Vale tudo na evangelização, contanto que Cristo seja anunciado?


Recebi, há poucos dias, como cortesia, alguns exemplares do excelente jornal AD News, produzido pela Rede Brasil de Comunicação, ligada à Assembleia de Deus em Pernambuco. Na edição de janeiro de 2012, o pastor Ailton José Alves, que preside a mencionada igreja, discorreu sobre o Evangelho do Reino dos Céus e me fez refletir sobre a forma como Cristo tem sido pretensamente pregado, em nossos dias.

“Como aceitar que alguém professe o Evangelho sem abandonar a vida do pecado? Como concordar com quem promove cantos e discursos a favor de Deus e, ao mesmo tempo, o nega, defendendo e veiculando práticas pecaminosas condenadas por Ele?”, afirmou o pastor Ailton. No mesmo jornal, há um texto de minha autoria, pelo qual critiquei o Festival Promessas, realizado pela Rede Globo, em dezembro de 2011.

Tal artigo, também publicado neste blog, gerou grandes discussões, no início de janeiro. Alguns irmãos, ao discordarem de mim, perguntaram: “Paulo não disse, em 1 Coríntios 9.22, que usou todos os meios para salvar as pessoas à sua volta?” E outros citaram Filipenses 1.15-18, uma passagem pela qual Paulo afirma que o Evangelho deve ser pregado inclusive por discórdia, insinceramente ou por pretexto.

Para responder à segunda argumentação em prol da evangelização sem limites, peço que o leitor tenha em mente a regra de ouro da exegese: a Bíblia explica a própria Bíblia. Ou seja, não devemos ignorar o fato de as Escrituras serem análogas. Temos de levar em consideração o contexto de cada passagem que empregamos.

Por que Paulo disse as aludidas palavras sobre a pregação do Evangelho aos crentes de Filipos, e em que circunstância? Esse apóstolo, que estava preso, referiu-se aos opositores do Evangelho, isto é, os judeus que o acusavam perante os tribunais de Roma. Mesmo querendo o seu mau, aqueles inimigos de Paulo eram obrigados a dizer que ele estava pregando sobre a morte e a ressurreição do Senhor! Além disso, afirmavam que, segundo Paulo, Jesus estava acima de César.

Naquela época, o título de Senhor não implicava apenas senhorio. O imperador romano, como o senhor de Roma, era adorado pela população (menos os cristãos verdadeiros). E os opositores de Paulo afirmavam que Cristo Jesus, como Senhor dos cristãos, era adorado exclusivamente por eles, tomando o lugar de César. Em outras palavras, os judeus que acusavam Paulo estavam, indiretamente, pregando o Evangelho! Daí a satisfação desse apóstolo com o resultado do seu sofrimento por amor a Cristo.

Segue-se que a passagem de Filipenses 1.15-18 não deve ser usada de modo generalizante, para afirmar que os crentes, hoje, podem adotar livremente todos e quaisquer meios para propagar o Evangelho. Afinal, a Palavra de Deus afirma, inclusive, que devemos fugir da aparência do mal (1 Ts 5.22), tendo cuidado com o pecado, mas também com os embaraços (Hb 12.1,2).

Quanto a 1 Coríntios 9.22, é evidente que Paulo se referiu a meios de evangelização que não deponham contra o Evangelho. Ele mesmo disse — antes e depois da passagem em apreço — que nem tudo que é lícito é conveniente ou edificante (1 Co 6.12; 10.23). E também asseverou: “Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra cousa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Co 10.31, ARA).

Finalmente, se todos e quaisquer meios de evangelização pudessem ser empregados, sem nenhum limite, teríamos uma grande contradição! Até show erótico ou desfile no carnaval poderiam ser usados para, pretensamente, ganhar almas, desde que Cristo fosse anunciado, não é mesmo?

Ciro Sanches Zibord

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