Lição 1 - E deu dons aos homens
Título
Damos início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical, um trimestre “temático”, onde estudaremos um assunto tal qual ele se apresenta nas Escrituras Sagradas.
Neste segundo trimestre de 2014, estaremos estudando um tema muito importante, qual seja, “Dons espirituais e dons ministeriais”, um assunto cujo estudo se faz extremamente necessário nos dias em que vivemos, onde a igreja dita pentecostal tem deixado de lado esta preciosidade que o Senhor deixou à Sua Igreja que são os dons espirituais e num instante em que a luta pelo poder eclesiástico confunde dons ministeriais com títulos e posições hierárquicas.
Necessitado de salvação, o homem depende da ação divina para alcançar sua redenção, vez que o homem não pode salvar-se a si mesmo.
A salvação apresenta-se, assim, por si só, como um dom que Deus nos dá para que possamos retomar a comunhão com Ele que perdemos por causa do pecado. Daí porque o chamado texto áureo da Bíblia dizer que Deus deu o Seu Filho Unigênito para que todo aquele que n’Ele crer não pereça tenha a vida eterna (Jo.3:16). O próprio Cristo, portanto, é um dom que Deus dá aos homens, mediante o qual alcançamos a vida eterna.
Mas, quando o homem é salvo por Cristo, o Senhor não Se contenta em lhe dar apenas a salvação, o que já seria por demais suficiente para a humanidade. Na verdade, em Seu infinito amor, o Senhor também compartilha com o homem que salvou do Seu poder e da Sua companhia, de modo que, ao longo da peregrinação terrena da Sua Igreja, entrega a ela dons, dádivas, riquezas espirituais que nos permitem servi-l’O e também servir aos homens, desempenhar o amor que d’Ele recebemos, não só em relação a Ele como também aos homens.
Os dons concedidos por Deus à Sua Igreja são costumeiramente divididos pelos estudiosos das Escrituras em três grupos: os dons espirituais, os dons ministeriais e os chamados dons de serviço ou assistenciais.
O trimestre cuidará das duas primeiras espécies, ou seja, os dons espirituais e os dons ministeriais. Os primeiros, são dons concedidos pelo Espírito Santo a fim de propiciar a edificação e a consolação dos salvos, enquanto aguardam a chegada de Cristo para arrebatar a Sua Igreja, enquanto os segundos tratam dos dons concedidos pelo próprio Jesus, que é a cabeça da Igreja, para promover o aperfeiçoamento dos santos e a edificação da Igreja em amor.
É por este motivo que o subtítulo do tema deste trimestre é “servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário”. Os dons concedidos pelo Senhor à Igreja são meios pelos quais podemos servir tanto a Deus quanto aos homens. Estes dons, entretanto, não são talentos naturais ou habilidades que advêm da natureza humana, mas, sim, demonstrações do poder de Deus, daí porque se diz que tal serviço é efetuado com “poder extraordinário”.
A capa do trimestre apresenta-nos duas mãos estendidas, num gesto de recepção, enquanto uma luminosidade vinda do alto parece indicar que de lá, de cima vem aquilo que as mãos estão aguardando.
Sabemos que mãos, na Bíblia Sagrada, representam obras, atitudes, ações, comportamento, conduta. Estas mãos estendidas para o alto, abertas, significam um gesto de desejo de recepção, de recebimento.
A ilustração mostra-nos, portanto, que os dons espirituais e os dons ministeriais são presentes, dádivas que o Senhor quer dar aos homens, que devem estar prontos para recebê- los, que devem desejar recebê-los. Não é algo que venha forçadamente aos homens, mas é algo que deve ser recebido com prazer pelo homem já que o Senhor os oferece.
Os dons, como nos indicam a ilustração, vêm de Deus, não provêm do homem, por isso o homem deve estender suas mãos para o alto com o fim de recebê-los.
Por fim, a recepção dos dons fará com que tenhamos nossas mãos cheias, ou seja, os dons são para que sirvamos a Deus, para que efetuemos a Ele um serviço, não são para que o engrandecimento e o ensoberbecer dos homens.
O trimestre pode ser dividido em dois blocos. Após uma lição introdutória, em que se nos são apresentados os dons espirituais e os dons ministeriais (lição 1), faremos estudo dos dons espirituais, analisando o seu propósito e depois, cada um dos nove dons, que, tradicionalmente, são divididos em três grupos: os dons de revelação, os dons de poder e os dons de elocução, (lições 2 a 5).
O segundo bloco tratará dos dons ministeriais, havendo uma lição específica para cada um dos dons conforme a relação constante de Ef.4:11, bem como com uma lição a respeito dos presbíteros e outro, dos diáconos (lições 6 a 12).
Por fim, temos uma lição de conclusão, que tratará da multiforme sabedoria de Deus (lição 13).
O comentarista deste trimestre é o pastor Elinaldo Renovato de Lima, presidente das Assembleias de Deus em Parnamirim/RN, que já há alguns anos tem comentado as Lições Bíblicas.
Que ao término deste trimestre, possamos ter valorizado os dons espirituais e dons ministeriais, procurando melhorar nosso serviço ao Senhor e revigorando nossa vida espiritual, que necessita da manifestação de tais dons no meio do povo de Deus.
B) LIÇÃO Nº 1 – E DEU DONS AOS HOMENS
O Senhor não só salva o homem, mas concede dons à Igreja para que haja um eficaz e eficiente serviço.
INTRODUÇÃO
- Neste novo trimestre, estudaremos os dons espirituais e os dons ministeriais, estas ferramentas que o Senhor dá à Igreja para que haja uma vida espiritual abundante no meio do Seu povo.
- O Senhor não só salva o homem, mas concede dons à Igreja para que haja um eficaz e eficiente serviço.
I – DEUS DÁ DONS AOS HOMENS
- Damos início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical, em que estaremos a estudar os dons espirituais e os dons ministeriais.
- O homem foi criado por Deus para manter, com o seu Criador, um relacionamento perpétuo, para que tivesse com Ele comunhão, ou seja, para que tivesse vida e vida em abundância (Jo.10:10).
- O homem foi criado por Deus para manter, com o seu Criador, um relacionamento perpétuo, para que tivesse com Ele comunhão, ou seja, para que tivesse vida e vida em abundância (Jo.10:10).
- Quando o homem pecou, perdeu esta comunhão com Deus e, assim, ficou despojado da sua própria razão de ser, da sua própria razão de viver. O homem somente se completa com Deus, pois o Senhor o fez de tal modo que tenha a eternidade em seu coração (Ec.3:11).
- O homem sem Deus é um miserável, ou seja, é alguém que fica despojado de tudo quanto realmente importa em sua vida. Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo, ao descrever a situação do homem no pecado, diz que é de um miserável (Rm.7:24), o mesmo estado que Jesus descreve como sendo o estado dos crentes da igreja de Laodiceia, que haviam deixado o Senhor do lado de fora de suas vidas (Ap.3:17).
- Todas as coisas que o homem possui provêm de Deus, que é o dono de tudo, a começar de nossa própria vida (Sl.24:1), de modo que, em sentido rigoroso, tudo quanto temos é dom de Deus, como, aliás, disse Davi no instante em que amealhava recursos para a construção do templo (I Cr.29:14).
- Assim, diante do pecado, o homem carece de receber de volta a vida, ou seja, a comunhão que tinha com o Senhor e que lhe dá a própria razão de existência. É por isso que o primeiro dom que recebemos de Deus é a vida eterna, dado por meio de Cristo Jesus. É o próprio Senhor quem nos define o que é a vida eterna: conhecer ao Senhor por único Deus verdadeiros e a Jesus, a quem Ele enviou (Jo.17:3).
- A vida eterna foi dada a nós por meio de Cristo Jesus, Ele próprio um dom de Deus para que tenhamos a comunhão com o Senhor (Jo.3:16).
- Mas o Senhor não Se limita a conceder o dom da vida eterna para o ser humano, o que já seria suficiente para que o homem alcançasse a bem-aventurança e a própria razão de sua existência. Deus não é mesquinho e, diante de Seu grande amor, quis dar ao homem outros dons, outras dádivas, para que o homem que n’Ele crê tenha uma vida espiritual abundante antes mesmo de alcançar a dimensão eterna.
- O Senhor não só salvou o homem, mas, também, formou um povo para congregar todos os salvos, a Igreja. Foi esta grande revelação que Jesus trouxe aos Seus discípulos, depois que Pedro, por revelação do Pai, disse que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus vivo (Mt.16:16-18).
- Esta Igreja é considerada como a noiva de Cristo, pois aguarda o casamento com o Senhor, o que se efetivará nas bodas do Cordeiro (Ap.19:7), quando, então, passará a ser a esposa do Cordeiro.
- Ora, a adoção da figura do casamento como sinal, figura da união que se dará entre Cristo e a Igreja na dimensão eterna traz, como consequência, dentro dos princípios que regiam o casamento no Oriente e em Israel, a obrigação que tem o noivo de, antes do casamento, aquinhoar a noiva com bens, com um patrimônio, chamado de “dote”.
- Com efeito, no Oriente, inclusive Israel, o homem que desejava desposar uma mulher tinha de garantir o sustento financeiro da noiva, caso o casamento não durasse. Vemos, claramente, em Ex.22:16,17, que o noivo era obrigado a dar um “dote das virgens”, ou seja, um valor em dinheiro que serviria de sustento para a mulher, caso o casamento tivesse fim.
- Também vemos claramente este costume quando da busca de Eliezer de uma esposa para Isaque (Gn.24), quando Eliezer foi para Padã-Arã com dez camelos, onde havia joias, vasos de ouro e de prata, que foram entregues à família da noiva, como presentes do noivo. OBS: A propósito, esta forma de regime patrimonial do casamento existiu em nosso direito até 2002, pois o chamado “regime dotal” era previsto em nosso primeiro Código Civil, em que a mulher constituía um patrimônio só seu, que garantiria o seu sustento se dissolvida a sociedade conjugal
- Pois bem, a Igreja, sendo a noiva do Cordeiro, recebe do seu noivo, um “dote”, ou seja, um patrimônio espiritual, dons, dádivas, que a mantêm rica e adornada para se encontrar com o seu marido por ocasião das bodas. Enquanto Jesus não vem para arrebatar a Sua Igreja, ela recebe, a exemplo de Rebeca, antes de se encontrar com Isaque, joias preciosas do Espírito Santo, que aqui é figurado pela pessoa de Eliezer. OBS: “…Rebeca recebeu vestidos, que representam as nossas vestiduras que recebe a Igreja de Cristo, joias de ouro, que tipificam os dons espirituais e as de prata, que representam as bênçãos da redenção…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.3, p.74).
- Após ter conquistado a salvação para todos os homens na cruz do Calvário, o Senhor Jesus desceu às partes mais baixas da Terra, onde foi resgatar aqueles que, no seio de Abraão, aguardavam o cumprimento da promessa do Messias, em quem haviam crido (Ef.4:9).
- Após ter descido às partes mais baixas da terra, o Senhor, então, subiu aos céus, levando cativo o cativeiro (Ef.4:8), ou seja, levando os justos que haviam crido n’Ele antes de Sua vinda para o Paraíso, juntamente com o ladrão que se arrependeu na cruz (Lc.23:43), o terceiro céu que foi visitado por Paulo em um arrebatamento (II Co.12:4).
- Nesta ocasião, como profetizou o salmista Davi, o Senhor Jesus recebeu dons para dar aos homens (Sl.68:18), dons estes que não eram para ser retidos para Si, mas, sim, para ser dados aos homens (Ef.4:8), pois a Igreja, ao contrário daqueles justos que viveram antes da vitória de Cristo sobre a morte e o pecado, não passa pelas portas do Hades, jamais irá para as partes mais baixas da Terra (Mt.16:18).
- Tendo adquirido a salvação para a Sua Igreja, o Senhor Jesus, na condição de noivo, tratou de adornar a Sua noiva com o “dote”, com dons, com preciosidades espirituais, a fim de que ela se prepare convenientemente para as bodas do Cordeiro, que é seu alvo e objetivo.
- Os dons trazidos por intermédio do sacrifício de Cristo Jesus na cruz do Calvário, portanto, são adornos, atavios, riquezas absolutamente necessárias para que a Igreja possa aguardar a vinda do seu Noivo, um patrimônio que a sustenta até o dia em que for retirada desta Terra para viver para sempre com o seu Senhor (Jo.14:1-3). OBS: “…E como continuidade do seu Grande Ministério, Jesus deu dons aos homens, para que este possam participar e exerçam o ministério terreno, na divulgação das Boas-Novas, para que todos os que creem sejam salvos…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.5, p.122).
- Por isso, logo na tarde do domingo da ressurreição, o Senhor Jesus, após mostrar-Se aos discípulos, deu- lhes um dom: o dom de apóstolo. Com efeito, o Senhor disse que os enviava assim como o Pai O havia enviado (Jo.20:21). Ora, a palavra “apóstolo” significa “enviado” e, por isso, os discípulos, e aqui falamos dos onze que andavam com Cristo mais de perto, receberam esta dádiva de prosseguir na obra do Senhor Jesus.
- Mas isto ainda era pouco. Logo em seguida, o Senhor Jesus deu aos Seus discípulos o Espírito Santo (Jo.20:22), este que é o primeiro dom que é dado ao homem após a salvação. Rebeca foi levada até Isaque, até o casamento por Eliezer. Da mesma forma, a Igreja é levada até o encontro de Cristo nos ares pelo Espírito Santo. Por isso, tanto ela quanto o Espírito Santo clamam para que o Senhor venha buscar a Igreja (Ap.22:17).
- O Espírito Santo somente poderia ser dado por Cristo aos discípulos depois que o Senhor fosse glorificado, morresse por nós e ressuscitasse (Jo.7:39). Já na tarde do dia em que foi glorificado, o Senhor Jesus não deixou de adornar a Sua noiva com o Espírito Santo.
- A presença do Espírito Santo em nós faz com que mantenhamos comunhão com o Senhor. Esta comunhão com Deus faz-nos revelar a nova natureza que obtivemos ao crer em Cristo Jesus e, como novas criaturas (II Co.5:17; Gl.6:15), passamos a produzir o fruto do Espírito Santo (Gl.5:22), bem como passamos a ter virtudes, disposições permanentes que nos assemelham ao Senhor (Is.11:2), como também as chamadas “virtudes teologais”: a fé, a esperança e o amor (I Co.13:13). OBS: É às virtudes trazidas pelo Espírito Santo, que já existiam sobre Cristo como vemos em Is.11:2, que o Catecismo da Igreja Romana denomina de “dons do Espírito Santo”, “in verbis”:” Os sete dons do Espírito Santo são: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza,ciência, piedade e temor de Deus. Em plenitude, pertencem a Cristo, Filho de Davi . Completam e levam à perfeição as virtudes daqueles que os recebem. Tornam os fiéis dóceis para obedecer prontamente às inspirações divinas.…”(§ 1831 CIC).
- Mas isto era pouco. Logo após ter dado o Espírito Santo aos discípulos, também lhes deu “o poder das chaves”, dando à Igreja o poder de ligar o homem a Deus e de também desligá-lo de Deus. Na verdade, Jesus estava aqui constituindo a Igreja como o Seu corpo e, assim, como integrante da Sua mediação entre Deus e os homens (I Tm.2:1-6).
- Jesus dá-Se como mediador, intercessor entre Deus e os homens e, por intermédio desta constituição do “poder das chaves”, todo salvo tem livre acesso a Deus, ao trono da graça (Hb.4:16; 10:19-24). É graças a este poder que nos é concedido por Cristo, é graças a este dom que podemos juntos efetuar a obra do Senhor, pregando o Evangelho e tendo a cooperação do Senhor, que a confirma com sinais e maravilhas (Mc.16:20).
- O apóstolo Paulo explica-nos que o Senhor Se deu a Si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo e é por esta dádiva, em que Ele transmite a Sua condição de mediador a toda a Sua Igreja, que o apóstolo Paulo foi constituído pregador, apóstolo e doutor dos gentios (I Tm.2:7).
- Bem se vê, portanto, que não bastou o Senhor Jesus dar o Espírito Santo aos discípulos, mas Ele mesmo Se deu e, por passarmos a ser parte integrante do Seu corpo, podemos, então, realizar a obra do Senhor enquanto Ele não vem para buscar a Sua amada Igreja.
- Como partes de Seu corpo (I Co.12:27), os salvos passam a participar de todo o poder que o Senhor Jesus recebeu no céu e na terra (Mt.28:20) e, desta forma, podem realizar a obra de Deus sem qualquer impedimento ou obstáculo. Os céus estão abertos para a Igreja desde a morte e ressurreição de Cristo (At.7:56) e, por isso, podemos receber do Senhor todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef.1:3).
- Mas isto ainda era pouco. Depois de ter dado o Espírito Santo, como também Se dado a Si mesmo para que pudéssemos ter o “poder das chaves”, podendo, assim, realizar a obra de Deus, o Senhor também mandou que Seus discípulos aguardassem em Jerusalém um outro dom: o revestimento de poder (Lc.24:49).
- O revestimento de poder, ou seja, o batismo com o Espírito Santo, é outro dom que o Senhor prometeu dar à Sua Igreja, dom absolutamente necessário e indispensável para que haja eficácia e eficiência na pregação do Evangelho, na realização da obra de Deus.
- Os discípulos, então, obedientemente, aguardaram em Jerusalém o cumprimento desta promessa e, no dia de Pentecostes, o Espírito Santo veio sobre eles e, então, com este dom precioso, puderam os discípulos iniciar a evangelização, com a salvação de quase três mil almas (At.2).
- Uma vez revestidos de poder, os doze apóstolos iniciaram, então, o exercício daquilo que haviam recebido de Cristo, ou seja, o exercício do ministério da palavra e da oração, para o que haviam sido enviados pelo Senhor (At.6:2,4).
- Uma vez revestidos de poder, os doze apóstolos iniciaram, então, o exercício daquilo que haviam recebido de Cristo, ou seja, o exercício do ministério da palavra e da oração, para o que haviam sido enviados pelo Senhor (At.6:2,4).
- Mas isto ainda era pouco. Alguns dias depois, já revestidos de poder, os discípulos passaram a demonstrar o poder do Espírito Santo em suas vidas, por intermédio da realização de curas, sinais e maravilhas (At.3:1-8; 4:33; 5:12,15,16), algo que não privativo dos apóstolos, mas que se espalhou por toda a Igreja, inclusive entre os gentios, como atesta o apóstolo Paulo ao dizer que, em Corinto, não faltava dom algum (I Co.1:7).
- Notamos, portanto, que, além da salvação propriamente dita, o Senhor quis adornar a Igreja com muitos outros dons, com muitas outras dádivas, a começar pelo dom do Espírito Santo (At.2:38), expressão que envolve tanto o Espírito Santo em Si como o revestimento de poder.
- Se o dom do Espírito Santo é dado a toda a Igreja, o mesmo não ocorre com os demais dons. Para sermos participantes do corpo de Cristo, necessário se faz que recebamos o Espírito Santo, pois é Ele quem nos guiará em toda a verdade, que nos levará ao encontro de Jesus Cristo nos ares, mas os demais dons são distribuídos pelo Senhor, porque são dons dados à Igreja e a Igreja, embora seja um só corpo, é formado de diversos membros (I Co.12:12,20).
- Jesus, sendo a cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23), distribui os dons como quer entre os membros do corpo (I Co.12:18), até porque um corpo precisa ter seus membros exercendo diferentes funções para que haja a unidade.
- Por isso, é extremamente relevante sabermos que os dons são repartidos particularmente (I Co.12:11), ou seja, o Senhor dá os dons conforme a necessidade da Igreja para certas pessoas, nem todas receberão os mesmos dons (Rm.12:4-6) e o mais lindo disto tudo é que, recebendo as pessoas diferentes dons, completam- se um ao outro, cristalizando e consolidando a unidade do corpo de Cristo.
- Como ensina o pastor e teólogo Jormicezar Fernandes da Rocha, de Ouro Preto do Oeste/RO, “…a variedade de ministérios eclesiásticos registrados em o Novo Testamento é em função das diversas necessidades da Igreja em sua tarefa de evangelizar, discipular os novos convertidos e nutrir o rebanho do Senhor com o alimento adequado (edificar). O Novo Testamento apresenta pelo menos cinco listas de dons com os quais Deus equipa a Sua igreja para a sua nobre missão, com vistas a capacitar seus membros para as respectivas funções: Rm.12:3-8; I Co.12:28-31; I Co.12:4-10; Ef.4:7,11-13; I Pe.4:10,11.
Dons I Co.12:28-30
Dons Rm.12:3,6,7,8
Dons Ef.4:11
Dons I Co.12:8-10
Dons I Pe.4:10,11
Dons I Co.12:28-30
Dons Rm.12:3,6,7,8
Dons Ef.4:11
Dons I Co.12:8-10
Dons I Pe.4:10,11
Apóstolos Profetas Doutores ou mestres Milagres ou operadores de milagres Dons de curar Socorros Governos Variedades de línguas Interpretação de línguas Profecia Ministério Ensinar Exortar Repartir ou contribuir Presidir Misericórdia Apóstolos Profetas Evangelistas Pastores Doutores ou mestres Palavra da sabedoria Palavra do conhecimento Fé Dons de curar Operação de maravilhas Profecia Discernimento de espírito Variedade de línguas Interpretação de línguas Falar Administrar (A excelência do ministério cristão: valorizando o que é excelente. EBOADERON 2013, p.43) (quadro ligeiramente modificado por nós).
- Neste trimestre, estudaremos duas classes destes dons: os dons espirituais e os dons ministeriais.
- Os dons espirituais são aqueles elencados em I Co.12:8-11, onde vemos que são dons dados pelo Espírito Santo a certos membros da Igreja para que haja a manifestação do Espírito Santo no meio da Igreja no que for útil (I Co.12:7), para o fim de edificação, exortação e consolação da Igreja (I Co.14:3).
- Já os dons ministeriais são aqueles elencados em Ef.4:11, onde vemos que são dons dados pelo próprio Jesus a certos membros da Igreja para que haja o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo em amor (Ef.4:12-16).
- Além destes, há os chamados “dons de serviço”, ou “dons assistenciais”, ou, ainda, “dons espirituais de ministérios práticos”, elencados em Rm.12:6-9, dons que têm por finalidade a atuação na integração do corpo de Cristo, na formação de sua unidade.
- Devemos, no entanto, observar, antes de entrarmos no estudo geral dos dons, observar que se tratam de “dons”, ou seja, estamos diante de uma “doação” de Deus. Ora, como explicam os juristas, somente ocorre uma doação quando além de alguém disposto a dar algo, outra pessoa aceite receber o que é dado. OBS: Isto fica bem esclarecido na leitura do artigo 539 do Código Civil, que assim dispõe: “O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo”.
- Tem-se, portanto, que, em se tratando de uma doação, a entrega de dons aos salvos pelo Senhor tem duas características fundamentais: a primeira, que se trata de um ato de liberalidade de Deus, ou seja, algo que decorre de Sua exclusiva vontade soberana, de modo que quem dá e o que dá é exclusivamente o Senhor, que não está obrigado a entregar este ou aquele dom a quem quer que seja. É por isso que, como já vimos supra, é dito que o Senhor dá a quem quer, escolhe o dom que quiser a quem quiser.
- A segunda característica é que os dons devem ser queridos por quem os recebe, pelo chamado donatário. Não há que se falar em entrega de dons se o receptor não aceitar recebê-lo. É por este motivo que se torna indispensável a busca dos dons, como recomenda o apóstolo Paulo tanto em relação aos dons espirituais (I Co.12:31), como em relação aos dons ministeriais (I Tm.3:1).
- Esta aceitação, ademais, não deve existir apenas para receber o dom, mas, também, no momento de seu exercício, pois, uma vez recebido o dom, deve ser ele devidamente cuidado e mantido em exercício pelo receptor, segundo a graça de Deus, como também deixa claro o apóstolo Paulo em Rm.12:6-8.
- No direito, entende-se que o donatário que for ingrato ao doador pode, em determinadas circunstâncias, perder o dom que lhe foi dado. O doador pode revogá-lo. O mau exercício dos dons pode fazer com que o percamos ou, pelo menos, não seja mais ele posto em exercício, como, aliás, vemos, claramente, tanto na parábola dos talentos quanto na parábola das minas, em que o mau e negligente servo perdeu aquilo que se lhe havia sido dado (Mt.25:28-30; Lc.19:24-26).
- Muitos objetam este pensamento, invocando o que se encontra escrito em Rm.11:29, onde o apóstolo Paulo afirma que os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento. Assim, uma vez tendo o Senhor dado um dom a alguém, não poderia Se contradizer, retirando o dom da pessoa.
- O referido texto, entretanto, está a falar da eleição de Israel como reino sacerdotal e povo santo. Deus não Se arrependeu de fazer de Israel Sua propriedade peculiar dentre os povos e, apesar da desobediência de Israel, este propósito divino será cumprido, o que ocorrerá no reino milenial de Cristo, mas a rejeição de Israel ao Messias fez com que o Senhor deixasse de ter a Israel como Seu povo durante a dispensação da graça, passando a ter como tal a Igreja. Assim, perdeu Israel a condição que Deus lhe havia dado ou, pelo menos, deixou de ter tal condição de modo ativo.
- Assim, Deus, na entrega dos dons, que é uma doação, não está preso ao homem, mas, sim, mantém a Sua soberania, podendo, pela ingratidão do homem, revogar ou, ao menos, tornar inativa a dádiva concedida. Seus propósitos serão cumpridos mas aqueles que não forem obedientes, mesmo tendo recebido dons, perdê-los-ão ou, pelo menos, terão a inatividade dos referidos dons, que são sempre exercidos pela graça de Deus, até que venham a se arrepender, até que venham a se converter dos seus maus caminhos.
II – OS DONS ESPIRITUAIS POSTOS À DISPOSIÇÃO DA IGREJA
- Iniciemos a apresentação dos dons que serão objeto de estudo neste trimestre pelos dons espirituais, que serão a matéria do primeiro bloco deste trimestre.
- Uma das operações do Espírito Santo entre os homens é a de transmitir poder a fim de que o nome do Senhor seja glorificado. A transmissão de poder dá-se a partir do revestimento de poder, que é o batismo com o Espírito Santo, conforme dito pelo próprio Jesus em Lc.24:49. Entretanto, a transmissão de poder não se limita ao batismo com o Espírito Santo.
Ao contrário do que muitos crentes acham, o batismo com o Espírito Santo é apenas o início desta transmissão de poder, o estágio inicial para uma vida de consagração a Deus e de vaso para que o poder de Deus se manifeste a favor da humanidade. Não é por outro motivo que o batismo com o Espírito Santo é o primeiro ato revelador da Igreja para os homens, no limiar do livro de Atos dos Apóstolos.
Que tenhamos este entendimento para que, ao contrário do que anda ocorrendo na igreja dos nossos dias, os crentes não se satisfaçam com o batismo com o Espírito Santo e encerrem sua jornada espiritual no seu primeiro degrau.
OBS: É elucidativo verificar que uma das reuniões da Congregação Cristã no Brasil, denominação pentecostal criada em 1910, no Brasil, também sob o impacto do avivamento da rua Azusa, é chamada de “busca de dons”, a refletir, portanto, qual era o pensamento e a mentalidade vigentes no início do avivamento que deu início ao movimento pentecostal mundial, pensamento e mentalidade que precisam ser resgatados na atualidade, máxime quando se aproxima o dia do arrebatamento da Igreja. Como nos alerta a Palavra de Deus, “quem é santo, seja santificado ainda” (Ap.22:11 “in fine”), “porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé.” (Rm.13:11 “in fine”).
- Os dons espirituais são chamados, no original grego, de “charismata”(χαρισματα), palavra que significa “graças”, ou seja, os dons espirituais são dádivas, são favores imerecidos que Deus concede aos homens que estão dispostos a servi-l’O e que, por obediência, já alcançaram o batismo com o Espírito Santo.
A verificação do significado da palavra “charismata” é muito importante, pois demonstra, de forma cabal, que os dons espirituais são concessões divinas, decorrem do exercício da Sua infinita misericórdia, não havendo, portanto, qualquer merecimento, qualquer mérito por parte daqueles que são aquinhoados pelo Espírito Santo com um dom espiritual. O dom espiritual é concedido não porque alguém seja mais espiritual ou melhor do que outro, mas em virtude da soberana vontade do Senhor. Quem o diz não somos nós, mas a própria Palavra de Deus: “Mas um só mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.” (I Co.12:11).
- Nem sempre temos esta noção na igreja. Muitos são os que acham que os portadores de dons espirituais são crentes superiores aos demais, que têm um nível maior de espiritualidade e que, em razão disto, desfrutam de uma posição diferenciada no meio da comunidade. Este pensamento, inclusive, tem feito com que muitos crentes andem à procura destes irmãos a fim de que obtenham curas divinas, maravilhas, sinais ou profecias, num comportamento totalmente contrário ao que determina a Palavra de Deus, que ensina que os sinais seguem os crentes e não os crentes correm atrás de sinais (Mc.16:17,20). Jesus não aprovou esta conduta, típica dos judeus formalistas e descrentes (Mt.12:38,39).
Nenhum outro sinal devemos buscar, como disse nosso Senhor e Salvador, senão a Sua ressurreição, que é a garantia da aceitação do Seu sacrifício e do perdão dos nossos pecados. Creiamos em Deus e em Seu Filho(Jo.20:29). OBS: “…Um ministro verdadeiramente cristão buscará muito mais fazer o bem espiritual para as almas dos homens do que obter para si os maiores aplausos…” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Conciso, p. 1524.In: Master Christian Library, CD-ROM) (tradução nossa). Como este ensino precisa ser rememorado por muitos ministros do evangelho nos dias de hoje.
- A posse dos dons espirituais é, sem dúvida, uma grande bênção que Deus nos dá, é mais um talento concedido pelo Senhor aos Seus servos, é mais uma ferramenta que é colocada à disposição da Igreja através de um vaso escolhido. Indubitavelmente, devemos, como servos do Senhor, buscar os dons espirituais, pois eles indicam que há um crescimento espiritual do seu detentor, mas por vontade e misericórdia de Deus, para a Sua glorificação e a edificação espiritual do povo de Deus, menina dos olhos do Senhor (Zc.2:8).
Quem recebe um dom espiritual deve estar consciente que, em razão deste dom, não foi feito melhor dos que os demais irmãos, mas, bem ao contrário, foi-lhe dada uma responsabilidade ainda maior, de forma que deverá, sempre, usar este dom conforme a vontade do Senhor e de acordo com as Escrituras, pois deve sempre exercer este dom para a glória do nome do Senhor.
OBS: Neste ponto, aliás, é interessante observar o que diz a respeito a Constituição ‘Lumen Gentium”, o principal documento doutrinário do Concílio Vaticano II, que estabeleceu as diretrizes da Igreja Romana a partir da década de 1960: “…Estes carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratidão e consolação, pois que são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da Igreja.…” (Lumen Gentium 12. In: VIER O.F.M, Frederico. Compêndio do Vaticano II, p.53).
Também oportuno é o ensinamento do prof. Felipe Aquino, católico romano: “…A nossa vida espiritual tem duas dimensões, primeiro uma dimensão voltada para dentro de nós e depois outra voltada para fora. Na segunda dimensão está a Igreja, é a dimensão de comunidade, a dimensão de caminhar com o povo de Deus, e Dês nos concede então os dons carismáticos, que não são necessariamente para nós mas para os outros, por exemplo o dom da sabedoria que não é a sabedoria para alimentar a nós mas para alimentar os outros, não apenas para nos orientar, o dom da fé, da ciência, o dom de cura, de milagres que são dons como diz São Paulo para o bem da Igreja, para os outros, para utilidade de todos.
Quando nós exercemos os dons carismáticos não quer dizer que já somos santos, porque Deus pode usar quem Ele quiser da maneira que quiser, mas é preciso dizer que quanto mais santo a pessoa for mais fácil é para Deus usar essa pessoa, por isso os dons carismáticos não estão separados dos dons de santificação, e eu até diria que existe uma grande interface entre eles, quanto mais a pessoa vive os dons de santificação mais aptidão ela tem para viver os dons carismáticos. Na dimensão interior estão os dons de santificação.” (Dons carismáticos. Disponível em: cancaonova.com/portal/canais/rcc/pg_dons_carism.php?menu_id=9 Acesso em 31 dez. 2003)
- Somente possuem dons espirituais aqueles que forem, antes, revestidos de poder. Este princípio bíblico, nem sempre ensinado pelos estudiosos da Bíblia Sagrada, decorre do próprio teor das Escrituras. Não vemos os discípulos exercerem os dons espirituais antes de serem revestidos de poder. Na nossa atual dispensação, é necessário que o Espírito Santo reparta os dons espirituais conforme a Sua vontade entre os crentes, mas somente aqueles crentes que já estiverem envolvidos pelo Espírito, a quem se transmitiu poder, transmissão esta que é feita única e exclusivamente por força do batismo com o Espírito Santo. Todos os crentes que são mencionados como portadores de dons espirituais no livro de Atos dos Apóstolos, são crentes que foram, antes do exercício destes dons, revestidos de poder, batizados com o Espírito Santo. É o que vemos na vida de Pedro, Paulo, Filipe e Estêvão, para ficarmos nos principais exemplos.
- Os dons espirituais, portanto, são dádivas, poderes que o Espírito Santo concede a alguns crentes, a fim de que seja evidenciada, no meio do povo de Deus, a presença do Senhor e seja confirmada a pregação do Evangelho (Mc.16:20), ele próprio poder de Deus para a salvação de todo aquele que nele crê (Rm.1:16).
Por isso dizemos que o crente pentecostal, ou seja, o crente que crê na operação ainda hoje do Espírito Santo como agente transmissor de poder divino na pregação do Evangelho, é um crente que crê no Evangelho completo, pois a pregação do evangelho abrange não só a notícia de que Jesus é o Senhor e Salvador do mundo e que é preciso n’Ele crer para alcançar o perdão dos pecados e a salvação da alma, obtendo, assim, a vida eterna, como também esta mensagem é confirmada da parte de Deus mediante a operação do Seu poder, através do batismo com o Espírito Santo e, depois, dos dons espirituais, cuja recepção se torna possível em virtude do revestimento de poder, do mergulho, da imersão do ser do crente no fogo do Espírito de Deus, no seu completo envolvimento com a terceira Pessoa da Trindade Divina.
- Uma pregação do evangelho, sem a confirmação dos sinais, é um evangelho incompleto. Não resta dúvida de que se trata de uma genuína pregação do Evangelho, pois o Evangelho é poder de Deus para salvação e, portanto, não está no pregador a capacidade para o convencimento dos pecadores, para o seu arrependimento e para o novo nascimento, mas, sim, na virtude que emana da própria Palavra de Deus, que é mais penetrante do que espada alguma de dois gumes e que penetra na divisão da alma e do espírito e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração (Hb.4:12).
Entretanto, tal pregação será, sempre, algo que ficará sem a devida confirmação, sem o devido respaldo, que ateste que o que foi falado não foi apenas palavra persuasiva de sabedoria humana, uma grande exposição retórica, um discurso emocionador, mas demonstração de Espírito e de poder (I Co.2:4). Em o nosso cotidiano, temos algo que pode bem ilustrar esta situação: o serviço postal abre-nos a possibilidade de, quando encaminhamos um telegrama, termos a recepção de uma confirmação. Quando optamos pelo recebimento da confirmação, temos a certeza de que a correspondência foi entregue, podemos até usar a confirmação como prova caso surja algum problema posterior. Se não temos a confirmação, temos a ideia de que a correspondência tenha sido entregue, mas não teremos como provar. Assim é a pregação do evangelho que é confirmada pela demonstração de Espírito e de poder.
- Devemos, também, aqui distinguir os dons espirituais dos dotes naturais, dos talentos individuais que alguém tenha. Sabemos que todas as coisas pertencem ao Senhor (Sl.24:1) e que somos simples administradores do que Deus nos concede desde quando passamos a existir como seres humanos, como vimos no estudo do trimestre anterior, a respeito da doutrina da mordomia (Gn.1:26-28).
Assim, tudo que achamos ter não é nosso, mas, sim, algo que nos foi confiado pelo Senhor. Entretanto, não podemos confundir os dons espirituais, que são “…meios pelos quais o Espírito revela o poder e a sabedoria de Deus, através de instrumentos humanos, que os recebem e bem usam…”(BÉRGSTEN, Eurico. Teologia sistemática: doutrina do Espírito Santo, do homem, do pecado e da salvação, p.39-40) , com habilidades que Deus tenha concedido a alguém, que as possua naturalmente, que façam parte da sua natureza. Assim, por exemplo, sabemos que há pessoas que têm habilidades musicais ou artísticas, alguém que tem uma memória prodigiosa, outros que têm uma capacidade de liderança, e assim por diante, que são, sim, como sabemos, dádivas dadas por Deus aos indivíduos, mas que são dádivas inseridas na natureza de cada um, sem que, para tanto, tenha havido a operação sobrenatural de Deus, através do Espírito Santo, sem que tenha existido o envolvimento, o revestimento de poder.
Tais dotes naturais não podem, portanto, ser considerados como dons espirituais, pois são talentos, dotes, dádivas naturais que, como tudo, provém de Deus, mas sem o sentido que aqui estamos estudando. São habilidades, tendências e dotes que são dados ao homem natural, ou seja, a qualquer ser humano, qualidades que existem independentemente de um relacionamento de comunhão entre Deus e o homem. Já os dons espirituais, porém, são manifestações sobrenaturais do poder de Deus através de um indivíduo, é o próprio Espírito Santo atuando, através de um servo do Senhor, para a realização de ações que fogem às leis naturais e que são feitos que não se encontram na natureza do indivíduo, mas algo que foi adquirido pelo instrumento de Deus pela Sua própria e soberana vontade.
- Os dons espirituais, também, distinguem-se das qualidades decorrentes da conversão, do novo nascimento. Quando uma pessoa aceita a Cristo como seu Senhor e Salvador passa por uma completa transformação, pois o trabalho do Senhor é este mesmo: fazer com que as pessoas passem da morte para a vida (Jo.5:24), saiam das trevas para a luz (I Pe.2:9). Como disse Paulo, quem está em Cristo nova criatura é, as coisas velhas passaram e tudo se fez novo (II Co.5:17). Em razão disto, a pessoa nascida de novo, convertida ao Senhor, passa a ter um novo caráter, tendo novas qualidades e realizando outras obras (Gl.5:22), o que caracteriza o que se denomina, nas Escrituras, de fruto do Espírito Santo, algo que será objeto de lições futuras neste trimestre. Não obstante, este fruto do Espírito não se confunde com os dons espirituais.
O fruto do Espírito está presente em toda pessoa convertida, em toda nova criatura, em todo filho de Deus, o que não acontece com os dons espirituais, que são dados individualmente, não a todos mas apenas a alguns dentre os servos do Senhor, pois a Bíblia nos ensina que é repartido particularmente (I Co.12:11), enquanto que o fruto é geral, tanto que Jesus disse que, por ele, seriam identificáveis os Seus seguidores (Mt.7:17-20).
- Os dons espirituais não se confundem, ainda, com os dons ministeriais, também chamados de dons de Cristo, ainda que sejam também dádivas divinas deixadas à disposição da Igreja e que, neste sentido, serão também objeto de estudo neste trimestre. A distinção está na própria forma pela qual as Escrituras mencionam e tratam cada uma destas figuras. Enquanto que os dons espirituais são mencionados como sendo repartidos particularmente pelo Espírito Santo, segundo a Sua vontade, para a edificação espiritual dos crentes, para utilidade dos crentes (I Co.12:4-11), os dons ministeriais são tratados como dádivas vindas da parte de Jesus, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação da igreja (Ef.4:11,12), ou seja, os dons ministeriais são dádivas que são concedidas à igreja pelo seu máximo governante, pela sua cabeça que, como comandante-em-chefe da Igreja, escolhe, dentre os Seus servos, aqueles que devem coordenar, dirigir e orientar o povo de Deus.
- Os dons ministeriais não deixam, assim, de ser dádivas sobrenaturais, como são os dons espirituais, mas sua função, no corpo de Cristo, é diferente: não se trata de operações episódicas, de demonstrações esporádicas e temporalmente limitadas, com vistas a um consolo, uma exortação, o suprimento de uma necessidade ou uma instantânea manifestação do poder de Deus para a igreja e, mesmo, para os não salvos, mas de uma atividade contínua, no meio do povo de Deus, para que a igreja cumpra com suas tarefas neste mundo, quais sejam, a evangelização e o aperfeiçoamento dos salvos.
Enquanto que, com os dons espirituais, de forma sobrenatural, os crentes são usados pelo Senhor como instrumentos para a manifestação de Seu poder, através dos dons ministeriais, Cristo concede à Igreja homens que, diuturnamente, estarão servindo ao corpo de Cristo, que serão, eles mesmos, verdadeiros dons para a igreja. Muito oportuno, aliás, o título que R.N. Champlin deu, na sua Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, para o verbete que estuda os dons ministeriais: ” homens como dons espirituais”. Os dons ministeriais são indivíduos, seres humanos que Deus destaca para que suas vidas passam a ser um serviço para a igreja do Senhor.
III – OS DONS MINISTERIAIS
- Vistos os dons espirituais, vejamos, ainda que sucintamente, os dons ministeriais, que serão a matéria do segundo bloco deste trimestre.
- Os dons ministeriais são dádivas concedidas por Cristo com a finalidade de aperfeiçoar os santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, a fim de que os crentes atinjam a unidade da fé, o conhecimento do Filho de Deus, o nível de varões perfeitos, a medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:12,13). Vemos, portanto, que os dons ministeriais têm, por finalidade, trazer maturidade espiritual aos crentes, prepará-los convenientemente para o exercício das tarefas cometidas pelo Senhor a cada um deles. Os dons ministeriais, ao contrário dos dons ditos “assistenciais”, visam criar condições nos outros crentes para que eles, sim, exerçam o dom “assistencial” que recebeu do Espírito Santo.
- Os dons ministeriais são dádivas concedidas por Cristo com a finalidade de aperfeiçoar os santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, a fim de que os crentes atinjam a unidade da fé, o conhecimento do Filho de Deus, o nível de varões perfeitos, a medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:12,13). Vemos, portanto, que os dons ministeriais têm, por finalidade, trazer maturidade espiritual aos crentes, prepará-los convenientemente para o exercício das tarefas cometidas pelo Senhor a cada um deles. Os dons ministeriais, ao contrário dos dons ditos “assistenciais”, visam criar condições nos outros crentes para que eles, sim, exerçam o dom “assistencial” que recebeu do Espírito Santo.
- Os dons ministeriais estão elencados na relação de Ef.4:11 e, de pronto, devemos distinguir os dons ministeriais dos “títulos ministeriais” ou dos “cargos eclesiásticos”. Em os nossos dias, muitos têm confundido estas duas coisas, que são completamente diferentes. O dom é uma dádiva de Cristo, é um dom que vem diretamente do Senhor para o crente, dom este que é percebido pelo crente através da comunhão que tem com Deus e pela presença do Espírito Santo na sua vida e que independe de qualquer reconhecimento humano, mesmo da igreja local.
- Já os “títulos ministeriais” e os “cargos eclesiásticos”, ao revés, são posições sociais criadas dentro das igrejas locais, posições estas que, em sua nomenclatura, muitas vezes estão baseadas na relação de Ef.4:11, como a indicar que o seu ocupante tem o referido dom ministerial, mas que, nem sempre, corresponde a este dom. Como a igreja local, via de regra, é também uma organização humana, acabam sendo criados “títulos” e “posições” com o propósito de esclarecer a hierarquia administrativa, a própria estrutura de governo da organização eclesiástica, dados que, se apenas refletem uma necessária ordem que deve existir em todo grupo social, nada tem que ver, a princípio, com os dons ministeriais.
- Na igreja primitiva, notamos, claramente, que, apesar da existência de uma organização da administração das igrejas locais (At.14:23), o que é necessário já que cada igreja local precisa ter governo, como dissemos supra, também não é menos notado que não havia muita preocupação com “títulos” ou “posições”, tanto que, no texto sagrado, os incumbidos do governo da igreja, com exceção dos apóstolos (estes próprios assim estabelecidos pelo próprio Jesus, cujos requisitos se encontram em At.1:21,22) e dos diáconos (At.6:5,6, cuja função é nitidamente administrativa e material), são chamados de vários nomes, indistintamente, como “presbíteros” (I Pe.5:1), “anciãos” (At.14:23) e “bispos” (At.20:28; Fp.1:1), prova de que não havia, àquela época, uma “carreira administrativo-eclesiástica”, como se tem hoje em dia.
- Os dons ministeriais encontram-se elencados em Ef.4:11 e são cinco, a saber: apóstolo, profeta, evangelista, pastor e mestre (ou doutor). Cada um tem uma finalidade específica e se completam na tarefa de levar os santos à perfeição. Como estudaremos cada um em lição específica, abster-nos-emos de, neste momento, explicarmos cada um. O importante, por enquanto, é sabermos que cada um deles é absolutamente necessário e que se completam, de modo que a Igreja não poderá se edificar em amor sem a concorrência de todos eles.
- Por fim, temos, ainda, uma outra classe de dons do Espírito Santo que não se confundem com os dons espirituais, que são os dons chamados de “serviçais”, “dons de serviço” ou, ainda, como denomina o pastor Antonio Gilberto, “dons espirituais de ministérios práticos”, constantes da relação de Rm12:6-8, que se distinguiriam dos outros dons ministeriais porque seriam relacionados mais às ações dos crentes, à prática cristã, não tendo em vista o aperfeiçoamento espiritual dos crentes, como ocorre com os outros dons, que aqui denominamos de “dons ministeriais”, estes elencados em Ef.4:11.
- Há uma outra lista de dons que se encontra em I Co.12:28, onde há uma mistura tanto de dons espirituais quanto de dons ministeriais e dons assistenciais, pois se fala ali em apóstolos, profetas, doutores [dons ministeriais], milagres, dons de curar [dons espirituais], socorros, governos [dons assistenciais] e variedades de línguas [dom espiritual].
- É bom salientarmos que estas quatro listas não exaurem os dons que o Senhor concede à Igreja. O pastor norte-americano Ron Phillips, por exemplo, elenca 25 (vinte e cinco) dons, reunindo, além dos constantes das listas já mencionadas, outros, a saber: graça (Rm.12:6; Ef.3:7; 4:7; I Pe.4:10,11), disposição para enfrentar o martírio (I Co.13:3), intercessão (Rm.8:26,27), hospitalidade (I Pe.4:9) e celibato (I Co.7:8) (Cf. 25 Dons do Espírito Santo. Disponível em: http://www.charismamag.com/spirit/supernatural/17428-the-gift-list Acesso em 17 fev. 2014) (texto em inglês). O que não se pode admitir, porém, é que se elenquem dons que não estão registrados nas Escrituras.
- O Senhor deu dons aos homens e, em especial à Igreja, joias preciosas que aí estão para adornar a noiva do Cordeiro, que tem de comparecer, nas bodas do Cordeiro, como “uma esposa preparada” (Ap.19:7), como “uma esposa ataviada para o seu marido” (Ap.21:2). Por isso, os dons não são uma opção, uma escolha de quem pertence ao corpo de Cristo. Todos nós devemos buscá-los com afinco e dedicação (I Co.12:31), porque noiva alguma quer chegar à presença do noivo sem estar devidamente adornada, sem estar devidamente pronta.
- É verdade que cabe ao noivo escolher que dons dar à sua noiva, que preciosidades dar a cada membro da Igreja, mas isto não exime a noiva de buscar se adornar da melhor maneira possível com aquilo que o Senhor nos deu. Por isso, busquemos os dons espirituais, atitude que, lamentavelmente, está rareando cada vez mais entre os que cristãos se dizem ser.
- O amado irmão quer participar das bodas do Cordeiro? Busque os dons espirituais e ministeriais e, desta forma, certamente não correrá o risco de ficar de fora da festa nupcial que se encontra preparada, por não estar convenientemente trajado (Mt.22:11-13). Pense nisto! OBS: “…Nunca a Igreja de Cristo precisou tanto dos dons espirituais para discernimento do que está diante dos seus olhos. Uma igreja mal preparada, mal ensinada e mal doutrinada, sem os dons espirituais poderá enganar-se facilmente com as astutas ciladas do diabo…” (SILVA, José Osmar da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.144).
Ev. Dr.Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/2T2014_L1_caramuru.pdf
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