LIÇÃO Nº 9 – A VERDADEIRA SABEDORIA SE MANIFESTA NA PRÁTICA
Título
INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo da epístola universal de Tiago, estudaremos hoje a passagem de Tg.3:13-18, quando o irmão do Senhor nos fala a respeito da verdadeira sabedoria.
- A vida cristã depende da sabedoria que vem do alto.
I – MOSTRANDO A VERDADEIRA SABEDORIA
- Na continuidade do estudo da epístola de Tiago, hoje estudaremos a passagem de Tg.3:13-18, quando o irmão do Senhor nos mostra outro obstáculo que pode perturbar a nossa peregrinação terrena rumo ao céu: a sabedoria terrena.
- Depois de o irmão do Senhor ter nos mostrado que é necessário que provemos nossa fé mediante a prática de boas obras, começa a elencar alguns obstáculos, impedimentos que podem impedir que sejamos perseverantes e alcancemos a salvação na glorificação, no dia do arrebatamento da Igreja.
- O primeiro obstáculo, estudado na lição anterior, é a língua, este membro que expressa o que há em nosso interior, um elemento que nos permite verificar se estamos, ou não, em comunhão efetiva com o Senhor.
- Após ter falado sobre este pequenino mas terrível membro de nosso corpo, o irmão do Senhor, então, mostra-nos um outro obstáculo que pode perturbar a nossa caminhada de fé, qual seja, a sabedoria terrena.
- Tiago, como que retornando ao princípio de seu argumento a respeito da língua, quando falou a respeito da responsabilidade dos mestres, faz uma indagação: Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria (Tg.3:13).
- Mais uma vez, Tiago enfatiza que somente poderemos mostrar o que há em nosso interior por intermédio de nosso comportamento, de nossas atitudes, de nosso porte diante dos demais seres humanos. Ninguém pode se dizer sábio e entendido, sabedor das coisas, se não o demonstrar por suas obras, por suas ações, por seu comportamento, por sua conduta.
- Vivemos dias em que as pessoas querem prevalecer por seus títulos, por suas posições, pelo que dizem, mas o irmão do Senhor diz que tudo isto é sem sentido, sem qualquer valor. Não devemos nos impressionar com o que as pessoas dizem, com a aparência que ostentam, notadamente no que se refere ao saber, ao conhecimento, e, neste ponto, em especial, o conhecimento das coisas de Deus.
Muito pelo contrário, devemos, antes de nos deixar impressionar por uma boa retórica, pelos anéis nos dedos, pelos títulos, verificar se aquela pessoa realmente conhece a Deus, se tem um viver que revele que tem comunhão com o Senhor.
- Neste sentido, aliás, não podemos nos esquecer que “conhecer” entre os israelitas tem um sentido muito diverso daquele que é dado pelos gregos e que passou para a própria mentalidade ocidental.
Enquanto que, para os gregos, “conhecer” significa “domínio intelectual” sobre um determinado assunto, representa a absorção de uma teoria, de uma contemplação, de uma meditação a respeito de um determinado assunto; para os israelitas, “conhecer” significa “intimidade”, “experiência”, uma vivência que leve a um envolvimento, a um compartilhamento existencial.
- É neste sentido, aliás, que, por vezes, nas Escrituras, “conhecer” significa a própria manutenção de relacionamento íntimo entre homem e mulher, como se vê em textos como Gn.4:1 e Mt.1:25, pois, neste relacionamento, forma-se uma unidade no casal, um total envolvimento entre os cônjuges.
- Ora, é este conhecimento que é o objetivo da própria missão salvífica de Cristo Jesus, que veio restaurar a comunhão perdida entre Deus e o homem por causa do pecado. Na Sua oração sacerdotal, o Senhor afirma, com todas as letras, que o objetivo de Sua missão é fazer com que sejamos um com Ele, assim como Ele é um com o Pai (Jo.17:21).
- Ora, se assim é, diz o irmão do Senhor, se alguém se considera sábio e entendido no meio do povo de Deus, deve demonstrar que tem este conhecimento, ou seja, que tem plena comunhão com o Senhor, que é um com Deus por Cristo Jesus, através de um “bom trato”, através de “obras em mansidão de sabedoria”.
- Somente poderemos demonstrar que somos sábios e entendidos se, por primeiro, tivermos um “bom trato”. “…No grego é usado o termo ‘anastrophe’ [άναστροφή]. ‘conduta’, ‘comportamento’, o caráter geral de uma vida, algo que é indicado, nas páginas do N.T.,, pela metáfora do ‘andar’, que é de uso mui frequente.
O ‘sábio’ crente deve ser pessoa de uma conduta repleta de boas obras, efetuadas em mansidão. Somente a sabedoria divina, uma qualidade divinamente transmitida, pode tornar bem-sucedida a vida do crente. É algo por demais exigente para a personalidade humana sem ajuda.…” (CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v.6, com. Tg.3:13, p.59).
- A sabedoria, e Tiago já nos disse isto em sua epístola, é algo que vem diretamente de Deus, que a todos dá liberalmente e não lança em rosto (Tg.1:5). Trata-se, portanto, de algo que não nasce no homem, mas que é trazida da parte do Criador, e que se adquire a partir do momento em que se passa a temer o Senhor (Sl.111:10; Pv.9:10).
- Quem se diz sábio e entendido, portanto, é pessoa que há muito iniciou a sua caminhada de temor a Deus, sendo, portanto, pessoa que obedece ao Senhor, guarda os Seus mandamentos e, deste modo, tem uma vida piedosa, uma vida que se guia pelos ditames estabelecidos por Deus.
- Uma pessoa obediente a Deus, naturalmente, faz tudo o que Ele manda e, desta forma, não pode ter senão boas obras. Uma pessoa que teme ao Senhor, que dá ouvidos à Sua Palavra, praticando-a, não pode senão ser alguém que imita a Cristo Jesus, que, como diz o apóstolo Pedro na casa de Cornélio, “andava fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At.10:38).
- O sábio e entendido não é aquele que ostenta títulos acadêmicos, que se intitula “doutor em divindade”, que tem amplo conhecimento a respeito das variantes textuais das Escrituras, que domina as línguas originais, mas, sim, aquele que tem uma comunhão íntima com o Senhor, que faz a Sua vontade, que está completamente envolvido pelo Espírito Santo, que mantém crucificado o seu ego e vive como nova criatura em Cristo Jesus, não mais vivendo para si, mas vivendo a vida que agora vive na fé do Filho de Deus (Gl.2:20).
- Não estamos aqui a tomar uma postura anti-intelectualista que, infelizmente, embora atenuada nos últimos anos, ainda tem dominado muitas mentes entre os cristãos pentecostais. É evidente que, para que se tenha comunhão com o Senhor e se faça o que Ele manda, torna-se imperioso termos conhecimento do que Ele quer, o que somente se obtém mediante a meditação diária nas Escrituras (Sl.1:1,2), pois são elas que testificam fidedignamente do Senhor Jesus (Jo.5:39).
- É um comportamento totalmente contrário ao aqui preconizado o que muitos fazem, ou seja, abandonarem por completo a leitura bíblica e o estudo da Palavra de Deus, buscando apenas construir sua vida espiritual com base em experiências emocionais, em manifestações sobrenaturais, revelações ou manifestações de dons espirituais. Uma conduta desta natureza leva ao fanatismo, à cegueira espiritual e ao engano, pois, como nos adverte o apóstolo Paulo, o diabo sabe muito bem se travestir de anjo de luz e usa os seus agentes como ministros de justiça (II Co.11:13-15).
- Não se pode ser sábio e entendido se não se tiver contato com a Bíblia Sagrada, se não nos fizermos ouvintes e cumpridores de seu teor. Todavia, o que Tiago está a nos ensinar aqui é que não podemos ser simplesmente ouvintes, termos domínio intelectual do que está na Bíblia, mas aplicá-la em nossas vidas, sermos efetivos praticantes da Palavra e não ouvintes esquecidos (Tg.1:22).
- Quando realmente nos tornamos praticantes da Palavra de Deus, quando fazemos da Bíblia não só regra de fé, mas também regra de prática, naturalmente nosso comportamento, nossa conduta será um “bom trato”e nossas obras serão realizadas em “mansidão de sabedoria”.
- Temos, aqui, então, uma outra característica do sábio e entendido. Ele não só tem uma boa conduta, ele não só faz o bem, mas também suas obras são feitas em “mansidão de sabedoria”.
- Esta expressão de Tiago remete-nos às palavras do Senhor Jesus, quando Ele mesmo, num instante de êxtase espiritual, agradece ao Pai por ter revelado as coisas espirituais aos pequeninos, ocultando-as dos sábios e entendidos (Mt.11:25,26; Lc.10:21).
- Esta expressão de alegria espiritual de Cristo, segundo Lucas, deu-se após o Senhor ter ouvido o relato daqueles setenta discípulos que tinham ido preparar o caminho do Senhor no restante de Seu ministério.
Diante de tal relato, o Senhor, ao verificar a eficácia do poder de Deus e o cumprimento do desígnio divino de separar um povo para continuar a Sua obra após a Sua subida aos céus, não Se conteve e agradeceu ao Pai por ter dado a verdadeira sabedoria àqueles homens, que, aos olhos da sociedade, não tinham valor algum, mas que estavam sendo comissionados para o mais sublime trabalho dado aos homens na face da Terra, que era a pregação do Evangelho.
- Jesus mostra, claramente, que aquilo que havia sido oculto aos “sábios e entendidos”, ou seja, aos escribas, aos doutores da lei, havia sido revelado a pessoas que, humana e socialmente falando, não tinham qualquer qualificação, não podiam ser consideradas doutas ou entendidas, mas, que, na sua pequenez aos olhos dos homens, haviam sido devidamente escolhidas e comissionadas para ter a real sabedoria, para ter o real conhecimento, que é a comunhão com Deus, a fonte de toda a sabedoria.
- Os setenta voltaram regozijando, porque, em nome de Cristo, haviam feito maravilhas, haviam feito boas obras. Eles tinham compreendido que a comunhão com Deus é a forma pela qual aprendemos a viver sobre esta face da Terra e podemos, sem impedimentos, rumar ao céu.
- O Senhor Jesus, ao perceber esta compreensão por parte de Seus discípulos, agradeceu ao Pai, porque isto era uma revelação que provinha diretamente do céu e que fazia daqueles homens os reais sábios e entendidos, pois a sabedoria verdadeira vem do alto, provém de Deus.
- Por isso, mesmo, o Senhor Jesus, então, dá a receita que deveria ser seguida por todos quantos pequeninos que quisessem se tornar sábios e entendidos: “…aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mt.11:29).
- É por este motivo que Tiago aqui nos fala que, quem é sábio e entendido, mostra as suas obras “em mansidão de sabedoria”. O irmão do Senhor está a nos mostrar que quem é sábio e entendido aprende com Jesus e, por aprender com o Mestre dos mestres, passa a ser manso e humilde de coração e, deste modo, suas obras somente podem ser feitas em “mansidão de sabedoria”.
- A verdadeira sabedoria manifesta-se em mansidão, ou seja, em humildade, como já tivemos ocasião de estudar em lição anterior neste trimestre, pois o sábio, antes de tudo, reconhece que nada sabe e que precisa aprender com quem sabe e Este que sabe outro não é senão o Senhor Jesus, que foi feito sabedoria para nós por Deus (I Co.1:30).
- “…Na aceitação de Cristo, somos elevados logo a uma situação ótima e gloriosa. Os que eram insensatos, n’Ele recebem sabedoria; os que eram fracos, n’Ele obtêm justiça; os ignóbeis, n’Ele se tornam santificados e os desprezados, n’Ele têm a redenção.(…). Cristo é para nós a completa e perfeita biblioteca, instruindo-nos no ‘abc’ de Deus, como também podendo fazer-nos mais sábios que Salomão, pois Ele é maior do que Salomão, Mt.12:42.
As bibliotecas em geral contêm sabedoria e ciência mas geralmente trazem enfado e tristeza como disse Salomão: ‘De fazer muitos livros não há fim, e o muito estudar é enfado na carne’, Ec.1:18 e 12:12. Cristo, porém, é um valor diferente que alivia o cansado, pois Ele é o mistério de Deus em que existem escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência, Cl.2:2,3…” (NYSTRÖM, Samuel. Jesus Cristo, nossa glória. 2.ed., pp.33-5).
- O sábio e entendido, tendo aprendido com Jesus, apresenta-se como uma pessoa mansa e humilde de coração. Não se envaidece pela comunhão que tem com o Senhor, mas, nesta comunhão, sabe, por experiência própria, que é menos que nada diante do Criador de todas as coisas e que, pela graça e misericórdia divinas, é que se mantém unido a Deus. Por isso mesmo, por experimentar o Senhor a cada instante de sua vida, reconhece a grandeza do Senhor e a sua própria pequenez, de modo que não permite que seu ego se manifeste, mantendo-o crucificado.
- O resultado deste conhecimento de Deus, desta intimidade com o Senhor, é uma atitude de humildade, de mansidão, de tolerância para com o próximo, cuja debilidade é também conhecida a partir da sua própria, de sorte que não há espaço para a arrogância, a soberba e o orgulho.
- Vemos bem esta figura na ilustração trazida por Salomão em Ec.9:14-16, onde Salomão cita um sábio pobre que, por seu conselho, livrou a sua pequena cidade do exército de um grande rei, mas que, assim como era anônimo antes da dificuldade, assim permaneceu depois que houve o livramento. No entanto, diz o sábio rei de Israel, apesar de nem sequer ter sido reconhecido, este sábio pobre mostrou, com suas ações, que melhor é a sabedoria do que a força.
- Todo salvo deve ser um sábio e entendido. Todo discípulo de Cristo é um aluno de Jesus e, para ser aprovado, deve realmente provar, nas circunstâncias da vida, que aprendeu a lição da mansidão e humildade de coração. Será que temos mostrado aos homens que somos sábios e entendidos? Pensemos nisto!
II – A SABEDORIA TERRENA, ANIMAL E DIABÓLICA
- Mas, ao mesmo tempo em que Tiago aponta as características do sábio e entendido, também apresenta a falsa sabedoria, que ele chamará de “sabedoria terrena, animal e diabólica”, um grande obstáculo para que tenhamos uma vida espiritual bem sucedida.
- A primeira demonstração desta falsa sabedoria é a amarga inveja (Tg.3:14). Salomão identificou a inveja como a “podridão dos ossos” (Pv.14:30), a indicar o mal que este sentimento gera no ser humano, a ponto de fazê-lo sofrer até fisicamente.
- Com efeito, a inveja é a manifestação do domínio do ego sobre o ser humano, uma típica manifestação da carne, desta natureza pecaminosa que todos herdamos de nossos primeiros pais. Foi a inveja que fez com que Caim matasse seu irmão Abel, como também foi a inveja o elemento propulsor que levou os principais dos sacerdotes a entregar Jesus para que fosse morto (Mc.15:10).
- A inveja é o sentimento pelo qual alguém deseja o mal a outrem por causa do sucesso que este outro está a ter. É a inconformidade com o bem-estar do outro a mostrar uma mentalidade que é egoísta, individualista, que somente pensa em si. Não foi à toa que Caim, ao ser interpelado pelo Senhor sobre o paradeiro de Abel, veio com esta afirmação: “Sou eu guardador do meu irmão?” (Gn.4:9 “in fine”). É uma atitude típica do invejoso considerar-se como o único ser existente, o único a merecer as coisas, o único a ser levado em consideração.
- A inveja advém de um ressentimento, de um inconformismo com o sucesso do outro, o desejo de que este outro seja reduzido a um patamar inferior, que desapareça do cenário, para que somente o ego do invejoso possa brilhar, prevalecer, ser levado em conta. É uma atitude que revela uma total alienação do outro, uma desconsideração de qualquer ser a não ser o do próprio invejoso, a própria negativa da comunhão e da participação.
- Por isso, Tiago diz que se trata da “amarga” inveja, pois é um sentimento que nasce do recalque, do ressentimento, da frustração, enfim, da amargura, do maligno. Por isso, aliás, o apóstolo João vai dizer que o primeiro invejoso, Caim, era do maligno (I Jo.3:12) e o escritor aos hebreus nos adverte para que não deixemos brotar em nós raiz de amargura, pois isto nos fará ficar privados da graça de Deus (Hb.12:15).
- Quando alguém deixa que a amarga inveja domine o seu ser, este alguém não poderá, de forma alguma, apresentar-se como sábio e entendido, pois estará irremediavelmente apartado de Deus, vez que a inveja somente nasce quando há uma preponderância, um domínio do ego, circunstância que nos afasta de Deus, pois, como sabemos, para ir a Deus, precisamos estar com Cristo e, para estarmos com Cristo, segui-l’O, o primeiro passo é a abnegação, é o negar a si mesmo (Mc.8:34; Lc.9:23), algo que é incompatível com a inveja, que é resultado direto da prevalência do ego.
- A segunda característica levada em conta pelo irmão do Senhor para a sabedoria terrena, animal e diabólica é o sentimento faccioso. Assim como a inveja, o sentimento faccioso é um elemento que nos dissocia dos outros, que nos afasta do próximo e de Deus. Sentimento faccioso é o sentimento de divisão, é o sentimento que nos distancia das pessoas, que nos faz entender sermos melhores e maiores do que os outros, que nos leva a querer a eliminação ou a desconsideração de outras pessoas.
- Judas, irmão de Tiago e autor da epístola que leva seu nome nas Escrituras, ensina-nos que os que causam divisões são pessoas sensuais, que não têm o Espírito Santo (Jd.19). Esta afirmação do provável irmão caçula do Senhor Jesus faz-nos compreender, com clareza, que o sentimento faccioso somente existe naquelas pessoas que são carnais, que são movidas pela carne, que não têm qualquer comunhão com o Senhor, inclinando-se para as coisas deste mundo, para a morte (Rm.8:5,6).
- Ora, se tais pessoas não têm o Espírito Santo e são guiadas pela carne, são pessoas que são inimigas de Deus e que jamais podem agradar ao Senhor (Rm.8:7,8). Como, então, podem ser sábias, se a sabedoria é o temor a Deus e tais pessoas são inimigas de Deus, não reconhecendo Seu senhorio?
- Muitos criam divisões no meio do povo de Deus, geram dissensões e discórdias, prevalecendo-se de sua “sabedoria”, de seu “conhecimento”, de sua “intimidade com Deus. Nada mais falso e nada mais enganador! Os verdadeiros sábios e entendidos são tementes a Deus, obedecem ao Senhor, têm profunda comunhão com Ele e, por conseguinte, são agregadores, fomentadores de união, pacificadores, jamais apresentando um sentimento faccioso, jamais causando divisões ou discórdias.
- Tiago, certamente, ao proferir estas palavras, estava a mirar os debates existentes entre os diversos mestres judaicos na interpretação da lei, que geravam conflitos e até dissensões entre os escribas e doutores da lei. Aliás, a profunda divisão existente entre os religiosos judeus que, nos dias de Tiago, engalfinhavam-se em grandes lutas político-religiosas, notadamente entre fariseus e saduceus, era a prova indelével do caráter prejudicial que o sentimento faccioso produz.
- O pastor da igreja em Jerusalém era um espectador privilegiado de quanto mal produz o sentimento faccioso entre os que se dizem sábios e entendidos. As discussões doutrinárias acabaram se tornando disputas político-religiosas e, por conta desta situação, o ambiente em Israel estava cada vez mais turbulento e perigoso.
O irmão do Senhor não chegou a ver, mas este sentimento faccioso acabou por levar à destruição do templo em 70 e, em 135, à própria expulsão dos judeus da Terra Prometida, iniciando-se uma diáspora que somente cessaria quase dois mil anos depois, com a criação do Estado de Israel em 1948. O sentimento faccioso somente produz isto mesmo: a destruição de todos quantos nele se deixam envolver.
- A presença de amarga inveja e de sentimento faccioso não deveria ser motivo de vanglória. É a pura demonstração de que a pessoa se encontra dominada pela natureza carnal, está morta em seus delitos e pecados e necessita de salvação. Trata-se de um atestado de perdição espiritual, de um certificado de morte espiritual.
- É muito triste vermos, em nossos dias, muitos que se orgulham de terem cometido atitudes que revelam sua amarga inveja e seu sentimento faccioso. São pessoas que fazem destas ações reprováveis diante de Deus pontos altos de seus currículos e, o que é mais grave, são tais fatores que levam com que milhares de pessoas os admirem e os sigam em seus desvarios e loucuras, inclusive no meio dito cristão.
- Tiago, porém, considera que tais pessoas não têm do que se gloriar, senão assumir que estão mentindo contra a verdade. Quem assim age, quem assim se comporta está na contramão da própria Sabedoria, da própria Verdade, que é o Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
- Cristo veio para a reconciliação entre Deus e o homem (II Co.5:19) e, por isso, n’Ele não houve nem podia haver qualquer sentimento faccioso. Ele veio para unir, para restabelecer a amizade entre Deus e o homem e, por este motivo, jamais deixou de considerar a humanidade, o outro, o próximo.
Em instante algum de Seu ministério terreno, agiu com amarga inveja ou com sentimento faccioso, mas sempre demonstrou querer o bem para o pecador, assumindo, inclusive, o lugar deste, fazendo-Se pecado por nós, para nos dar a salvação. Em vez de querer o mal daquele que tinha melhor posição, assumiu a posição do pecador, para poder nos elevar até a Sua posição. Aleluia!
- A sabedoria que é demonstrada por amarga inveja e sentimento faccioso é uma sabedoria que, diz Tiago, não vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica (Tg.3:15).
- Por primeiro, trata-se de uma sabedoria terrena, porque ela é criada aqui mesmo na Terra. “…Tal sabedoria se desenvolve sobre a Terra, como propriedade de habitantes mundanos, que não têm direito a se considerarem espirituais.
É uma sabedoria humana. Não-inspirada do alto, egocêntrica, calculistamente carnal. Sua astúcia visa somente a vantagem particular, e não o cultivo da piedade. Deriva-se do ‘mundo frágil e finito da vida e dos negócios humanos’, não sendo por isso, de modo algum, uma propriedade divina…” (CHAMPLIN, R.N. op.cit., com. Tg.3:15, p.60).
- A palavra grega aqui empregada, “epigeios” (επίγειος), tem o significado de “terrestre, terreno”, ou seja, algo que é próprio da Terra. Trata-se, portanto, de uma manifestação do próprio homem, por sua própria iniciativa ou diante de sugestão do maligno. É algo preso às circunstâncias e vicissitudes de um mundo que está no maligno (I Jo.5:19).
- Ora, o que é nascido no homem, neste mundo é passageiro (I Jo.2:17), imperfeito e indelevelmente comprometido com o pecado, de quem o homem é servo (Jo.8:34). Portanto, tal sabedoria é completamente incapaz de proporcionar qualquer benefício duradouro para o ser humano.
- Por segundo, esta sabedoria é animal, expressão que, no grego, é “psuchike” (ψυχική), “…’natural’, isto é, pertencente à vida natural, em contraste com a vida sobrenatural. É animal porque está confinada à ‘alma’, aquela porção que o homem tem em comum com os outros animais e, em sentido algum, transcende a este tipo inferior de natureza…” (CHAMPLIN, R.N. ibid.).
- Trata-se de uma sabedoria que desconsidera o aspecto espiritual, sobrenatural da vida, que leva em conta apenas aquilo que é sensível, palpável. É o horizonte daqueles que não servem a Deus, dos gentios, como afirmou o Senhor Jesus no sermão do monte, ao mostrar que aqueles que não creem em Deus vislumbram tão somente a satisfação das necessidades materiais (comer, beber e vestir), vivendo em função disto tão somente (Mt.6:31,32).
- Triste é saber que muitos que cristãos se dizem ser têm esta mesma perspectiva, este mesmo horizonte, como aduz o apóstolo Paulo em I Co.15:19, ao considerar como os mais miseráveis de todos os homens aqueles que esperam em Cristo somente para as coisas desta vida. Pois é esta a proposta que nos traz tanto a teologia da libertação, quanto a teologia da prosperidade, correntes de pensamento que têm levado milhões e milhões que cristãos se dizem ser a esta condição trágica de miserabilidade.
- Será que não temos nos comportado dentro deste aspecto meramente horizontal de sabedoria? Será que não temos procurado Cristo Jesus apenas para que tenhamos o que comer, vestir e beber? Será que nossos objetivos e metas neste mundo não se resumem à satisfação destas necessidades puramente materiais? Pensemos nisto, amados irmãos, pois, se assim agimos, é porque estamos dotados de uma sabedoria meramente animal, que não vem do alto e que jamais nos poderá levar para os céus!
- Por terceiro, essa sabedoria é diabólica, ou seja, “…semelhantes ou pertencentes ao mundo dos seres malignos, demônios, espíritos maldosos.(…). O tipo de sabedoria carnal que os homens empregam para se exaltarem a si mesmos, pode ser até mesmo inspirada pelos demônios, um produto do reino das trevas, longe de ter origem celestial e divina.…” (CHAMPLIN, R.N. ibid.).
- A desconsideração do próximo, a exaltação do ego são consequência direta da proposta satânica feita ao primeiro casal, mas renovada a cada geração de o homem procurar ser independente de Deus, não levar o Senhor em consideração, numa presunção tola e impossível de se fazer igual ao Criador (Gn.3:5).
- Assim, toda e qualquer sabedoria que desconsidere a nossa dependência de Deus é, em suma, crédito à mentira satânica, é atendimento à proposta do diabo, de sorte que toda sabedoria como esta é sempre diabólica, pois tem inspiração direta nas palavras do inimigo de nossas almas.
- Por ter sua fonte de inspiração no adversário de nossas almas, esta sabedoria não pode ter outra consequência senão nos levar ao mesmo destino de Satanás e de seus anjos. Deus, para estes seres rebeldes, preparou o lago de fogo e enxofre (Mt.25:41) e, infelizmente, todos quantos atenderem e derem ouvidos ao pai da mentira (Jo.8:44), selarão para si mesmos este mesmo fim (Ap.20:14,15).
- Por isso mesmo, Tiago é bem claro ao afirmar que “onde há inveja e espírito faccioso, aí há perturbação e toda a obra perversa” (Tg.3:16). A sabedoria terrena, animal e diabólica somente produz perturbação e perversidade. Quem é animado por este tipo de sabedoria só pode praticar o mal, só pode cometer pecado, só pode gerar morte espiritual para si e para os que o cercam.
OBS: “…A sabedoria que não produz um bom estilo de vida (v. 13) é, em suma, caracterizada “pelo mundo, pela carne e pelo demônio”. Em cada uma destas formas, ela é a antítese direta da “sabedoria que desce lá do alto”— celestial em natureza, espiritual em essência e divina em origem.…” (MOO, Douglas J. Tiago: introdução e comentário. Trad. Robinson Malkomes. Edição digital, p.133).
- Mais uma vez Tiago mostra como as ações de cada um de nós revelam o que há em nosso interior. Se alguém diz ser sábio e entendido, mas seu comportamento gera a maldade, a prática do pecado e serve de elemento favorecedor do mal e da perversidade, estamos diante de alguém que não é verdadeiramente sábio, mas diante de uma pessoa que é dominada pelo maligno, é escrava do pecado e usa de toda a sua suposta sabedoria tão somente para perturbar e fomentar a perversidade. Que sabedoria temos demonstrado com as nossas obras? Pensemos nisto!
III – A SABEDORIA QUE VEM DO ALTO
- Depois de ter dado as características da sabedoria terrena, animal e diabólica, Tiago passa a descrever a sabedoria que vem do alto, a sabedoria verdadeira que o irmão do Senhor já tinha aconselhado a ser pedida a Deus no início de sua epístola.
- Esta sabedoria, por primeiro, vem do alto, diz Tiago, ou seja, esta sabedoria tem sua origem em Deus, não é algo que seja produzido pela mente humana, que seja conquistado pelos méritos humanos, mas é uma dádiva divina, algo que somente há em Deus.
- Por isso, o princípio da sabedoria é o temor a Deus (Sl.111:10; Pv.9:10), porquanto se trata de algo que somente Deus pode conceder, pois Ele próprio é a sabedoria. Jesus Cristo foi feito sabedoria para nós, como nos relata o apóstolo Paulo em I Co.1:30.
- Notamos, portanto, que, para se ter sabedoria é necessário termos um relacionamento vertical, um relacionamento com Deus, algo que é exatamente o contrário do que ocorre na sabedoria terrena, onde a visão é meramente horizontal, voltada única e exclusivamente para as coisas desta vida.
- A primeira característica desta sabedoria que vem do alto é a pureza. A sabedoria verdadeira, que tem origem em Deus é pura, já que Deus é santo (Lv.11:44,45; 19:2; 20:26; 21:8; I Pe.1:16). Os serafins não cessam de dizer, nos céus, que Deus é santo (Is.6:3). Portanto, não há como a sabedoria que vem d’Aquele que é santo e assim é proclamado no alto de onde vem a sabedoria, deixar de ser pura.
- Verificamos, assim, que a sabedoria, por ser pura, confere santidade àquele que o recebe da parte de Deus. Uma vida de santidade, uma vida de separação do pecado revela a presença da sabedoria divina em alguém. De nada adianta a pessoa ter amplo conhecimento intelectual sobre as coisas de Deus e viver no pecado. Sábio é quem se separa do pecado, sábio é quem se mantém numa vida de contínua aproximação ao Senhor.
- Tiago mostra, assim, que a vida de separação do pecado, um comportamento santo revela a presença da sabedoria na pessoa, mais uma vez reforçando a ideia, que é ocorrente em toda a sua epístola, de que as ações, a conduta é quem revela o nosso estado espiritual.
- A segunda característica da sabedoria que vem do alto é a paz. A sabedoria divina é pacífica. Com efeito, se Cristo foi feito sabedoria para nós (I Co.1:30), é evidente que tal sabedoria é pacífica, pois Jesus é o Príncipe da Paz (Is.9:6) e Ele mesmo nos prometeu dar uma paz diferente da que existe no mundo (Jo.14:27).
- A sabedoria é pacífica porque os filhos de Deus são pacificadores (Mt.5:9), ou seja, faz parte da conduta de um discípulo de Cristo promover a paz, paz que deve ser entendida dentro do significado da palavra hebraica “shalom”, ou seja, integração, completude, comunhão.
OBS: “…”à sabedoria enquanto dom incumbe não somente contemplar as coisas divinas, senão também regular as ações humanas. E esta direção implica, em primeiro lugar, a remoção dos males contrários à sabedoria.
Por isso se diz também do temor que é o caminho da sabedoria (Sl.111:10), já que nos faz apartar-nos dos males. Por último, como remate, vem a tarefa de encaminhar toda a ordem devida, e isto é essencialmente a paz.
Por isso são adequadas as palavras de São Tiago dizendo que a sabedoria , que do alto vem, dom do Espírito Santo, é primeiramente pura, para evitar a corrupção do pecado; logo, pacífica, efeito final da sabedoria, pelo qual dá razão de bem-aventurança.
O que segue das palavras de São Tiago dá a conhecer as coisas pelas quais a sabedoria conduz à paz e em ordem conveniente. Com efeito, o que primeiro se oferece ao homem que se aparta da corrupção do pecado é que, enquanto possa, tenha medida em todas as coisas, e, neste sentido, se diz que é modesta.
O segundo, que, no que não basta a si mesmo, aceite o conselho dos demais, e por isso se diz que é persuadível. Estas duas coisas permitem ao homem ter paz em si mesmo. Mas, dando um passo a mais, para que o homem seja pacífico com os demais, requer-se, em primeiro lugar, que seja considerado com seus bens, e é o que a palavra indulgente com os bens..
Requer-se, ademais, em segundo lugar, que, por uma parte, se compadeça afetivamente das fraquezas do próximo, e, por outra, que as socorra eficazmente; expressam-nos as palavras cheia de misericórdia e de bons frutos.Requer, finalmente, o esforço por corrigir com caridade seus pecados, e isto é o que significam as palavras imparcial e sem hipocrisia, não seja que, buscando a correção, pretenda satisfazer o ódio.…” (AQUINO, Tomás de. Suma Teológica II-II q.45, a.6. Cit. Tg.3:16-18, n.906. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 02 jul. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).
- O discípulo de Cristo recebe o ministério da reconciliação (II Co.5:18) e, deste modo, tem o serviço, a tarefa, a missão de levar as pessoas até Deus por intermédio de Jesus, promovendo a paz entre os homens e o seu Criador. Ora, se esta é a missão do cristão, como, então, deixar de ser pacificador, deixar de promover a paz e a justiça?
- Não é possível que alguém que receba a sabedoria do alto seja promotor de dissensões, intrigas, cizânias, como, infelizmente, temos visto como sendo a conduta de muitos que cristãos se dizem ser. O apóstolo Paulo é bem claro ao mostrar que uma tal atitude é “obra da carne” (Gl.5:20), demonstração de espírito faccioso, que, como já vimos, é característica da sabedoria terrena, animal e diabólica.
OBS: “…a sabedoria da carne é amiga do prazer e nada tem de modesta; a sabedoria do mundo ama o tumulto e nada tem de pacífica. Quanto à sabedoria que vem de Deus, ela é casta antes de tudo, nunca procura a sua própria vantagem, mas os interesses de Jesus Cristo e não leva os homens a fazer a sua vontade, mas a considerar a vontade de Deus; em seguida, ela é pacífica, isto é, bem longe de abundar em seu próprio sentido, ela prefere se ordenar à maneira de ver e aos conselhos do outro…” (CLARAVAL, Bernardo de. Primeiro sermão do dia de Natal: as fontes do Salvador. Cit. Tg.3:16-18, n. 22. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 02 jul. 2014) (tradução nossa de texto em francês).
- A terceira característica da sabedoria que vem do alto é a moderação. A sabedoria traz a prudência, pois Cristo, que é a nossa sabedoria, habita com a prudência (Pv.8:12), prudência esta que nada mais é que a ciência do Santo (Pv.9:10). Quem está envolvido com o Senhor, quem teme a Deus adquire prudência, é pessoa cautelosa, pessoa que sabe conter os seus instintos, que tem autodomínio, autocontrole. Por isso, uma das qualidades do fruto do Espírito é a temperança (Gl.5:22).
- Enquanto a sabedoria animal leva o homem a ser escravo de seus instintos, a não ter controle algum sobre os seus instintos, estando escravizado por eles, não tendo qualquer equilíbrio, passando a cobiçar desenfreadamente tudo quanto lhe vem pelos instintos, que é o que a Bíblia Sagrada denomina de concupiscência, que nos leva ao pecado, como diz o próprio Tiago em Tg.1:14; a sabedoria que do alto vem nos permite controlar os nossos instintos, a manter a nossa natureza pecaminosa crucificada com Cristo.
- A quarta característica da sabedoria que do alto vem é a tratabilidade. A sabedoria que vem do alto é tratável. “…No grego é ‘eupeithes’, isto é, ‘facilmente persuadido’, o contrário de ‘obstinado’, que normalmente é o caráter dos homens por demais ambiciosos, que se tornam ditadores na igreja. Essa sabedoria é ‘aberta à razão’. Pode ver o ponto de vista alheio, mudando suas próprias opiniões.…” (CHAMPLIN, R.N. op.cit., com. Tg.2:17, p.61).
OBS: “…A pessoa tratável (eupeithês) é alguém que, literalmente, é ‘facilmente convencido’ — não no sentido de uma ingenuidade fraca e crédula, mas no sentido de uma deferência espontânea aos outros, quando não se envolvem princípios morais ou teológicos inalteráveis.…” (MOO, Douglas J. Tiago: introdução e comentário. Trad. Robinson Malkomes. Edição Digital, p.133).
- Quem é realmente sábio é aberto ao outro, a começar do próprio Deus. Não é pessoa egoísta, arrogante, mas alguém que sabe que nada sabe e que pode sempre aprender com o Senhor e com o próximo. É exatamente o contrário do que ocorre com a sabedoria terrena, onde há uma prevalência do ego, conforme já visto supra.
OBS: “…E, pois, Deus é tão amigo da humildade e da paz, não tema ninguém que, se o que tem é de Deus, se vá ou se perda por sujeitar-se ao mesmo Deus ao parecer do outro, antes mais e mais se confirmará; e se de outra parte for, escapará.
E se sua sabedoria é infundida de Deus, olhe que uma das condições dela, segundo diz Tiago (Tg.3:17), é ser tratável (tratável: que se deixa persuadir[…]). E olhe o que chama Agostinho a estes pensamentos ‘soberbíssimos e perigosíssimos’.
Porque ainda que seja perigosa a soberba e a desobediência da vontade, que é não querer obedecer à vontade alheia, muito mais perigosa é a soberba do entendimento, que é, crendo em seu parecer, não sujeitar-se ao outro. Porque o soberbo na vontade alguma vez obedecerá, pois tem por melhor o parecer alheio, mas quem tem assentado em si que seu parecer é melhor, quem o curará? E como obedecerá a quem não tem por tão bom?
Se o olho da alma que é o entendimento, com quem se tinha de ver e curar a soberba, este mesmo está cego (Lc.11:34) e cheio de soberba, quem o curará? E se a luz se torna trevas, e se a regra se torce, como ficará o demais?…” (ÁVILA, João de. Audi filia, cap. 54. Cit. Tg.3:16-18., n. 54. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 02 jul, 2014) (tradução nossa de texto em espanhol)
- A quinta característica da sabedoria é a plenitude de misericórdia. A sabedoria que do alto vem é cheia de misericórdia. Não poderia ser de outra maneira, porquanto a origem da sabedoria é Deus, que é Deus de misericórdia (Ex.22:27; 34:6; Dt.4:31; II Cr.30:9; Sl.103:8). O sábio é cheio de misericórdia, faz bem ao próximo, pois a misericórdia é a bondade em ação, é não dar a alguém o mal que ela está a merecer.
- Por ser cheia de misericórdia, a sabedoria que vem do alto impede que o discípulo de Cristo seja vingativo, justiceiro, mas faz com que ele abra mão de produzir o mal que o próximo até estaria a merecer pelas suas faltas e injustiças cometidas.
- A sexta característica da sabedoria é a plenitude de bons frutos. Uma vez mais, Tiago mostra que o verdadeiro e genuíno discípulo de Cristo Jesus pratica boas obras, produz frutos de justiça (Fp.1:11). Não é possível que alguém tenha comunhão com o Senhor e não produza bons frutos. A sabedoria é sobretudo prática, revela-se por atitudes e ações, não é apenas uma erudição intelectual, como, lamentavelmente, muitos têm equivocadamente entendido nos dias de hoje.
OBS: “…Obviamente, esta sabedoria não se reduz unicamente à dimensão intelectual. É muito mais; é “a Sabedoria do coração”, como a chama o Salmo 89. É um dom que vem do alto (cf. Tg.3:17), de Deus…” (BENTO XVI. Homilia de 15 de outubro de 2006. Cit. Tg.3:16-18, n.15106. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 02 jul. 2014)
- A sétima característica da sabedoria é a imparcialidade. A sabedoria que vem do alto não faz acepção de pessoas, trata a todos os homens igualmente, sabendo que, diante de Deus, todos são iguais.
- A oitava característica da sabedoria é a ausência de hipocrisia. A sabedoria que vem do alto provém do Deus que é a verdade (Jr.10:10). Jesus Cristo, que foi feito sabedoria para nós, é a Verdade (Jo.14:6). Assim sendo, a sabedoria não pode ter qualquer fingimento, não pode ser um hipócrita, característica que é dos falsos religiosos, como, aliás, Tiago já havia deixado claro em textos anteriores da sua epístola, repercutindo a dura condenação que Jesus deu aos fariseus, modelo de falsa religiosidade (Mt.23).
- “…O homem verdadeiramente sábio não precisa ser ‘insincero’ e nem hipócrita, porquanto nada tem a ocultar e não busca suas próprias vantagens. O vocábulo aqui usado é especificamente ‘sem hipocrisia’.. Tal homem não precisa viver como um ator, desempenhando um papel falso (que é o sentido original do vocábulo). Antes vive na sinceridade.(…). A sabedoria não opera detrás de uma máscara, supostamente para o bem dos outros, mas, na realidade, visando apenas os seus próprios interesses, conforme fazem certos mestres e líderes exageradamente ambiciosos nas igrejas.…” (CHAMPLIN, R.N. op.cit., p.61).
- Tiago dá-nos, então, uma riquíssima informação, ao dizer que o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz, ou seja, o irmão do Senhor mostra-nos, com absoluta clareza, que somente se pode ter a verdadeira sabedoria se houver “semeadura na paz”, ou seja, se estivermos em comunhão com o Senhor, se tivermos a devida justificação pela fé, porquanto é ela que nos traz paz com Deus (Rm.5:1).
- Quem entra em comunhão com Deus pela fé em Cristo em Jesus “semeia na paz” e colherá o fruto de justiça, desde que haja o exercício da paz. Mais uma vez vemos a perfeita consonância entre Tiago e Paulo, na medida em que o pastor da igreja em Jerusalém nos dá conta de que, quando há “semeadura na paz”, ou seja, comunhão pela fé, esta paz é necessariamente posta em exercício e produz “frutos de justiça”. Não há como se ser salvo sem que se esteja a praticar boas obras.
OBS: “…A origem determina os resultados. A sabedoria do mundo produz resultados mundanos; a sabedoria espiritual, resultados espirituais. A sabedoria do mundo produz problemas (3.16b). Inveja, confusão, e todo tipo de coisas ruins são o resultado da sabedoria do mundo. Muitas vezes, esses sintomas da sabedoria do mundo estão dentro da própria igreja (3.12; 4.1-3; 2Co 12.20). Pensamentos errados produzem atitudes erradas.
Uma das causas do porquê deste mundo estar tão bagunçado é que os homens têm rejeitado a sabedoria de Deus. A palavra ‘confusão’ significa desordem que vem da instabilidade. Essas pessoas são instáveis como a onda (1.8) e indomáveis como a língua (3.8). Essa palavra é usada por Cristo para revelar a confusão dos últimos dias (Lc 21.9).
A sabedoria de Deus produz bênçãos (3.18). Tiago lista três coisas: primeiro, vida reta (3.13). Uma pessoa sábia é conhecida pela sua vida irrepreensível, conduta santa. Segundo, obras dignas de Deus (3.13). Uma pessoa sábia não apenas fala, mas faz. Terceiro, fruto de justiça (3.18). A vida cristã é uma semeadura e uma colheita.
Nós colhemos o que semeamos. O sábio semeia justiça e não pecado. Ele semeia paz e não guerra. O que nós somos, nós vivemos e o que nós vivemos, nós semeamos. O que nós semeamos determina o que nós colhemos. Temos que semear a paz (Como saber se sua sabedoria é terrena ou celestial CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado — Tiago. Vol. 6, p, 61. WIERSBE, Warren. The Bible Expository Commentary. Vol. 2, p. 365) e não problemas no meio da família de Deus.
Como poderemos conhecer uma pessoa sábia? Uma pessoa sábia é sempre uma pessoa humilde. Aquele que proclama as suas próprias virtudes carece de sabedoria. Como poderemos identificar uma pessoa que não tem sabedoria? Suas palavras e atitudes provocarão inveja, rivalidades,divisão, guerras.…” (LOPES, Hernandes Dias. Tiago:transformando provas em triunfos. Edição digital, pp.79-80) (destaques originais).
- Quem se diz salvo, quem se diz em comunhão com Deus e cresce em intimidade com o Senhor, por uma vida de contínua santificação, revela esta intimidade e esta cada vez maior aproximação com Deus por meio de frutos de justiça, de boas obras, pois só assim provamos que somos verdadeiros, genuínos e autênticos discípulos de Cristo Jesus. Temos semeado na paz? Provamos tal semeadura pelos frutos de justiça? Pensemos nisto!
OBS: “…Quanto mais elevada é uma virtude, maior é seu raio de ação, como consta no livro De causis. Daí que a sabedoria, por ser dom, é mais excelente que a sabedoria virtude intelectual, já que estando mais próxima de Deus por certa união da alma com Ele tem o poder de dirigir não somente a contemplação, mas também a ação. O divino em si mesmo é necessário, mas também é regra do contingente, que constitui a esfera dos atos humanos. Uma coisa temos de considerar em si mesma antes de compará-la com outra. Por isso, à sabedoria, incumbe, primeiro, a contemplação das coisas divinas, que é a visão do princípio; depois, dirigir os atos humanos em conformidade com as razões divinas. Entretanto, desta direção da sabedoria sobre os atos humanos não se segue a amargura ou o trabalho; antes, a amargura se torna em doçura e o trabalho, em descanso…” (AQUINO, Tomás de. Suma Teológica II-II qu.45, a.3. Disponível em: http://hjg.com.ar/sumat/c/c45.html#a3 Acesso em 02 jul. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol) (destaques originais).
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
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