Lição 07 - A divisão espiritual no lar
PORTAL ESCOLA DOMINICAL
TERCEIRO TRIMESTRE DE 2012
VENCENDO AS AFLIÇÕES DA VIDA – Muitas são as aflições do
justo mas o Senhor o livra de todas
COMENTARISTA: ELIEZER DE LIRA E SILVA
Na família, precisamos dar testemunho de Jesus Cristo.
INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo das aflições desta vida terrena,
iniciaremos o bloco do que denominamos de “dramas familiares”.
- Na família espiritualmente dividida, precisamos dar
testemunho de Jesus Cristo.
I – FAMÍLIA: AMBIENTE
CRIADO PARA QUE SE MANIFESTASSE A COMUNHÃO ENTRE DEUS E O HOMEM
- Damos início ao terceiro bloco deste trimestre, que
abrangerá duas lições, quando estaremos a discorrer sobre o que denominamos de
“dramas familiares”, ou seja, as aflições decorrentes da vida em família.
- O primeiro deste “dramas familiares” é o que nosso ilustre
comentarista chamou de “ a divisão espiritual no lar”, ou seja, a problemática
decorrente de, na mesma família, haver uma contenda, um embate entre os que
servem a Deus e os que não O servem.
- O primeiro grupo social a que uma pessoa pertence é a
família, grupo criado pelo próprio Deus (Gn.2:23,24) e que procura suprir as
necessidades sentimentais, afetivas e emocionais básicas do ser humano. A
função da família é, precisamente, impedir que haja o sentimento de solidão,
que caracterizava Adão antes da formação da mulher (Gn.2:20).
- Os homens, mesmo, sem conhecer a Palavra de Deus,
reconhecem o papel fundamental que a família exerce na vida de um homem. A
Declaração Universal dos Direitos do Homem afirma que "…a família é o
núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade
e do Estado." (artigo XVI, nº 3), preceito que é repetido pela
Constituição brasileira, que afirma que "…a família, base da sociedade,
tem especial proteção do Estado…" (art.226). Entretanto, apesar dos
preceitos normativos solenes, o adversário tem realizado um trabalho terrível
de destruição contra a família, até porque seu trabalho é o de matar, roubar e
destruir (Jo.10:10).
- Deus não só criou a família como estabeleceu quais as
regras e as condutas que devem ser observadas pelos membros da família. As
Escrituras trazem quais os parâmetros do relacionamento entre cônjuges, entre
pais e filhos e entre irmãos. O segredo da felicidade no relacionamento
familiar está em ter uma conduta conforme a Bíblia Sagrada.
- Como a família foi criada por Deus, é Ele quem deve
estabelecer as regras, as normas ao homem, a quem cabe, simplesmente, obedecer.
A família não é nossa criação, nem pode ser estruturada segundo os nossos
conceitos ou a nossa vontade. Existem princípios que devem ser seguidos. Muito
se fala, hoje, a respeito da diversidade de culturas, dos diferentes modos de
vida das várias raças, tribos e nações em volta do mundo, mas isto não é
suficiente para que consideremos que os princípios estabelecidos por Deus não
devam ser observados por todos os homens.
- Os homens, envolvidos em seus delitos
e pecados, acabam distorcendo os princípios estabelecidos por Deus e cabe à
igreja, como defensora destes princípios, imergir nas culturas dos povos de
modo a que tais culturas sejam transformadas e voltem aos princípios estatuídos
pelo Senhor. Observemos que, entre os próprios judeus, a dureza de coração foi
responsável pela existência de normas jurídicas sobre a família que estavam em
desacordo com os princípios estabelecidos por Deus, como denunciou o próprio
Senhor Jesus ao ser indagado sobre a norma do repúdio que vigorava, na época,
em Israel (Mt.19:3-8).
- As Escrituras indicam que o homem não foi feito para viver
solitariamente. Muito pelo contrário, a Bíblia é explícita ao dizer que, ao
contemplar o homem, Deus afirmou que "não é bom que o homem esteja
só" (Gn.1:18), tendo, então, estabelecido a necessidade de criar a mulher,
que serviria como uma adjutora, ou seja, como uma ajudadora, que estivesse
diante do homem. Esta explicitação do texto bíblico, em que se dá a narrativa da
criação da mulher, especifica algo que o próprio Deus já havia delineado no
instante em que decidiu criar o ser humano, porquanto, ao nos ser informada a
intenção divina, é-nos dito que, no plano divino, estava o de dotar o homem não
só de domínio sobre a criação na terra, mas também, de capacidade de reprodução
(Gn.1:28), o que exigia a formação da família, único ambiente em que se poderia
concretizar o desejo de Deus para o homem.
- É, precisamente, dentro deste escopo que devemos observar a
família. Ela é uma instituição que foi criada por Deus para que o homem pudesse
cumprir tudo aquilo que Deus havia planejado para que o homem fizesse. Sem a
família, seria impossível que o homem frutificasse e se multiplicasse sobre a
face da Terra e, por conseguinte, que o homem pudesse dominar sobre a criação
que estava na Terra.
- É interessante notar que, ao exercer a sua primeira função
de dominador sobre o restante da natureza terrena, o homem percebeu que estava
só, sentimento este que foi observado por Deus. Sem a providência divina de
criação da mulher e, por conseguinte, da família, o homem não teria condições
sequer de dominar o restante da natureza, pois, acometido que estava de um
sentimento de solidão, de falta, não teria condições psicológicas para se impor
frente aos demais seres.
- Alguns estudiosos costumam dizer que a mulher é uma
criatura mais excelente que o homem, porque é o resultado do suprimento de uma
carência do homem, sendo, portanto, por assim dizer, um aperfeiçoamento da
criação divina. No entanto, se bem observarmos a narrativa bíblica, chegaremos
à conclusão de que não é a mulher a criação mais excelente na humanidade, mas,
sim, a criação da família, pois foi a criação desta instituição que significou
a supressão da carência tanto do homem (que havia motivado a criação da
mulher), como da própria mulher.
- O texto bíblico é claro ao indicar que a
tão-só criação da mulher era uma condição necessária, porém não suficiente para
que se tivesse a solução da questão da solidão. Esta solução, diz-nos o texto
sagrado, somente se deu a partir do instante que Deus estabeleceu que homem e
mulher, doravante, se uniriam, formando famílias, de modo a permitir que o
propósito divino de domínio e frutificação fosse realizado e concretizado pela
humanidade. Assim, é a família a mais excelente criação divina para a
humanidade, sendo a "obra-prima de Deus".
- Sem a família, pois, não pode o homem atingir o propósito
estabelecido por Deus quando de sua criação. Não há como o homem atender ao que
lhe é exigido pelo seu Criador sem que exista a família. Sem a família, o homem
não pode sequer ser considerado um homem no sentido estrito da Palavra e as
consequências que têm vindo à sociedade moderna em virtude do intenso e
progressivo processo de desintegração familiar que temos contemplado é uma
prova do que estamos a dizer.
Via de regra, os
criminosos mais hediondos que têm surgido, que nem sequer se portam como seres
humanos, tamanha a sua bestialidade, verdadeiras bestas-feras em corpo humano,
são pessoas que foram vítimas da ausência da instituição familiar no histórico
de suas vidas. A destruição da
instituição familiar representa, assim, a própria destruição da humanidade, da
imagem e semelhança de Deus na vida dos seres humanos e é por isso que o
adversário de nossas almas, que nos odeia e nos detesta, tem investido tanto na
destruição desta instituição. Destrua-se a família e estarão destruídos os
seres humanos e, por conseguinte, toda a sociedade.
OBS: Uma das maiores
demonstrações da dificuldade de nossos tempos está, precisamente, em
observarmos que oadversário de nossas almas, o deus deste século, tem
conseguido obnubilar a própria concepção de família no meio da humanidade, algo
que, para não se dizer que se trata de implicância ou desvario dos crentes, é
observado por diversas pessoas, inclusive o ex-chefe da Igreja Romana, que, em
1981, assim afirmou: "…A FAMÍLIA nos tempos de hoje, tanto e talvez mais
que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e
rápidas transformações da sociedade e da cultura.
Muitas famílias vivem esta situação na fidelidade àqueles
valores que constituem o fundamento do instituto familiar. Outras tornaram-se
incertas e perdidas frente a seus deveres, ou ainda mais, duvidosas e quase
esquecidas do significado último e da verdade da vida conjugal e familiar.
Outras, por fim, estão impedidas por variadas situações de injustiça de
realizarem os seus direitos fundamentais.…" (JOÃO PAULO II. Exortação
Apostólica Familiaris Consortio, n. 1. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_exhortations/documents/hf_jpii_exh_19811122_familiaris-consortio_po.html Acesso em 19 jun.2012).
- Neste ponto, é importante esclarecermos que o objetivo da
família é o de permitir o cumprimento do propósito divino estabelecido para o
homem, qual seja, o domínio sobre a criação na Terra, bem como a frutificação e
multiplicação na face da Terra e o suprimento da necessidade de companheirismo.
A família, portanto, tem como finalidade o suprimento de necessidades relativas
à vida sobre a face da Terra, ou seja, a família não tem qualquer finalidade no
tocante à vida eterna, como bem explicou Jesus quando questionado pelos
saduceus, a indicar que, na eternidade, não haverá a instituição familiar humana (Mc.12:25), pois
a família humana terá sido substituída pela Igreja, que é a família de Deus
(Ef.2:19), o povo de Deus que habitará para sempre com o Senhor (Ap.21:3).
- O papel da família apresenta-se, portanto, como o ambiente
escolhido por Deus para que nele não só o homem cumprisse o propósito
estabelecido pelo Senhor à Sua mais excelente criação sobre a face da Terra,
mas, também, para que pudesse o homem ter a comunhão como seu Criador. Não é à
toa que a comunhão entre Deus e o homem é manifestada pelo fato de Deus
comparecer ao jardim do Éden na viração do dia para dialogar com o primeiro
casal, ou seja, é na família o lugar propício, adequado para que haja a manifestação
da comunhão entre Deus e o homem (Gn.3:8).
- Neste sentido, aliás, que advém o surgimento da palavra
“lar”. É interessante notar que, no princípio da história da humanidade, a
adoração a Deus é vinculada à vida em família. Diz-nos a Escritura que, quando
nasceu Enos, o primeiro filho de Sete, começou-se a invocar o nome do Senhor
(Gn.4:26), afirmação que nos leva a crer que a invocação a Deus foi resultado
da formação de uma nova família nuclear, agora abençoada com um filho. É
necessário que nossa família seja um verdadeiro “lar”.
- "Lar" é uma palavra latina cujo significado
primeiro é o de um local, nas antigas residências romanas, em que se procedia à
adoração dos antepassados familiares.
Normalmente, como nos ensina o historiador francês Foustel de Coulanges em seu
livro "A Cidade Antiga", havia um compartimento nas casas romanas
onde somente poderiam entrar os membros da família, onde eram cultuados os
antepassados familiares, os chamados "deuses lares". Normalmente, havia
um altar em honra a estas divindades e um fogo que nunca se apagava, onde se
realizava tal adoração.
- Vê-se, portanto, que a ideia do "lar" está
vinculada à ideia de uma ligação espiritual entre os membros de uma mesma
família, ou seja, o lar é a própria unidade espiritual dos integrantes de uma
família. Para os romanos, a família possuía, sobretudo, um vínculo sobrenatural
entre os seus membros, tendo sido os próprios juristas romanos que tornaram
célebre a famosa definição de casamento, atribuída a Modestino, segundo a qual o
casamento estabelece a "união divina e humana que gera
uma vida em comum entre um homem e uma mulher", definição que foi
parcialmente acolhida pelo nosso atual Código Civil no seu artigo 1511.
OBS: “Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de
vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”.
II – AS CONSEQUÊNCIAS
DA ENTRADA DO PECADO NO MUNDO NA
INSTITUIÇÃO FAMILIAR –
O SURGIMENTO DA DIVISÃO ESPIRITUAL NO LAR
- A entrada do pecado no mundo, evidentemente, perturbou,
também, esta situação ótima concebida pelo Senhor para a humanidade. No dia
mesmo da queda, como já tivemos ocasião de mencionar em lições anteriores, não
só se rompeu a comunhão entre Deus e a humanidade, como também se rompeu a
comunhão entre os próprios integrantes da família.
- Tristemente, verificamos que, indagado sobre a sua
desobediência, Adão não pensou duas vezes em culpar a mulher pelo fato de ter
comido do fruto da árvore da ciência do bem e do mal (Gn.3:12), revelando,
assim, de pronto, uma atitude de conflito, de falta de comunhão entre ambos os
cônjuges. Tal situação, aliás, perduraria, pois, em Seu juízo, o Senhor
demonstrou que, a partir daquele instante, haveria uma relação assimétrica
entre marido e mulher, com prevalência do homem sobre a mulher (Gn.3:16),
circunstância que nem o mais exacerbado feminismo tem conseguido erradicar.
OBS: Na verdade, o feminismo tem feito é piorar cada vez mais
a situação da mulher sobre a face da Terra, como, numa análise muito
percuciente, que vale a pena conhecer, faz o padre Paulo Ricardo de Azevedo
Júnior na sua alocução “Feminismo, o maior inimigo das mulheres” -
http://www.youtube.com/watch?v=80JuBmps6Qk Acesso em 19 jun. 2012.
- Nota-se, pois, que, com o pecado, não só a família deixou
de ser o ambiente propício para a comunhão com Deus como, ainda mais, passou a
haver conflitos entre os próprios integrantes da família, fazendo com que esta
instituição, feita para propiciar ao homem o cumprimento de seu propósito na
criação terrena, passasse a ser um local de conflitos, tragédias e sofrimentos.
- Poucas décadas após a expulsão do homem do Éden, a primeira
família sofreria um duro golpe com o assassínio de Abel por Caim. Aqui, aliás,
notamos, de pronto, que, no seio da família, surgiu a divisão espiritual. Abel,
chamado de justo pelo próprio Jesus (Mt.23:35), ao apresentar sua oferta ao
Senhor, teve a mesma recebida por Deus, enquanto que Caim, ao fazê-lo, não teve
a mesma aceitação. Apesar de advertido antes pelo Senhor, Caim, em vez de
obedecer à voz divina, preferiu matar seu irmão, pois não pôde tolerar que,
sendo ele do maligno, seu irmão fosse justo (I Jo. 3:12).
- Em que pese a perda da comunhão com Deus por causa do
pecado, o gesto dos dois irmãos de apresentar sacrifícios a Deus demonstra que
o primeiro casal os havia ensinado a buscar a presença de Deus, mas, apesar
deste ensino, verificou-se ali uma divisão espiritual, pois um dos irmãos
servia a Deus e o outro, não. Esta divisão acabou por levar à morte de Abel, o
primeiro herói da fé (Hb.11:4).
- Desde os primórdios da humanidade, portanto, notamos que o
justo sofre aflições por causa da sua fé em Deus a partir do seu próprio lar,
da sua própria família. Por isso, o Senhor Jesus, que também vivenciou esta
triste realidade, foi categórico ao afirmar: “E, assim, os inimigos do homem
serão os seus familiares” (Mt.10:36).
- Não há comunhão
entre a luz e as trevas (II Co.6:14) e, portanto, quando alguém entrega a sua
vida para o Senhor Jesus, fatalmente
entrará em conflito com os seus familiares, caso eles não sejam servos
do Senhor Jesus. O embate que há entre o mundo e a Igreja inicia-se em casa, no
lar, no ambiente mais íntimo de cada ser humano.
- Após a morte de Abel, a Bíblia nos afirma que o primeiro
casal teve outro filho, a que deu o nome de Sete, cujo significado é
“compensação” ou “renovo” ou, ainda, para outros, “designado” (Gn.4:25). Sete
cresceu sabendo que havia sido dado em lugar de Abel, como uma compensação da
parte do Senhor e, ao ter seu primeiro filho, deu-lhe o nome de “Enos”, cujo
significado é “mortal”, passando, então, a invocar o nome do Senhor (Gn.4:26).
- Neste gesto de Sete, que passou a invocar o nome do Senhor, ou seja, pedir pela Sua presença,
servi-l’O continuadamente, bem como ter chamado o seu filho de “Enos”, que quer
dizer “mortal”, vemos a convicção que este homem de Deus, que deu origem à
primeira linhagem piedosa da humanidade, tinha para que se evitasse a divisão
espiritual no lar: a contínua invocação ao Senhor, desde o início da formação
do núcleo familiar.
- Só há uma forma de evitarmos a divisão espiritual no lar,
qual seja, a de formarmos um lar na presença do Senhor, a de formarmos uma
família na orientação divina, o que implica a circunstância de nos casarmos na
direção de Deus, evitando o jugo desigual, como também o de criarmos a nossa
prole, desde a sua concepção, no caminho do Senhor, como, aliás, daria conta o
sábio Salomão: “Instrui o menino no
caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele”
(Pv.22:6).
- Fora destas hipóteses, o que se verificará será a divisão
espiritual no lar, visto que, em não havendo formação da família na direção
divina nem tampouco a instrução da prole na são doutrina, haverá aqueles que
servem a Deus e os que não O servem e a consequência disto é a divisão
espiritual no lar, pois não há comunhão entre luz e trevas.
- Neste sentido, aliás, é que o Senhor Jesus disse, certa
vez, que viera trazer divisão nos lares e não paz. Numa afirmação que até hoje
causa admiração, Cristo foi peremptório: “Não cuideis que vim trazer a paz à
terra; não vim trazer paz, mas espada; porque Eu vim pôr em dissensão o homem
contra seu pai, e a filha contra sua
mãe, e a nora contra sua sogra” (Mt.10:34,35).
- Muitos, ao lerem esta afirmação do Senhor Jesus, ficam confusos,
pois entendem que como Jesus é o Príncipe da Paz (Is.9:6) e pelo fato de o
próprio Cristo ter dito que havia trazido paz para os Seus discípulos
(Jo.14:27), como poderia, agora, estar a dizer o contrário, de que não traria a
paz, mas a espada?
- Não há qualquer contradição nos ensinos de Cristo Jesus. Na
verdade, o Senhor está a revelar que o fato de as pessoas crerem em Seu nome e
obterem não só a paz com Deus (Rm.5:1) mas a paz de Deus (Fp.4:7; Cl.3:15),
também os levará a terem problemas e conflitos familiares, visto que, caso seus
familiares não sejam alcançados pela salvação em Cristo Jesus, tornar-se-ão os
seus primeiros inimigos.
- Nas Suas últimas instruções, o Senhor Jesus revelou que
todos os Seus discípulos serão odiados pelo mundo (Jo.15:18-23) e este ódio
começa a ser demonstrado pelos que nos estão mais próximos, ou seja, os nossos
familiares. Não é à toa, repetimos, que o primeiro justo, o primeiro herói da
fé foi morto pelo seu próprio irmão!
- Os laços familiares foram criados e estabelecidos por Deus
para perdurar durante esta vida terrena e, por isso, por mais íntimos que
sejam, por mais próximos que sejam, por mais fortes que sejam, não podem
prevalecer diante dos vínculos espirituais existentes na vida das pessoas.
Assim, infelizmente, os nossos familiares, por mais amigos que sejam de nós,
por mais que nos amem, quando se está diante de uma realidade espiritual, nos
odiarão por causa da nossa fé em Cristo Jesus, caso não compartilhem dela. Não
nos esqueçamos que os incrédulos estão escravizados pelo pecado (Jo.8:34) e,
portanto, nem sequer fazem o que querem, mas o que não querem é o que estão a
fazer (Rm.7:14-20).
- O próprio Jesus não
fugiu desta triste realidade. Durante o Seu ministério terreno, vemos a
oposição que lhe fez os Seus próprios irmãos, que as Escrituras são incisivas
em dizer que eram incrédulos (Jo.7:3-5) e que, numa determinada ocasião,
juntamente com a Sua mãe, pretenderam prendê-l’O, considerando que havia
enlouquecido. Tal situação fez o próprio Jesus a dizer que Sua mãe e irmãos
eram aqueles que fizessem a vontade de Deus e não os que Lhe eram ligados por
laços de sangue (Mc.3:21,31-35).
- Esta mesma situação, que, aliás, prefigura a vivida por
Cristo, vemos na vida de José que foi invejado pelos seus próprios irmãos
precisamente porque era fiel a seu pai e servia ao Senhor (Gn.37:3,4,11,18-23),
o que, infelizmente, não era o que ocorria com relação aos demais filhos de
Jacó. Esta oposição espiritual no lar de Jacó levou, inclusive, a dar ocasião
para o sofrimento de José, sofrimento que durou longos treze anos.
- Nota-se, pois, que a
divisão espiritual no lar é inevitável na vida daqueles que se convertem a
Cristo Jesus e que não vivem numa família que serve ao Senhor. É um embate
espiritual que se instaura, que se estabelece no mais íntimo de nossos
ambientes, em nosso “ninho” neste planeta e que, certamente, causa um
sem-número de tumultos, discórdias e conflitos que atacam diretamente naquilo
que temos de mais caro, pois afeta a nossa sensibilidade, a nossa afetividade,
o nosso coração.
- Como se não bastasse isso, tem-se, ainda, a realidade
daqueles lares que, embora formados segundo a direção divina e que tiveram sua
estruturação na Palavra de Deus, são acometidos pelo desvio espiritual de um de
seus integrantes, pois, como sabemos, Deus deu o livre-arbítrio a todos os
homens e, portanto, embora seja fundamental a educação dos filhos na sã
doutrina, isto não é uma garantia de salvação, visto que a salvação não é
hereditária, mas individual.
- Assim, por exemplo, como podemos explicar que um rei tão
fiel como Jotão (II Cr.27) tenha tido um filho tão ímpio como Acaz (II Cr.28)?
Pelo fato de que a fidelidade de Jotão não se transmite hereditariamente a
Acaz, devendo cada um tomar a sua posição diante do Senhor.
- Deste modo, pois, não bastassem os problemas decorrentes da
divisão espiritual no lar onde alguém se converte ao Senhor, temos o problema
que surge quando alguém de uma família estruturada conforme os princípios da sã
doutrina apostata da fé, desvia-se dos caminhos do Senhor. Neste lar, também,
surge a divisão espiritual, com as mesmas e, talvez, com piores circunstâncias
que a do lar onde se deu a conversão de alguém. É o que se deu na família do
rei Josafá que foi praticamente dizimada por causa do desvio espiritual de
Jeorão, seu primogênito (II Cr.21:4-6).
III – COMO AGIR DIANTE DA DIVISÃO ESPIRITUAL NO LAR
- Diante desta inevitabilidade, desta aflição que golpeia a
muitos servos do Senhor no recôndito de seu lar, como devemos agir? Como
enfrentar uma dificuldade tão grande como é a divisão espiritual no lar, que
atinge os nossos mais sublimes sentimentos e que se apresenta como uma
encarniçada luta espiritual?
- Por primeiro, devemos lembrar que a divisão espiritual no
lar é apenas uma faceta do grande conflito que temos de enfrentar diuturnamente
desde o dia em que recebemos a Cristo Jesus como nosso único e suficiente
Senhor e Salvador, o conflito contra o maligno, contra as hostes espirituais da
maldade (Ef.6:12).
- A divisão espiritual no lar é uma demonstração clara e
transparente para cada servo de Deus de que, realmente, ocorreu uma
transformação na sua vida, de que agora ele é uma nova criatura (II Co.5:17),
tanto que os seus relacionamentos com os seus familiares se alteraram
radicalmente.
- Os conflitos e embates que surgem no recôndito do lar
depois que recebemos a salvação em Cristo Jesus são como que uma prova que Deus
nos dá de que aquilo em que acreditamos, a pregação que recebemos não é um
“efeito psicológico”, não é uma “quimera”, uma “imaginação”, mas uma realidade
bem presente, tanto que, por termos
deixado as trevas e passado a habitar a luz, houve uma radical transformação em nosso relacionamento
com nossos familiares que não tiveram esta mesma experiência.
- A divisão espiritual no lar é, portanto, uma confirmação da
veracidade da Palavra de Deus, da realidade da salvação em Cristo Jesus e,
apesar dos sofrimentos decorrentes dos embates, é uma segurança que Deus nos dá
de que estamos no caminho certo e que a salvação é uma realidade e que,
portanto, vale a pena perseverarmos até o fim para alcançarmos as promessas que
nos foram feitas pelo Nosso Senhor e Salvador.
- Ao mesmo tempo que a
divisão espiritual no lar nos faz ver que a salvação é uma realidade, mostra a
absoluta necessidade que têm os nossos familiares de ser também salvos por
Cristo Jesus. Sua mudança de comportamento em relação a nossas pessoas, o ódio
que passam a nutrir por nós por causa da nossa fé apenas confirmam que eles
estão escravizados pelo pecado e que precisam da salvação. Assim, a divisão
espiritual no lar propicia-nos experimentar a real necessidade que nossos
familiares têm da salvação.
- Diante desta constatação, não nos resta senão passarmos a
interceder com intensidade para a salvação de nossos entes queridos. Mais do
que ninguém, temos de clamar ao Senhor pela salvação de nossos familiares,
orando e jejuando neste sentido, como também procurando, de todas as formas,
evangelizá-los.
- Exsurge, então, a absoluta necessidade que temos de agir
com sabedoria e discernimento para que a divisão espiritual no lar não degenere
em contendas, iras, pelejas e dissensões no seio do lar, pois tais atitudes são
obras da carne e, como tal, não podem ser produzidas por quem se diz servo do
Senhor (Gl.5:20).
- A pior coisa que pode acontecer num lar espiritualmente
dividido é o servo de Deus dar vazão a discussões, debates, que gerem
contendas, dissensões, iras e pelejas no seio familiar. Quem traz a divisão
espiritual para o lar é o Senhor Jesus, ou seja, o fato de termos caminhado
para a luz ou de um ente querido ter caminhado para as trevas. Não podemos nos
sermos o fator de instabilidade no lar, de iras e pelejas.
- O saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012)
costumava ensinar que não há nada mais inadequado num lar dito cristão que a
gritaria, baseando seu ensino em Ef.4:31. Não podemos permitir que o ambiente
familiar onde estamos seja lugar de amargura, ira, cólera, gritaria e
blasfêmias, devendo tudo isto ser demovido de nosso lar.
- Verdade é que os integrantes de nossa família que não
tiverem comunhão com o Senhor procurarão levar-nos para este embate, para este
conflito, mas, de forma alguma, poderemos permitir entrar neste “jogo do
inimigo”, evitando ao máximo a peleja e
a celeuma.
- Nosso exemplo deve ser, como sempre, o Senhor Jesus.
Desafiado pelos Seus irmãos, Ele simplesmente calou, inclusive Se recusando a
ir com eles para a festa dos tabernáculos, não deixando, porém, de lhes falar a
verdade, mas com candura e sabedoria (Jo.7:1-9).
Muitos aqui procuram ver uma
“mentira” de Jesus, pois Ele teria dito que não iria à festa e acabou indo. No
entanto, não há aqui qualquer “mentira” da parte do Senhor Jesus, mas, sim, uma
atitude de prudência. Além do mais, como o Senhor Jesus disse, Ele não foi à
festa de forma manifesta como queriam Seus irmãos, o que ocorreria apenas na
Páscoa em que Ele foi crucificado, mas foi até Jerusalém de modo oculto, sem
qualquer alarde ou pompa.
- Neste ponto, aliás, é interessante notar que, muitas vezes,
os familiares incrédulos são usados pelo adversário não para nos “crucificar”,
nos desprezar por causa da fé, mas, exatamente, no sentido contrário, ou seja,
na exaltação”, no “soerguimento do nosso ego”.
Os irmãos de Cristo, embora fossem incrédulos, queriam que
Jesus Se apresentasse como o maioral diante do povo em Jerusalém, com ar de
superioridade, algo que, entretanto, era totalmente contrário aos propósitos
divinos estabelecidos para o Senhor em Seu ministério terreno. Muitas vezes, os
familiares incrédulos querem nos levar para um caminho de exaltação e de
arrogância espiritual e precisamos ter o mesmo discernimento que teve Nosso Senhor ao lidar com este caso e a preferir não subir à
festa com eles, mas de modo solitário e humilde.
- Esta atitude de Cristo Jesus para com Seus familiares
leva-nos a ter uma outra lição, qual seja, a de que não podemos nos envolver
com as atitudes pecaminosas de nossos familiares, nem tampouco participarmos de
atividades que não contribuem para a nossa vida espiritual mesmo em família.
- Devemos, em termos familiares, assim como em todos os
demais grupos sociais em que estamos inseridos, somente ir, como diz o pastor
Severino Pedro da Silva (Assembleia de Deus – Ministério do Belém – São
Paulo/SP), “até onde a mão de Deus alcança”. Desta maneira, em nossos
relacionamentos familiares, somente
podemos participar de atividades e atitudes que não comprometam a nossa
comunhão com o Senhor, pois devemos amar a Deus sobre todas as coisas e o amor
a Deus é, sobretudo, a guarda da Sua Palavra (Jo.14:23,24).
- Devemos ter consciência que a divisão espiritual no lar é
consequência da presença de Deus na vida daqueles familiares que servem a Deus,
é algo trazido pelo próprio Cristo e, portanto, não podemos achar que o fato de
não compartilharmos de atitudes mundanas e antibíblicas de nossos familiares
seja um comportamento de nossa parte que promova a dissensão ou a contenda,
como, muitas vezes, o inimigo de nossas almas sopra em nossos ouvidos.
- Não devemos ser antissociais nem arredios ao contato com
nossos familiares não crentes. Devemos ser dóceis, amigáveis, seguindo o
exemplo de Nosso Senhor que tinha uma vida social normal, mas que sabia se
conduzir com sabedoria, sendo por ela justificado (Mt.11:19; Lc.7:33,34).
Devemos participar do convívio familiar até o ponto em que isto não compromete
a nossa vida espiritual. A partir deste ponto, temos de nos afastar, sem
gritaria, sem espetáculo, sem “lições de moral”, sem contenda ou algo similar,
mas afirmando, perante os nossos familiares, a nossa fé em Cristo Jesus.
- Alguém dirá que um comportamento desta natureza poderá
causar, em nossos familiares, a incompreensão. Isto é inevitável, amados
irmãos. Nossos familiares, se incrédulos forem, não compreenderão, mesmo, o nosso
gesto de afastamento das condutas contrárias à Palavra de Deus, mas isto é
resultado da divisão espiritual no lar causada pela vinda de Cristo Jesus à
nossa vida. O Senhor disse que os familiares se voltariam contra nós. Além do
mais é este o sentido da expressão tantas vezes mal interpretada de Mt.10:37, a
saber: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não é digno de Mim; e quem
ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim”. Nosso amor deve
ser a Deus em primeiro lugar, ainda que isto cause incompreensão e um
sem-número de aflições em nossos relacionamentos familiares.
- De forma sábia e sem contendas devemos nos afastar dos
nossos familiares quando eles estão a cometer pecados ou a realizar atividades
embaraçosas que podem nos levar a pecar. Não podemos deixar de reconhecer que,
infelizmente, se incrédulos forem, nossos familiares estarão a serviço do
adversário de nossas almas e, assim, não podemos permitir que, através deles,
sejamos desviados da nossa fé. Sejamos prudentes, amados irmãos!
- Jesus, ao Se afastar da companhia dos Seus irmãos para ir
até a festa dos tabernáculos, dá-nos um exemplo precioso de como devemos agir
nestas situações delicadas, que envolvem os mais sublimes sentimentos nossos,
que envolvem nossos laços familiares, mas que são laços terrenos e que não
podem, de forma alguma, se sobrepor à nossa comunhão com o Senhor.
- É com tristeza que vemos que muitos servos de Deus têm se
deixado enredar por estas teias do adversário e que acabam por perder a fé por
sobreporem os laços familiares à
comunhão com Deus. A contemporização com o pecado leva-nos ao
pecado e jamais poderá trazer os incrédulos à presença de Deus. Lembremos
disto!
- Outro ponto importantíssimo quando estivermos diante da
divisão espiritual no lar é a referente ao nosso testemunho. A importância do
testemunho é tanta que a Bíblia Sagrada diz que o testemunho do crente entre os
seus familiares que não são crentes é fundamental para a salvação dos demais
integrantes da família (I Co.7:16; I Pe.3:1). Eis o motivo pelo qual muitos
familiares de crentes não se convertem: porque seus familiares ditos cristãos
dão péssimo testemunho e se tornam em via de escândalo que impede a salvação
dos entes queridos.
- Não há maior obstáculo à salvação de alguém do que o
péssimo testemunho de um familiar que se diga cristão. Quando, entre as quatro
paredes de nosso lar espiritualmente dividido, não nos comportamos como servos
do Senhor, estamos sendo agentes de Satanás, pois a nossa vida de hipocrisia
será uma poderosíssima arma infernal para impedir a salvação de nossos
familiares incrédulos, pois eles veem claramente a mentira que é a vida
espiritual do que cristão se diz ser, que é um santo entre os irmãos da igreja
local e um verdadeiro demônio dentro de casa. Fujamos disto o quanto antes,
amados irmãos!
- A necessidade de, dentro de nosso lar, apesar de todo o
embate espiritual decorrente da divisão existente entre os que servem a Deus e
os que não O servem, termos um testemunho exemplar é fundamental para que
possamos ganhar nossos familiares para Cristo e, assim, debelarmos o problema
da divisão espiritual no lar.
- Nas duas referências já mencionadas, tanto Pedro quanto
Paulo são enfáticos ao mostrar que o testemunho de um cristão em seu lar é
extremamente relevante para levar à santificação do lar e para a salvação dos
familiares incrédulos. Quando estamos em comunhão com Cristo, santificamos o
nosso lar, passamos a ser uma bênção para a nossa família, ainda que nem toda
ela esteja a servir ao Senhor. É esta,
aliás, a promessa de Abraão que se transmitiu à Igreja (Gl.3:8,9).
- Temos sido uma bênção em nossos lares? Temos levado a
bênção de Deus para os nossos lares, apesar de incompreendidos pelos nossos
familiares incrédulos? Ou temos tido um testemunho que nos faz ser maldição e
malditos? Temos dado motivo para que os familiares se escandalizem do
Evangelho? Se isto tem acontecido, cuidado, amado(a) irmão(ã), pois ai daquele
por quem vem o escândalo (Mt.18:7)!
- Mas o apóstolo Pedro ainda foi além. Disse que as mulheres,
que eram aquinhoadas de uma posição muitíssimo inferior que a dos homens em sua
época, poderiam ganhar seus maridos sem palavra, única e exclusivamente pelo
seu porte, em virtude de sua vida casta em temor (I Pe.3:1,2).
- Será que nosso porte em família, que nossa vida tem
contribuído para a conversão de nossos entes queridos? Será que temos uma vida
casta, ou seja, uma vida pura, uma vida santa, uma vida separada do pecado, que
nos traga uma autoridade moral e espiritual capaz de abalar a incredulidade dos
entes queridos? Ou temos vivido uma vida de hipocrisia que destrói qualquer
possibilidade de, através de nós, os
nossos familiares chegarem a um
encontro pessoal com Cristo Jesus?
- Mahatma Gandhi (1869-1948), o grande líder pacifista
indiano, afirmou certa vez: “Amo o cristianismo, mas odeio os cristãos, pois
não vivem segundo os ensinamentos de Cristo”. Será que, da mesma forma que
Gandhi, nossos familiares incrédulos também têm odiado a sã doutrina em virtude
de nosso testemunho? Pensemos nisto!
- Neste testemunho, aliás, está incluído o que estamos a
fazer em nossos lares, como estamos a viver. Lamentavelmente, não são poucos os
lares em que não se tem ali uma igreja, mas, sim, um pedaço do mundo. Quantos
não têm, ultimamente, transformado seus lares em altares para o pecado e para o
mundo em vez de altares para Deus. Nestes lares, não há mais culto doméstico,
mas, por intermédio dos meios de comunicação de massa, ali se tem propagado a
prostituição, a blasfêmia, a impureza, a malícia e tanta coisa imoral.
- Como podemos, então, falar do amor de Cristo a nossos
familiares, se comungamos com todo o pecado que tem grassado no mundo? Como
podemos levar nossos familiares incrédulos a Cristo se, em nossos próprios
lares, estamos a compartilhar dos valores e princípios mundanos e pecaminosos?
Como podemos levar as almas para Cristo, se nós mesmos estamos sendo levados
pela onda da apostasia que nos leva ao diabo?
- Ante a divisão
espiritual no lar, devemos dar bom testemunho e este testemunho inclui, também,
a resignação e o perdão, duas atitudes que somente pelo Espírito Santo que está
em nós pode nos ajudar a realizar.
- No relato bíblico a respeito da malévola ação de seus
irmãos contra si, não há qualquer atitude de José que revele revolta ou
agressividade. Não há qualquer registro de que José tenha insultado seus
irmãos, pedido clemência, lançado pragas contra eles ou que tenha agredido seus
algozes até em legítima defesa de sua pessoa. José manteve-se resignado, sem
qualquer reação. José é tipo de Jesus e a Bíblia nos diz que Jesus, quando era
injuriado, não injuriava e quando padecia não ameaçava, mas Se entregava Àquele
que julga justamente (I Pe.3:23).
- Assim também se portou o rei Davi diante da rebelião
promovida por seu filho Absalão. Resignadamente, tendo sabido da revolta e do
apoio popular, Davi resolve deixar
Jerusalém, evitando uma batalha pelo domínio da capital, inclusive demonstrando
que se punha nas mãos do Senhor, como revela no momento em que manda que a arca
seja levada de volta para Jerusalém por parte dos sacerdotes Zadoque e Abiatar
(II Sm.15:14,25,26).
- Deve ser esta a nossa reação diante dos ataques que forem
promovidos por nossos familiares incrédulos em virtude nossa fé em Cristo
Jesus. Devemos manter uma atitude de resignação, não respondendo o mal com o
mal, mas, antes, o mal com o bem (Rm.12:21).
Devemos, diante destas perseguições, nos alegrar e exultar porque é grande o nosso galardão nos
céus (Mt.5:11,12).
- Não devemos fazer eloquentes discursos e sermões que criem
mais contenda ou discussão, mas tão somente nos voltarmos para o Senhor,
pedirmos direção e orientação, deixando que, se necessário for, as palavras que
saiam de nossas bocas não sejam nossas mas do Espírito Santo, até porque o
Senhor assim nos prometeu, como se vê em Lc.21:12-19.
- Nesta promessa do Senhor, ademais, está outra conduta
que devemos tomar ante as perseguições e
aflições decorrentes da ação de nossos familiares incrédulos contra nós por
causa do nome de Jesus. É a atitude da paciência. “Na vossa paciência, possuí
as vossas almas” (Lc.21:19). Diante do ódio de nossos familiares incrédulos por causa de nossa fé
em Jesus, reajamos com a paciência.
- A Bíblia de Jerusalém assim traduz Lc.21:19: “É pela
perseverança que mantereis as vossas vidas!” Notamos, portanto, que, ante as
aflições decorrentes da divisão espiritual no lar, devemos perseverar na fé,
pois aquele que perseverar até o fim será salvo (Mt.24:13).
Ante o embate espiritual em nosso próprio “ninho”, temos de
continuar firmes com Jesus. Como diz o poeta sacro traduzido/adaptado pelo
pastor Paulo Leivas Macalão: “Eu quero estar com Cristo, onde a luta se travar”
(primeiro verso da estrofe do hino 212 da Harpa Cristã). O segredo é se manter
ao lado do Senhor Jesus.
- A paciência, que é fruto precisamente da tribulação
(Rm.5:3), levar-nos-á a ter experiência e esta experiência, por sua vez,
produzirá a esperança (Rm.5:4,5), que é fundamental para que mantenhamos uma
vida espiritual sadia e, no tocante a nossos familiares incrédulos, nos manterá
na luta espiritual pela intercessão pela sua conversão, como também nosso porte será um poderoso meio de
evangelização.
- Mas, além da paciência, devemos nos portar, ante a divisão
espiritual no lar, com o perdão. José, já governador do Egito, não agiu com
vingança para com seus irmãos, mas entendeu que tudo aquilo fora plano de Deus
para a salvaguarda da nação israelita e, assim, o prosseguimento do propósito
iniciado com Abraão (Gn.50:14-21).
- Apesar de todo o mal que possam nossos familiares
incrédulos nos realizar, temos de perdoá-los, pois, assim fazendo, estaremos
dando testemunho de Cristo Jesus e contribuindo para a sua conversão. As
feridas causadas por familiares são as mais difíceis de lidar, porquanto são
nosso sangue, são pessoas muito próximas a nós, mas é aí que temos de agir como
Jesus.
- José não retribuiu o mal com o mal, mas venceu o mal com o
bem. Assim devemos nós também agir. De igual maneira, procedeu Davi, que não
queria, de modo algum, que Absalão fosse morto e, ao saber de sua morte, demonstrou
toda a sua contrariedade com o gesto de Joabe (II Sm.18:5, 32, 33).
- O perdão é uma atitude que demonstra toda a nossa liberdade
em Cristo Jesus. Através do perdão, desfazemos todos os nós criados pelo
inimigo de nossas almas e, destarte, mostramos que realmente temos o amor de
Deus, que Cristo eficazmente liberta do pecado e do mal. Será que as mágoas e
rancores que temos acumulado ao longo dos anos em nossos relacionamentos
familiares não têm sido os principais impedimentos e obstáculos para que nossos
familiares se convertam a Cristo?
- Como podemos testificar que Cristo perdoa os pecadores se
nós não perdoamos aos nossos entes queridos? Como podemos testificar que Deus é
amor, se dizemos que Deus está em nós, mas somos incapazes de perdoar? Pensemos
nisto!
- Por fim, outra atitude que não pode faltar num lar
espiritualmente dividido é a nossa determinação para que haja a salvação de
nossos entes queridos. Não podemos desistir da intercessão pela conversão deles
nem tampouco pela sua evangelização.
- O Senhor Jesus é, uma vez mais, o exemplo a ser seguido.
Seus irmãos não criam n’Ele, Seus familiares eram os Seus primeiros inimigos,
mas, antes de subir aos céus, o Senhor todos ganhou para Si. Um dos objetivos
para Sua permanência na Terra por quarenta dias após a Sua ressurreição foi a
salvação de Sua família.
- Sua mãe, que havia vacilado no episódio da tentativa de
prisão de Jesus, já se encontrava aos pés da cruz nos derradeiros momentos de
Cristo e o Senhor, mostrando todo o valor que se deve dar à família, abriu um
hiato no Seu trabalho de salvação da humanidade para não deixar Sua mãe
desamparada, pondo-a aos cuidados de João (Jo.19:27).
- Ao deixar de realizar a obra para a qual tinha vindo a este
mundo para amparar a Sua mãe, Cristo mostra a importância que a família tem
para Deus e, por isso mesmo, não se pode querer resolver a questão da divisão
espiritual no lar com a destruição da família. Quantos desmantelados, na
atualidade, não têm defendido o divórcio ou a saída dos filhos de casa como
solução da aflição da divisão espiritual no lar?
- Como o apóstolo Paulo deixou registrado no texto sagrado,
não pode partir, em absoluto, do familiar cristão a iniciativa para a
destruição do convívio familiar: “Se algum irmão tem mulher descrente e ela
consente em habitar com ele, não a deixe. E, se alguma mulher tem marido
descrente e ele consente em habitar com ela, não o deixe” (I Co.7:13,14).
- Deus criou a família e aborrece tudo quanto signifique a
destruição da família, daí porque aborrece o divórcio (Ml.2:16). Como costuma
dizer o pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da CGADB, o
divórcio nunca é uma solução, quando muito, será um remédio.
- Não se resolve o problema da divisão espiritual no lar com
o abandono do lar. Jesus, apesar de toda a perseguição sofrida em Seu lar, não
O abandonou e, mesmo parou de dar continuidade à Sua obra salvadora, para
resolver o problema do amparo de Sua mãe.
- Mas não ficou nisso apenas! As Escrituras registram, ainda
que de modo bem sucinto, que, já ressurreto, o Senhor apareceu a Seu irmão
Tiago (I Co.15:7) e esta aparição foi o início do processo de conversão de
todos os Seus irmãos, tanto que todos eles estavam com Sua mãe no cenáculo e,
em virtude disto, foram batizados com o Espírito Santo (At.1:14).
- Jesus não desistiu de Sua família e não subiu aos céus
enquanto todos eles não se converteram. Que exemplo a ser seguido por nós!
Nunca devemos desistir da conversão de nossos entes queridos, pois é esta
perseverança que provará o nosso amor para com estes entes queridos.
- A persistência de Nosso Senhor fez com que dois de Seus
irmãos tivessem importante papel na Igreja. Tiago e Judas acabaram por escrever
epístolas que hoje compõem a Bíblia Sagrada, tendo Tiago, ademais, sido pastor
da Igreja em Jerusalém (At.15:13).
- Jesus não mudou, amados irmãos. Ele é o mesmo (Hb.13:8) e,
se estivermos ao Seu lado, tenha certeza de que Ele não desistirá da salvação
de nossos entes queridos. Basta crermos e esperarmos, cooperando com o Senhor
através de nosso testemunho, paciência e perdão.
Colaboração para o portal: Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
This entry was posted on terça-feira, 7 de agosto de 2012 at 10:45. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
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