, indagando-lhe qual era a sua ocupação, qual era a
sua terra e de que povo ele era. Jonas, então, foi constrangido a admitir a sua
situação. Confessou-se hebreu, servo de Deus e que estava a fugir da face do
Senhor, o Senhor que fizera os céus e a terra (Jn.1:8-11).
- A confissão é o primeiro
passo para que alcancemos o perdão dos nossos pecados. Vemos, assim, claramente,
que o propósito divino em permitir que as sortes caíssem sobre Jonas tinha um
objetivo: levar não só Jonas ao arrependimento e conversão, mas até os
marinheiros.
- Na sua confissão, Jonas
acabou por pregar para os marinheiros. Ele, que não queria ir até Nínive para levar
uma mensagem divina a gentios, estava a trazer a mensagem a respeito de quem
era Deus para os marinheiros, marinheiros estes que se converteram, na medida
que o texto sagrado nos dá conta de que eles temeram a Deus, reconhecendo a Sua
soberania e o Seu poder de causar aquela
grande tempestade, como também passaram a sacrificar ao Senhor e a Lhe fazer
votos (Jn.1:16).
- Jonas é interpelado pelos
marinheiros sobre o que deveriam eles fazer para sair daquela situação e o
profeta, então, sabendo da misericórdia
divina, manda que os marinheiros o lancem ao mar, pois sabia que era o causador
de todos aqueles males. Assim, pensava ele estar livrando os marinheiros da
morte e, igualmente, se entregando nas mãos do Senhor.
- Assim que Jonas foi
lançado ao mar, a fúria cessou, fez-se calmaria e os marinheiros puderam
reconhecer que o Deus de Jonas era, realmente, o Deus que fizera os céus e a
terra, o único Deus verdadeiro e o resultado foi que todos se converteram ao
Senhor.
- Era a misericórdia divina
que se manifestava, salvando não só a vida de todos os marinheiros, como a própria
vida de Jonas, já que o Senhor preparou um grande peixe para que tragasse o
profeta. O Senhor poderia ter deixado
Jonas morrer, mas não era esse o Seu desejo, mas, antes de mais nada,
manifestar a Sua misericórdia ao profeta para que ele pudesse transmitir a
mensagem divina de juízo a Nínive com toda eficácia.
- Muitos discutem a respeito
deste “grande peixe” que engoliu Jonas e que em Mateus é chamado de “baleia” (Mt;12:40),
o que foi o suficiente para críticos e incrédulos em geral dizerem que tudo não
passa de uma lenda, já que uma baleia não teria condições de engolir um ser
humano, dado o fato de que sua goela não é suficientemente larga para tanto.
- Por primeiro, é oportuno
dizer que se a Bíblia afirma que o fato ocorreu, ele ocorreu independentemente
de a ciência poder, ou não, comprová-lo, até porque as Escrituras dizem que “o
Senhor preparou” este animal para tal tarefa.
- De qualquer sorte, como
bem assevera o professor brasileiro Júlio Minham, em sua obra Maravilhas da ciência,
o termo grego traduzido por “baleia”, a saber, “ketos”, era um termo empregado
para indicar todo e qualquer animal marinho de grandes proporções, tanto que
deu origem ao termo “cetáceo” que indica todos os mamíferos marinhos, de modo
que o termo deve ser entendido de forma genérica, não se referindo às baleias propriamente
ditas.
- Como se não bastasse, o
referido professor, na sua obra já mencionada, dá notícia de casos de grandes
peixes (peixes mesmo e não baleias…) que chegaram a engolir seres humanos, um
num rio brasileiro e outro num mar inglês, sendo que, neste último caso, a
pessoa ficou dois dias e duas noites no ventre do peixe e ainda foi resgatado
com vida! Ora, como diz Minham: “…Não parecerá razoável admitir que, se um
homem, no curso ordinário da natureza, pode viver dois dias e duas noites
dentro de um monstro marinho, um profeta de Deus, sob Sua proteção e cuidado
diretos, poderia suportar a experiência por mais um dia e uma noite? “ (Maravilhas da ciência.
5.ed. s.l.: Livraria Atheneu, 1957, p.213).
II
– O ARREPENDIMENTO DE JONAS
- Jonas percebera que Deus é
misericordioso, que não tem prazer na morte do ímpio, tanto que fizera com que o
mestre do navio, desconhecedor de quem era Deus, lhe houvesse pedido que
invocasse a Deus e, mesmo diante de sua inércia, fizesse com que as sortes
caíssem sobre o profeta e ele tivesse de relatar tudo o que estava a ocorrer em
seu relacionamento com Deus.
- Deus não mede esforços
para obter a salvação dos homens, a ponto de Ele mesmo, na pessoa do Filho, ter
Se feito carne para propiciar ao homem um meio para retornar a ter comunhão com
Ele (Jo.1:14,17). Esta prova do amor de Deus (Rm.5:8) é mais do que suficiente
para que saibamos que Deus é misericordioso e não quer, por isso mesmo, que nós
recebamos o que merecemos por causa dos nossos pecados, que é a morte (Rm.6:23).
- O apóstolo Paulo, em suas
epístolas ditas “pastorais”, ou seja, dirigidas a seus cooperadores na obra de
Deus, em que orientava aqueles como deveriam agir na condução da igreja do
Senhor Jesus, acrescenta, em sua costumeira saudação, em que desejava sempre
aos seus leitores a graça e a paz procedentes de Cristo, também a misericórdia
(I Tm.1:2; II Tm.1:2 e Tt.1:4), como a fazer lembrar àqueles obreiros a
necessidade que temos de nos lembrar, sempre, que, se estamos na senda
verdadeira, é única e simplesmente porque não estamos a receber o que merecemos
do Senhor.
- Quando falamos em graça e
misericórdia de Deus, é importante frisarmos que ambas provêm de Deus, mas, num
certo sentido, são opostas. Se a graça é o favor imerecido de Deus ao homem, ou
seja, é recebermos aquilo que não merecemos, a misericórdia é o inverso, ou
seja, é não recebermos de Deus o que merecemos.
- Jonas precisava saber que
Deus é misericordioso e, por isso, não recebemos aquilo que merecemos. Em seu
nacionalismo inconsequente, o profeta achava que Deus seria misericordioso com
Israel, dando a ele o restabelecimento dos seus termos, mesmo que ele não
merecesse, mas não faria o mesmo com os assírios, já que se tratava de um povo
que não adorava o Senhor e que, por isso mesmo, mereceria perecer. Deus não faz
acepção de pessoas (Dt.10:17) e Sua misericórdia, que era ilimitada (Ex.33:19)
e não somente aos israelitas, que guardavam e amavam Seus mandamentos (Ex.20:6;
Dt.7:9).
- O livro de Jonas
revela-nos este lado misericordioso de Deus para além dos limites de Israel e
de Judá, a nos mostrar que, mesmo no Antigo Testamento, Deus não Se
circunscrevia ao povo que era Sua propriedade peculiar, mas que o fato de não
se ter alcançado plenamente a ação misericordiosa a todos os povos naquele tempo
não derivava de uma diferenciação de Deus em relação ao homem na lei e na
graça, mas, sim, fundamentalmente, de uma falha da nação israelita que, além de
não cumprir a lei, não assumiu a sua posição de reino sacerdotal e povo santo.
- Anos depois de Jonas, o
profeta Jeremias revelaria mais uma vez esta faceta da misericórdia divina, ao assinalar,
diante de uma Jerusalém destruída, que a causa de não sermos consumidos é a
misericórdia de Deus, uma misericórdia que não tem fim (Lm.3:22).
- Muitos de nós, ainda hoje,
em plena dispensação da graça, não têm a exata noção do significado da misericórdia
de Deus. Agem exatamente como o profeta Jonas: entendem que alguns merecem a
salvação, mas outros, não. Entendem que alguns são capazes de ser perdoados
pelo Senhor, mas outros, não. Fazem uma seleção de quem pode e merece ser
perdoado e de quem não está nas mesmas condições, esquecendo-se de que Deus é
misericordioso e Suas misericórdias não têm fim! Cuidado, amados irmãos, pois
não somos Deus e não podemos nos constituir juízes do próximo, pois somente o
Senhor o é (Tg.4:11,12).
- Jonas, tendo percebido a
misericórdia divina, no exato instante em que é engolido pelo grande peixe e mantido
vivo, arrependeu-se de seu pecado, que já fora confessado diante dos
marinheiros, fazendo uma oração ao Senhor, a única oração de um pecador que é
ouvida por Deus, qual seja, a oração em que se reconhece o pecado e se pede
perdão pela sua prática.
- Jonas viu que o Senhor não
só não queria a morte dos marinheiros, mas também não queria a sua própria morte.
Engolido pelo grande peixe, o profeta notou que se lhe abria uma oportunidade
e, de pronto, aproveitou da circunstância para pedir perdão.
- Que bom seria, amados
irmãos, se todos nós fizéssemos como fez o profeta, pedindo perdão
imediatamente após a prática dos pecados cometidos, aproveitando, assim, a
manifestação da misericórdia divina, que não nos fulmina, que não nos consome
assim que pecamos. “Hoje é o dia aceitável” para pedirmos perdão.
- Quantos não estão
arriscando perigosamente as suas vidas e a sua eternidade postergando a
confissão e o pedido de perdão por causa de seus pecados. Enquanto Deus lhes dá
esta oportunidade, pela Sua misericórdia, ficam tais pessoas a pensar na sua
reputação, nas consequências de uma confissão perante parentes, amigos, irmãos
em Cristo, esquecidos de que pecado é uma questão de vida ou morte eternas e é
um assunto entre o homem e Deus. Façamos sempre como Jonas, pedindo perdão
enquanto é tempo, antes que seja tarde demais.
Atendamos ao que nos
aconselha o apóstolo João: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que
não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus
Cristo, o justo. E Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente
pelos nosos, mas também pelos de todo o mundo” (I Jo.2:1,2).
- Jonas clamou ao Senhor na
sua angústia e “do ventre do inferno” gritou, tendo tido a convicção de que o Senhor
lhe respondeu e ouviu a sua voz. Assim como Deus atendeu a Jonas do ventre de
um peixe, debaixo das águas do mar Mediterrâneo, também ouvirá a tantos quantos
clamarem a Ele arrependidos de seus pecados. Aleluia!
- Jonas reconhecia a
situação caótica em que se encontrava, dentro do ventre de um grande peixe, com
algas enroladas na sua cabeça, mas o Senhor, que é misericordioso, livrou a sua
vida da perdição, tendo sentido que a sua oração havia entrado no templo da
santidade de Deus. Jonas reconhecia, inclusive, que mais importante do que
seguir um cerimonial ritual no templo de Jerusalém era o de ter a sua oração
atendida no templo efetivo de Deus, que não era construído por mãos humanas
(Jn.2:1-7).
- Em nossos dias, devemos
ter também esta convicção, e com muito maior razão, pois, como disse o escritor
aos hebreus, o sangue de Cristo nos deu entrada perante o trono da graça
(Hb.4:16; 10:19,20) e, ousadamente, podemos entrar no santuário, onde
alcançamos a misericórdia e achamos a graça divinas.
- Ao vermos que Jonas,
naquela situação espiritual extremamente delicada, de dentro do ventre de um
grande peixe, conseguiu que Deus o ouvisse em sua oração sincera, por que
devemos duvidar de que Deus nos ouve em nossos clamores, diante de nossas
dificuldades? Basta confessarmos os nossos pecados e pedirmos perdão pela sua
prática, de modo sincero e autêntico, que o mesmo Deus que ouviu a Jonas,
também ouvirá a cada um de nós. Como diz o apóstolo João: “Se confessarmos os
nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar
de toda a injustiça” (I Jo.1:9). Aleluia! Tenhamos fé na misericórdia deste
Deus que não muda!
- Jonas era levado a
experimentar o verdadeiro caráter de Deus. Ele, que se recusara a ir até Nínive
para pregar a gentios idólatras que ameaçavam a sua nação, agora era forçado a
reconhecer que “os que observam vaidades vãs deixam a Sua própria misericórdia”
ou, na versão da Bíblia de Jerusalém, “aqueles que veneram vaidades mentirosas
abandonam o Seu amor” (Jn.2:8).
- O profeta reconhecia que
seu nacionalismo era uma “vaidade vã” ou “vaidade mentirosa”, que agir diante
de uma mentalidade humana, contrária à vontade de Deus, é simplesmente
abandonar a misericórdia divina, é abandonar o amor de Deus.
- Muitos, em nossos dias,
por causa de preceitos de homens, de mandamentos humanos, estão a agir como os fariseus,
impondo encargos demasiadamente pesados sobre os homens, querendo dificultar a
salvação, como se isso fosse possível. São pessoas que não têm o amor de Deus,
que já o abandonaram se um dia o tiveram, porquanto agir desta maneira é
desconhecer quanto Deus nos ama e quanto Deus deseja que todos os homens se
salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4).
- Jonas reconheceu aquilo
que Moisés havia percebido num dos momentos mais íntimos que teve com o Senhor,
ou seja, que Deus tem misericórdia de quem quiser ter misericórdia e compaixão
de quem quiser ter compaixão (Ex.33:19), de que a salvação provém do Senhor e
não do homem e que, portanto, não nos incumbe
senão agir segundo a determinação do Senhor (Jn.2:9).
- Jonas também mostrou toda
a sua confiança em Deus ao agradecer, ainda no ventre do grande peixe, pelo livramento
que estava a suplicar, inclusive fazendo votos para oferecer sacrifícios em
gratidão pela nova chance que teria.
- Deus não decepcionou o
profeta. Três dias e três noites depois de ter sido engolido pelo grande peixe,
o Senhor mandou que o animal vomitasse Jonas na terra. Jonas não recebeu o que
merecera, fora mantido vivo apesar de sua desobediência.
IV
– PREGAÇÃO DE JONAS E SEUS
- É importante observarmos
que Jonas não foi jogado em Nínive, como alguns, açodadamente, entendem. O texto
bíblico diz que ele foi vomitado na terra e o Senhor mandou que se levantasse e fosse até Nínive, repetindo,
assim, a ordem que lhe dera na primeira vez (Jn.3:1,2).
- As palavras ditas pelo
Senhor são claras a nos mostrar que Jonas não foi lançado em Nínive, até porque
Nínive não era uma cidade banhada por mar, ficando às margens do rio Tigre.
Jonas, certamente, foi lançado em terra na própria costa de Israel, muito
provavelmente na própria Jope onde havia embarcado, tendo, então, recebido a
ordem para ir para a Assíria.
- O Senhor dá, novamente, a
ordem ao profeta que, para provar o seu arrependimento, deveria mudar a sua atitude
anterior, atendendo agora à ordem divina. Vemos que a misericórdia do Senhor
somente é alcançada pelo homem quando há arrependimento, arrependimento este
que é “mudança de atitude”, “mudança de ação”.
Não há que se falar em
arrependimento se não há modificação nas atitudes e na conduta da pessoa que se
diz arrependida, estando aí a necessária distinção entre arrependimento e
remorso.
- Deus fez com que Jonas
voltasse ao mesmo lugar onde havia desobedecido à Sua ordem e repetiu a mesma mensagem
dada anteriormente. O profeta demonstraria arrependimento se agisse de maneira
diversa que fizera da primeira vez, ou seja, em vez de fugir de diante da face
do Senhor, fosse para Nínive e lá pregasse a mensagem de juízo divino.
- Jonas não decepcionou o
Senhor e demonstrou que se tratava de uma pessoa realmente arrependida, tanto que
partiu para Nínive, não se preocupando com a índole cruel dos assírios, com o
fato de ser um estrangeiro que iria pregar a mensagem de um Deus em que os
ninivitas não criam.
- Jonas entrou na grande
cidade de Nínive, de três dias de caminho, pregando a mensagem que lhe fora dada
por Deus: “Ainda quarenta dias e Nínive será subvertida” (Jn.3:4).
- Jonas não se intimidou com
qualquer dos razoáveis fatores que levara em conta da primeira vez que ouvira a
mensagem divina e começou a caminhar por toda a Nínive, trazendo uma dura mensagem,
uma mensagem de juízo para aquele povo.
- Jonas fora alvo da
misericórdia divina, mas, nem por isso, deixou de trazer a mensagem que Deus
lhe mandara dar: “Ainda quarenta dias e Nínive será subvertida”. A misericórdia
divina não exclui a justiça divina. Deus é misericordioso, mas também é
justiça. Como ensinou Agostinho de Hipona (354-430): “a misericórdia também
pune”.
- Muitos, nos dias
hodiernos, confundem a misericórdia divina com a ausência de castigo por parte
de Deus. Esquecem-se de que Deus é
também justiça e passam a pregar um “Deus bonzinho, que jamais levará o homem
para o inferno”. Não nos deixemos levar por este pensamento, que é de origem
diabólica. Deus não tem prazer na morte do ímpio, Deus não deseja que os homens
se percam, mas se eles se mantiverem em seus delitos e pecados e não se
arrependerem de sua prática, serão, sim, condenados ao juízo eterno.
- Deus ama o pecador, mas
aborrece o pecado. Deus ama o ser humano, mas não tolera a prática do pecado. Por
isso, Deus faz com que o homem tenha conhecimento do que está sentenciado para
todos quantos Lhe desobedecerem, mas depende do homem se afastar do pecado e
passar a obedecer ao Senhor. Deus não quer que ninguém se perca, mas muitos
irão para a perdição por livre e espontânea vontade.
- Jonas pregou a mensagem
que Deus lhe mandara pregar e a consequência foi que “os homens de Nínive creram
em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de caso, desde o maior até ao
menor” (Jn.2:5).
- Os moradores de Nínive, a
começar do próprio rei, creram que o Deus de Jonas, o Deus de Israel era o único
e verdadeiro Deus e que poderia, então, mandar a destruição para aquela cidade
conforme Jonas estava a pregar. Apesar de sua religião, apesar de sua
idolatria, apesar de sua crueldade, os ninivitas perceberam que a mensagem de
Jonas era verdadeira e que deveriam pedir perdão ao Deus que fez os céus e a terra
para que escapassem daquele juízo.
- Assim como os marinheiros,
os ninivitas entenderam que Deus é Senhor e que tudo está sob o Seu controle e que,
diante do juízo determinado, não haveria outra coisa a fazer senão recorrer à
misericórdia deste Deus, a fim de que não recebessem o que mereciam.
- O rei da Assíria foi o
primeiro a crer na mensagem. Quando a mensagem de Jonas lhe chegou aos ouvidos
(certamente por algum assessor), o rei se levantou do seu trono, tirou de si os
vestidos, cobriu-se de saco e assentou-se sobre a cinza, atitudes que, em todo
o Oriente, simbolizavam humilhação, arrependimento e pedido de clemência.
- Normalmente entre as
nações gentílicas, e entre os assírios não era exceção, os reis eram
divinizados ou reconhecidos como emissários dos deuses. Quando o rei da Assíria
toma esta atitude, está a reconhecer que era inferior ao Deus que mandara a
mensagem por intermédio de Jonas, algo extremamente raro. Não nos esqueçamos de
que Jonas era um estrangeiro e oriundo de um país que era o próximo alvo dos
assírios em suas conquistas. Tudo isso foi desconsiderado pelo rei que,
reconhecendo a sua malícia, começou a clamar pela misericórdia divina.
- Todos nós precisamos da
misericórdia de Deus. Tanto Jonas, um profeta de Deus, precisava da misericórdia
quando no ventre do grande peixe, quanto o rei da Assíria, um gentio que não
servia a Deus, ainda que estivesse no trono da maior potência mundial da época.
Será que temos esta noção, ou pelo fato de termos alguma posição social, alguma
posição eclesiástica, de sermos filhos de Deus achamos que não mais carecemos
da misericórdia divina?
- Nos dias em que vivemos,
não são poucos os que cristãos se dizem ser que acham que não precisam mais da misericórdia
de Deus, que isto é tema para “desviados” e “incrédulos”. Tais pseudocristãos
acham que são “merecedores” das bênçãos de Deus e que Deus é “obrigado” a lhes
abençoar. Fujamos deste pensamento antibíblico, amados irmãos. Aqui tanto o
pregador (Jonas), quanto os ouvintes, a começar do mais ilustre deles,
precisavam da misericórdia de Deus!
- Além do rei, os grandes de
seu reino também foram tocados pela mensagem pregada por Jonas, de tal modo que
saiu um mandado para que nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas
provassem coisa alguma, nem lhes fosse dado pasto ou bebessem água, devendo
tanto homens quanto animais serem cobertos de saco, devendo clamar fortemente a
Deus e se converterem cada um do seu mau caminho e da violência que havia em
suas mãos, na esperança de que Deus pudesse voltar atrás e Se arrepender do que
havia dito que faria (Jn.3:7-9).
- Alguns estudiosos das
Escrituras, como era o caso do saudoso pastor Walter Marques de Melo
(1933-2012), que conosco freqüentava o Estudo dos Professores da Escola Bíblica
Dominical na Assembleia de Deus –Ministério
do Belém – sede (São Paulo/SP), entendia
que estes “animais” de que fala Jn.3:7,8 não eram propriamente animais, visto
que animais não se convertem nem podem clamar fortemente a Deus.
- Segundo tais
pensadores, estes “animais” seriam os
homens mais cruéis de Nínive, pessoas que eram “desalmadas”, ou seja, pessoas
que não tinham qualquer consideração ao próximo, que se constituíam em verdadeiras
“bestas-feras”, que não tinham nem dó nem piedade, expressão bíblica que não
seria exclusiva de Jonas, mas que se encontram, por exemplo, em I Co.15:32;
Tt.1:2; II Pe.2:12 e Jd.10.
- Tal pensamento faz, mesmo,
sentido. Notadamente em nossos dias, dias de multiplicação da iniquidade (Mt.24:12),
são muitos os homens cruéis que estão a viver entre nós, que cometem
atrocidades que nem mesmo os animais propriamente ditos conseguem praticar (II
Tm.3:3), como se veem diariamente nas páginas policiais dos noticiários.
Entretanto, até mesmo estes “animais” são abrangidos pela misericórdia divina,
como prova os efeitos da mensagem de Jonas.
- Os assírios não tinham
recebido nenhuma mensagem de esperança da boca do profeta Jonas. Jonas apenas disse
que, dentro de quarenta dias, Nínive seria subvertida. Os ninivitas logo
“vestiram a carapuça” e entenderam que eram maus e violentos e que Deus os
puniria com razão em virtude desta conduta impiedosa.
- Passaram, então, a clamar
diante de Deus, a pedir perdão pela sua maldade e violência, em tudo se assemelhando
ao que fizera o profeta Jonas quando estava no ventre do grande peixe. E Deus,
que não faz acepção de pessoas, do mesmo modo que ouviu o profeta, também ouviu
os ninivitas.
- Ao contemplar o
arrependimento e conversão de Nínive, Deus Se arrependeu do mal que faria
àquela cidade e não o fez (Jn.3:10). Aqui temos, uma vez mais nas Escrituras, a
expressão “Deus Se arrependeu”, que causa espécie a alguns, já que uma das
características divinas é a imutabilidade (Ml.3:6; Tg.1:17).
- A expressão
“arrependimento de Deus” é um dos exemplos de “antropopatia” nas Escrituras, ou
seja, a atribuição de um sentimento humano a Deus para que possamos
compreendê-l’O, já que Deus é além da nossa capacidade de entendimento.
- Deus não muda, n’Ele não
há sombra de variação. Como então pode Ele Se arrepender? O “arrependimento de
Deus” não é a mudança de Deus, mas, sim, a mudança do homem que faz com que a
reação divina seja diversa. Deus iria destruir Nínive por causa da sua malícia
que havia alcançado o limite da tolerância divina (Jn.1:2 “in fine”).
Entretanto, os ninivitas se arrependeram dos seus pecados e se converteram,
mudaram de conduta e de comportamento, de sorte que Deus, como não muda, ante
esta mudança, também teve de alterar a sentença, poupando Nínive da
destruição.
- Deus sempre agiu desta
forma. Com Caim, também Lhe advertiu para que mudasse seu procedimento, mas Caim
persistiu em fazer o mal e, por isso mesmo, não alcançou o perdão. No dilúvio,
também, durante cem longos anos, Deus deu à humanidade a oportunidade do
arrependimento pela pregação de Noé, mas ninguém se converteu, razão pela qual
foram submersos pelas águas do dilúvio. Ló, também, serviu de testemunha de justiça
perante as cidades da planície, mas ninguém lhe deu ouvidos, de forma que todos
foram atingidos pelo fogo e enxofre mandados por Deus do céu.
- Ao contrário de toda esta
gente, os ninivitas, nos dias de Jonas, se arrependeram e se converteram de
seus pecados, motivo por que foram poupados por este Deus imutável e
invariável.
- O mesmo ocorre ainda hoje.
Quem crer na mensagem do Evangelho, será salvo; quem não crer, será condenado
(Mc.16:16). Hoje ainda é dia aceitável, hoje ainda é dia de salvação,
aceitemos, pois, o aviso divino e nos arrependamos e convertamos, antes que
seja tarde demais!
- Jonas, que já fora alvo da
misericórdia divina, ao ver a reação dos ninivitas, logo intuiu que Deus não destruiria
a cidade. Isto desgostou extremamente o profeta, que ficou ressentido
(Jn.4:1).
- Jonas percebera que Deus
era misericordioso, mas ainda não tinha aceitado que a misericórdia pudesse atingir os
assírios, inimigos de seu povo. O nacionalismo falava, uma vez mais, mais alto
do que o amor no coração do profeta.
- Jonas, então, vai à
presença de Deus e mostra toda a sua mágoa, dizendo que tivera razão em tentar
fugir para Társis, pois sabia que Deus era “piedoso, misericordioso, longânimo
e grande em benignidade e que Se arrependia do mal” (Jn.4:2).
- Nesta expressão do
profeta, vemos que o profeta fugira de diante da face do Senhor porque sabia
que era grande a possibilidade do perdão divino a Nínive e que isto não era bom
para a sua nação. Com a dura experiência do ventre do grande peixe, Jonas
experimentara o que apenas sabia teoricamente, ou seja, que Deus era
misericordioso, mas, por incrível que pareça, ainda não havia sido contagiado
pela misericórdia divina. Experimentara a misericórdia de Deus mas não se
tornara um misericordioso.
- Quantos de nós não tem
sido como Jonas? Sabemos que Deus é bom. Experimentamos a bondade divina, mas
ainda não somos bons. Que isto mude em nós, amados irmãos, pois não entraremos
no reino dos céus se nossa justiça não superar a dos escribas e dos fariseus
(Mt.5:20) e tais pessoas, assim como Jonas, sabem muito bem que Deus é bom, mas
não praticam a bondade.
- Jonas, no seu
ressentimento, pediu até a morte para Deus, pois se achou um profeta
fracassado, já que a sua mensagem não se cumprira, não vendo que o propósito de
Deus era, exatamente, o de exercer a Sua misericórdia para com aquele povo. O
profeta não podia enxergar que a sua pregação fora capaz de converter a Deus a
maior cidade do mundo de então, que ele fizera, pela vez primeira, o papel que
Deus havia deixado a todo israelita, o de ser um reino sacerdotal e povo santo
diante de todas as nações da Terra.
- Jonas, ressentido, saiu da
cidade, depois que o Senhor lhe respondeu com uma pergunta: “É razoável esse
teu ressentimento?” (Jn.3:4).
- Deus, então, foi tratar
uma vez mais com o Seu profeta. Jonas fizera uma cabana ao oriente da cidade e
se assentara debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade. Ainda
nutria a esperança de que o Senhor destruiria Nínive, ficou “na arquibancada”,
como disse, certa feita em um ensino o pastor Aldey Nelson Rocha, aguardando o
mal sobre os inimigos.
- Quantos, na atualidade,
não procedem da mesma forma? Ficam “sentados na arquibancada”, esperando que o mal
sobrevenha a quem eles não querem bem. Trata-se de uma conduta irrazoável, nos
dizeres do próprio Senhor. Como podemos dizer que estamos em comunhão com o
Senhor desejando o mal do próximo, se Deus quer que todos se salvem e venham ao
conhecimento da verdade? Como podemos dizer que somos participantes da natureza
divina se, em vez de desejarmos o bem do outro, queremos assistir ao seu mal?
- O Senhor, então, fez
nascer uma aboboreira, que subiu por cima de Jonas, fazendo-lhe sombra e o
profeta ficou muito alegre por causa da aboboreira, que lhe veio trazer
refrescor. Entretanto, no dia seguinte, o Senhor enviou um bicho que feriu a
aboboreira e esta se secou.
- Sem a aboboreira, Deus
mandou um vento calmoso, oriental, que feriu a cabeça de Jonas e o profeta,
diante deste grande incômodo, quis, uma vez mais, morrer, já que sentiu falta
da aboboreira.
- O Senhor, então, perguntou
a Jonas se era razoável ele desejar a morte por causa de uma simples aboboreira
e o profeta disse que sim. Então, o Senhor, mostrando a incoerência de Jonas,
disse se não seria também razoável que o Senhor quisesse a vida da população de
Nínive, que, na época era de mais cento e vinte mil homens, muito mais
importantes do que a aboboreira, com a agravante de que a aboboreira não tinha
sido feita por Jonas, enquanto que todas aquelas criaturas de Nínive tinham
sido obra das mãos do Senhor (Jn.4:5-11).
- Jonas, então, aprendeu a
lição de que devemos, sim, nos compadecer do próximo, do ser humano que é criado
à imagem e semelhança de Deus. O profeta aprendeu que devemos dar ao ser humano
o máximo valor nesta Terra, sabendo que se trata de algo que é extremamente amado
e querido pelo Senhor.
- Temos agido desta maneira,
ou damos mais valor às aboboreiras do que às almas perdias que estão celeremente
caminhando para o inferno? Que valor temos dado à salvação das almas? Temos o
mesmo sentimento missionário de Cristo Jesus que deixou a Sua glória para vir
nos salvar aqui neste mundo vil e tenebroso?
- A misericórdia divina
alcança tanto os ingênuos, que não sabem discernir entre a mão direita e a
esquerda, como os “animais”, estes homens cruéis e nefastos que têm prazer em
praticar a maldade. Jesus veio salvar a todos e a nós, que somos Seus servos,
não nos cabe senão pregar a mensagem do Evangelho que Ele nos mandou falar a
toda a criatura, sem qualquer acepção ou indevido julgamento.
- Assim como Jonas, fomos
também alvo da misericórdia de Deus, que
nos tirou do “ventre do inferno”, fazendo-nos
experimentar a Sua misericórdia. Mas Deus quer mais de nós do que simplesmente
experiência do Seu amor. Deus quer que cada um de nós vá até onde estão os
incrédulos e lhes preguemos a mensagem do Evangelho e, mais do que isto ainda,
que nós estejamos prontos a ter compaixão destas almas, a sermos nós mesmos
misericordiosos em relação a eles, compartilhando o mesmo sentimento que Deus
tem em relação a nós e a eles.
Será
que estamos dispostos a isto?
Caramuru
Afonso Francisco
This entry was posted on terça-feira, 6 de novembro de 2012 at 06:01. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
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