Lição 5: A travessia do Mar Vermelho
Título
INTRODUÇÃO
Na sequência do estudo do livro de Êxodo, estudaremos hoje a porção de Ex.12:37 até Ex.15:22, que nos fala da vitória final dos israelitas sobre Faraó e o Egito, com a travessia do Mar Vermelho.
- A travessia do Mar Vermelho simboliza a irreversibilidade da vida nova com Deus.
I – A PARTIDA DOS FILHOS DE ISRAEL
- Naquela noite terrível para os egípcios, debaixo da pressão de todo o povo que chorava seus primogênitos, Faraó permite a saída dos filhos de Israel que, já devidamente preparados, apressadamente partem do Egito, sendo, aliás, ainda mais apressados pelos próprios egípcios, que estavam aterrorizados com a perspectiva de que a permanência de Israel lhes ceifasse também a vida (Ex.12:33).
- Na saída, como vimos na lição anterior, Israel despojou os egípcios, pois estes lhes deram vasos de ouro e de prata, além de vestidos, de modo que Israel não saiu do Egito de mãos vazias, mas devidamente indenizado pelos anos de trabalhos forçados que tiveram de executar durante a opressão (Ex.12:35,36).
- Ao saírem de Ramessés, onde parece que todo o povo de Israel, ao longo das pragas, foi se ajuntando, cidade onde executavam, há séculos, as suas obras servis (Ex.1:11), que alguns identificam como sendo Aváris, a capital do período hicso (o que reforça a tese de que o Faraó do Êxodo tenha sido Amósis I), capital que foi, posteriormente reconstruída e tornada a capital do Egito por Ramsés II (que também permite se pense tenha sido ele o Faraó do Êxodo). OBS: Nada impede, porém, que os israelitas tenham se dirigido para Ramessés ao longo das pragas, como defendem aqueles que entendem que o Faraó do Êxodo tenha sido Amenotepe II, que teria se utilizado dos israelitas nas várias construções que determinou ao longo de seu reinado, ele que tinha grande repugnância pelos não-egípcios que habitavam em seu território.
- Partindo de Ramessés, os israelitas foram para Sucote, região ali próxima, também situada na região do Delta do Nilo. Os israelitas não saíram sozinhos, também a eles se uniram um grupo que as Escrituras identificam como sendo “uma mistura de gente”, que o jornalista judeu-canadense Simcha Jacobivici (1953- ), em seu documentário “O Êxodo decodificado” (Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=jcPAJUIeZJk
Acesso em 05 dez. 2013), entende serem gregos que viviam no Egito e eram a base de um intenso comércio entre o Egito e a Grécia, que, diante das pragas, desistiram de ali continuar a viver.
Acesso em 05 dez. 2013), entende serem gregos que viviam no Egito e eram a base de um intenso comércio entre o Egito e a Grécia, que, diante das pragas, desistiram de ali continuar a viver.
- Os israelitas saíram tão apressadamente, que levaram a massa de pães que tinham preparado para seu consumo sem que a mesma pudesse ter levedado (Ex.12:34), o que fez com que cozessem bolos asmos para sua alimentação, já que não houve tempo nem para que a massa levedasse, nem para que preparassem comida (Ex.12:39).
- Assim, após a instituição da primeira páscoa, por força até das circunstâncias, já iniciaram a celebração da festa dos pães asmos. A saída do Egito dá-se, então, sob a proteção do sangue do cordeiro pascal e mediante a alimentação por pães asmos, alimentação que prosseguiu mesmo após a refeição pascal.
- Isto nos ensina que, após termos sido lavados no sangue de Cristo, que nos ganhou o perdão dos nossos pecados, devemos nos manter, em nossa jornada rumo ao céu, nos alimentando de pães asmos, ou seja, devemos ter uma vida de sinceridade e de verdade, pois é isto que representam e simbolizam os pães asmos (I Co.5:8). Sendo lavados pelo sangue de Cristo, não podemos mais nos contaminar com a maldade e com a malícia. Devemos, a exemplo de Cristo, andar fazendo bem, curando a todos os oprimidos do diabo (At.10:38).
- Não é, aliás, por outro motivo que Moisés também estabelece a festa dos pães asmos (Ex.13:3-10), a ser celebrada de ano em ano, após a Páscoa, para que as gerações subsequentes de Israel jamais se esquecessem o que o Senhor havia feito por Israel no Egito: “Isto é pelo que o Senhor me tem feito, quando eu saí do Egito. E te será por sinal sobre tua mão e por lembrança entre teus olhos, para que a lei do Senhor esteja em tua boca; porquanto com mão forte o Senhor te tirou do Egito” (Ex.13:8,9). Era uma forma de tornar permanente a libertação ocorrida no Egito na mente e no coração dos israelitas.
- Esta festa simboliza a santificação, que deve se iniciar com o perdão dos nossos pecados e perdurar até o fim, sem o que não veremos o Senhor (Hb.12:14). “…Assim como a Festa dos Pães Asmos era celebrada imediatamente após o sacrifício da páscoa, aquele que é redimido pelo sangue de Cristo, deve imediatamente prosseguir em seu caminho em processo de santificação: “…aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2 Coríntios 7:1) …” (GERAÇÃO Maranata. As festas judaicas e seu cumprimento profético – Matzot. Disponível em:
http://geracaomaranata.com.br/2011/10/as-festas-judaicas-e-seu-cumprimento- profetico-matzot/ Acesso em 05 dez. 2013). OBS: “…a matsá [o pão asmo, observação nossa] serve de lembrança da natureza de nossa Redenção: a mudança, súbita e drástica, que D’us realizou em nossas vidas, o processo que transformou escravos em homens livres. Quando chegou a hora da libertação, para aqueles escravos oprimidos foi difícil compreender em toda a sua profundeza aquele evento sem precedentes na História humana, no qual eram protagonistas passivos.
Mais difícil ainda entender o papel para o qual Ele os escolhera. Tudo que tinham era fé em D’us – uma fé que perseverara através do longo e amargo exílio. E, na véspera de Pessach, D’us a reacendeu revelando, de forma extraordinária e única, o Seu poder e a Sua verdade – libertando os hebreus da escravidão física e espiritual em que se encontravam.(…) Foi esta fé, unicamente, o que nos tirou do Egito e nos conduziu até o Sinai.
A matsá não é, portanto, um alimento insípido, tem o sabor da fé e da liberdade.” (MATSÁ, o pão da fé e da liberdade. Revista Morashá, edição 52, abr. 2006. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=582&p=1 Acesso em 05 dez. 2013).
- Moisés, então, afirma que o tempo que os israelitas habitaram no Egito foi de quatrocentos e trinta anos (Ex.12:40). Este texto tem gerado muita polêmica, pois, diante desta afirmação, muitos acham que Israel passou todo este tempo no Egito, o que, entretanto, não nos parece ser a melhor interpretação.
- Aqui, Moisés faz clara alusão à promessa que Deus havia feito a Abrão, em Gn.15:13, quando o Senhor, em resposta à pergunta de Abrão, a respeito de como saberia ele que haveria de herdar a terra de Canaã, diz que haveria uma aflição de quatrocentos anos.
- Entendem, então, alguns estudiosos, que o período de quatrocentos e trinta anos mencionado por Moisés alude a todo o período de peregrinação de Abrão até a libertação do Egito. Assim, a contagem destes quatrocentos e trinta anos se iniciaria não na chegada de Jacó ao Egito, mas, sim, da partida de Abrão de Ur dos caldeus, como se verifica de Gn.15:7. Este pensamento é corroborado por Gl.3:17, quando Paulo diz que, da promessa dada a Abrão até a lei, houve um lapso de quatrocentos e trinta anos.
- Explica-se, inclusive, dentro desta perspectiva, a diferença de trinta anos que há entre Ex.12:40 e Gn.15:3, pois Abrão foi chamado em Ur dos caldeus quando tinha setenta anos de idade, visto que houve um lapso de tempo entre a sua partida de Ur dos caldeus e sua ida para Canaã, pois, antes, parou em Harã (At.7:4), de onde somente saiu quando tinha já 75 anos de idade. Ora, tinha ele 100 anos quando Isaque nasceu (Gn.21:5), o que explica a diferença de 30 anos entre as duas referências, pois uma conta o tempo entre a saída de Ur dos caldeus e a saída do povo de Israel do Egito, ou seja, 430 anos, enquanto a outra referência conta desde o nascimento de Isaque, o filho da promessa que começa a viver em terra estranha até a saída do povo de Israel do Egito.
- Flávio Josefo concorda com esta cronologia, ao afirmar, em seu livro Antiguidades Judaicas, “in verbis”: “…Os israelitas saíram do Egito no mês Xantico ou Nisã, a quinze da lua, quatrocentos e trinta anos depois que Abraão, nosso pai, tinha vindo à terra de Canaã e duzentos e quinze anos depois que Jacó veio ao Egito. Moisés tinha, então, oitenta anos e Arão, seu irmão, oitenta e três. Levaram consigo os ossos de José como ele havia determinado aos seus filhos.…” (Antiguidades Judaicas II, 6, 96. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.61).
- É esta, também, a posição de Edward Reese e Frank Klassen, em sua Bíblia em ordem cronológica (quadro a p.100 daquela obra), onde demonstram que a descendência de Abraão ficou peregrinando em Canaã durante 215 anos, ou seja, metade dos 430 anos mencionados em Ex.12:40,41, tomando por base Gn.12:1-10; 21:23,33-34, Gn.24:2-4; At.7:17 e Hb.11:8,9 e outros 215 anos no Egito, diante do fato de que Jacó tinha 130 anos quando Israel começa a residir no Egito (Gn.47:1-12; Dt.26:5 e Sl.105:23). Segundo estes dois cronologistas bíblicos, o período de escravidão no Egito durou 80 anos (Dt.26:6; At.7:6-37), o que faria com que a opressão tivesse tido início precisamente no ano do nascimento de Moisés.
- Não devemos, ademais, esquecer-nos que Moisés inicia o livro de Êxodo em sequência ao livro de Gênesis, ou seja, sob a perspectiva da promessa de Deus a Abraão, Isaque e Jacó, promessa que havia ficado muito firme no coração e mente de José, como se deixa claro no final do livro de Gênesis, de forma que a consideração do período de “quatrocentos e trinta anos”, embora se diga de habitação no Egito, leva em conta, na
verdade, o período de peregrinação em terra alheia, o que é também é reforçado pelo escritor aos hebreus em Hb.11:9.
verdade, o período de peregrinação em terra alheia, o que é também é reforçado pelo escritor aos hebreus em Hb.11:9.
- Deus, então, dava cabal cumprimento ao que havia prometido a Abrão e Israel seguia, portanto, em direção ao monte Sinai, como o Senhor havia dito a Moisés (Ex.3:12), a fim de servir ao Senhor e tomar posse da promessa que havia sido dada a Abrão, de se tornar uma grande nação, que haveria de se bendizer todas as nações da Terra (Gn.12:1- 3).
- Estava-se na “noite do Senhor”, que deveria ser guardada perpetuamente pelos filhos de Israel, como lembrança da libertação do Egito e tal comemoração deveria ter regras bem explícitas, que o Senhor deu a Moisés e a Arão, a saber:
- Por primeiro, que nenhum filho de estrangeiro poderia comer dela (Ex.12:42). A Páscoa servia para comemorar a libertação de Israel do Egito e um dos pressupostos desta libertação foi o fato de Israel não ter se misturado com os egípcios. Havia saído com os israelitas uma “mistura de gente”, mas o Senhor deixa bem claro que tinha compromisso apenas com o Seu povo e que somente ele poderia celebrar a Páscoa. Daí porque os servos que fossem devidamente circuncidados, poderiam comer dela (Ex.12:44,47,48).
- Eis o motivo, amados irmãos, pelos quais somente pode participar da ceia do Senhor, que veio substituir a Páscoa, aqueles que sabemos que pertencem ao povo de Deus, à Igreja, que são aqueles que publicamente confessaram o nome do Senhor Jesus no batismo das águas. Há hoje uma preocupante “inovação” em nosso meio de permitir a participação na ceia do Senhor de todos quantos quiserem fazê-lo, o que é uma profanação abominável e inadmissível. Somente podem participar da ceia do Senhor aqueles que sabemos pertencer ao povo de Deus, ou seja, os que foram devidamente batizados nas águas.
- Por segundo, a Páscoa deveria ser celebrada em uma casa, mantendo-se, pois, a ideia da solidariedade, de que já falamos na lição anterior, ideia esta que deveria nortear o nascimento da novel nação, não podendo ser a Páscoa comida fora de casa, ou seja, deveria ser sempre celebrada num ambiente de comunhão, com reverência, na presença de Deus, pois, como sabemos, a refeição para os judeus é um momento sagrado, a continuidade do próprio sacrifício (Dt.14:26). OBS: “…Não devemos nos preocupar com aquilo que comemos pelo nosso corpo, mas sim por nossa alma.
É isso que faz dos judeus o primeiro povo do mundo a ter descoberto o conforto provido pelos alimentos para a alma! (…) Santidade é a capacidade de elevarmos aqueles instintos básicos que compartilhamos com os animais a um nível espiritual superior. Os animais, assim como nós, necessitam de alimento. Entretanto, se elevarmos o ato mundano de comer através do cumprimento de uma lei religiosa, transformaremos uma satisfação física em uma satisfação espiritual…” (BLECH, Benjamin. O mais completo guia sobre judaísmo, pp.256-7).
- Vemos, então, com grande preocupação outras “inovações” que temos verificado ao longo dos anos, onde se permite a celebração da ceia do Senhor em circunstâncias de irreverência, de forma apressada e atabalhoada, seja entre pessoas que, durante a celebração da ceia, estão a desempenhar tarefas na igreja, seja entre pessoas que tomam a ceia em outro horário. Já soubemos até de casos de pessoas que recebem a ceia na rua, enquanto estão vigiando os carros dos irmãos.Isto é totalmente inadmissível!
- Por terceiro, a Páscoa tinha de ser celebrada de tal maneira que não se quebrassem os ossos do cordeiro pascal. Como tipo de Cristo Jesus, os ossos do cordeiro não podiam ser mesmo quebrados, pois o Cordeiro de Deus não teria quebrado qualquer dos Seus ossos (Sl.34:20; Jo.19:36).
- Após estas “leis adicionais” a respeito da Páscoa, que como que cristalizam a nova vida que os israelitas passaram a ter, como um povo livre e que deveria, portanto, ter uma cultura própria e distinta dos demais povos, o Senhor ainda determinou a Moisés que dissesse ao povo que, a partir de então, os primogênitos passariam a pertencer ao Senhor, pois Ele os havia poupado da morte quando da noite da Páscoa (Ex.13:1,2).
- Tudo o que abrisse a madre deveria ser oferecido ao Senhor ou, então, no caso de ser animal que não pudesse ser ofertado ou de um ser humano, deveriam ser resgatados com cordeiro ou cabrito, como lembrança da libertação ocorrida no Egito (Ex.13:13- 16).
- Os primogênitos haviam passado da morte para a vida na “noite do Senhor” e, por isso, pertenciam agora ao Senhor. Nesta nova vida, os que foram poupados pelo sangue do cordeiro pascal, não mais se pertenciam, mas, sim, a Deus. De igual modo, amados irmãos, quando somos lavados pelo sangue de Cristo Jesus, não mais nos pertencemos, passamos a ser do Senhor (I Co.1:30; 6:19,20). Por isso, pôde o apóstolo Paulo dizer, de modo adequadíssimo, que não mais vivia, mas Cristo é quem nele vivia e a vida que ele agora vivia a vivia na fé do Filho de Deus (Gl.2:20).
- Os primogênitos, que gozavam de posição privilegiada no meio do povo, passaram a ser do Senhor, como prova de que todo o povo era, doravante, do Senhor. A primazia em Israel deveria ser de Deus. O povo somente é livre e ser de Deus quando Deus ocupa o primeiro lugar. Será que podemos dizer que pertencemos ao povo de Deus? Pensemos nisto!
- Por terem saído do Egito com mão forte do Senhor e por Lhe terem dado a primazia, os israelitas passaram a andar na direção de Deus e não na própria direção. Moisés sabia, claramente, qual era o caminho para a terra de Canaã, sabiam os filhos de Israel, também, que este era o seu destino e, mais do que isto, que tinham de passar pelo monte Sinai antes de irem para Canaã, pois assim o Senhor havia determinado quando do encontro com Moisés (Ex.3:12).
- No entanto, os filhos de Israel haviam conhecido o poder de Deus e reconhecido que era o Senhor quem os havia de guiar. Nesta vida nova com Deus, não podiam seguir os seus caminhos, mas os caminhos do Senhor. Será que temos agido da mesma maneira, amados irmãos? Será que temos nos deixado guiar pelo Espírito Santo, que vem até nós exatamente para nos guiar em toda a verdade (Jo.16:13)?
- Por isso, o texto sagrado nos diz que “Deus não os levou pelo caminho da terra dos filisteus, que estava mais perto; porque Deus disse: para que, porventura, o povo não se arrependa, vendo a guerra, e tornem ao Egito. Mas Deus fez rodear o povo pelo caminho do deserto perto do Mar Vermelho” (Ex.13:17,18a).
- Israel seguiu a direção divina e, por isso, não partiram pela costa (naquele tempo não havia o canal de Suez, que hoje criou uma comunicação do Mar Vermelho com o Mar Mediterrâneo), o que seria muito mais fácil, pois, até hoje, mesmo com o canal de Suez, é muito mais cômodo ir do Egito para a terra de Canaã pela costa do Mar Mediterrâneo, que o digam os vários túneis que fazem ligação, hoje em dia, entre a Faixa de Gaza (atualmente controlada pelo grupo Hamas) e o Egito, que tanta dor de cabeça dão aos israelenses.
- No entanto, o Senhor não quis este caminho “mais fácil”, porque ele faria com que os israelitas tivessem de passar pela terra dos filisteus, o que os levaria a uma guerra que poderia fazê-los querer tornar ao Egito. Embora os israelitas tivessem saído armados do Egito (Ex.13:18 “in fine”), não estavam, ainda, preparados para a guerra. Não era momento de guerrear, mas de se consolidar como povo de Deus.
- Além do mais, o povo deveria tomar um caminho irreversível, que tornasse impossível ou, pelo menos, extremamente dificultosa uma eventual volta para o Egito. Deus conhecia o coração do povo e sabia que, mais cedo ou mais tarde, eles desejariam retornar ao Egito e isto não poderia ser, de modo algum, facilitado, motivo por que mandou que o povo tomasse o “caminho do deserto perto do Mar Vermelho”.
- Isto ainda ocorre em nossos dias. O Senhor nos santifica, nos separa do pecado quando nos salva e quer que sigamos a Sua direção. Esta direção nos levará para caminhos difíceis, mas que nos separarão definitivamente do pecado. Muitos, no entanto, após receberem a libertação do Senhor, preferem ir para o “caminho mais fácil”, caminho que, infelizmente, os levará de volta ao Egito, de volta à escravidão do pecado. É este “caminho fácil”, o caminho sem a necessária e indispensável santificação, que tem sido tomado por muitos, na atualidade, em nome de um “evangelho light”, de um falso evangelho, de um evangelho enganador. Sigamos a direção de Deus!
- Na saída do povo, Moisés tomou os ossos de José, cumprindo assim o juramento feito pelos filhos de Israel (Ex.13:19). José, assim, de certa maneira, participava da saída do povo e os israelitas, ao verem seus ossos, podiam sempre refletir de que Deus era fiel, de que as Suas promessas sempre são cumpridas e que vale a pena confiar em Deus.
- Deus guiava o povo, indo adiante dele, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho e, de noite, numa coluna de fogo, para os alumiar, para que caminhassem de dia e de noite, direção que jamais faltou até o povo entrar na Terra de Canaã (Ex.13:21,22).
- Deus promete, também, nos guiar em toda a nossa jornada até chegarmos até Canaã celestial. Devemos prosseguir, seja durante o dia, seja durante a noite, em nosso objetivo de chegarmos até o céu. O Senhor prometeu estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt.28:20), de modo que não temos qualquer desculpa para não sabermos como nos conduzir neste mundo. Basta estarmos atentos aos sinais que Deus nos der.
- Surge, aqui, então, a discussão a respeito do caminho tomado pelos israelitas. Não é fácil a identificação dos lugares mencionados no livro de Êxodo, pois os nomes utilizados são os que eram usados pelos israelitas que viviam no Egito, não havendo qualquer registro que faça uma comparação entre os nomes atribuídos pelos hebreus e os nomes usados pelos egípcios.
- Acima, já vimos que há discussão sobre a identidade de Ramessés, e o mesmo se deve dizer com relação a Sucote e a Etã, onde os israelitas acamparam na entrada do deserto (Ex.13:20).
- O mesmo se dá, também, com relação ao Mar Vermelho. No texto original hebraico, a expressão que temos como “Mar Vermelho” é “Yam Sûf”, que, na verdade, significa “mar dos juncos”, como, aliás, é traduzida pela Bíblia de Jerusalém. Por isso, o jornalista judeu-canadense Simcha Jacobivici, no documentário já mencionado, entende que este lugar era o lago El Balah (que, em hebraico, significa, “o lugar onde Deus devorou), que era conhecido pelos egípcios como ‘Patufy” (cujo significado é “mar pantanoso” ou “mar de juncos”), que secou após a construção do canal de Suez, em 1850, e que ali se teria dado a travessia e a morte dos egípcios. OBS: A confusão em língua inglesa é ainda mais perceptível pois “Mar Vermelho”, em inglês é “Red Sea” e “mar dos juncos” é “Reed Sea”, ou seja, há muita semelhança entre as palavras “red” (vermelho) e “reed” (junco).
- Outros, no entanto, como o polêmico pesquisador norte-americano Ronald Eldon Wyatt, conhecido como Ron Wyatt (1933-1999), acham que se trata efetivamente do Mar Vermelho, que os israelitas teriam partido de Sucote por meio de uma ravina, ou seja, uma depressão causada pela erosão, até a praia de Nuweba, no golfo de Ácaba, de onde teriam atravessado para o lado saudita. Wyatt fez algumas explorações neste local e entende ter encontrado vestígios do exército egípcio, bem como colunas que teriam identificado o local da travessia e que teriam sido construídas no tempo do rei Salomão (veja slides a respeito. Disponível em: http://pt.slideshare.net/ribercor/travessia-no-mar- vermelho-aconteceu-e-est-provado-presentation Acesso em 05 dez. 2013, como também o artigo “As provas do Êxodo – capítulo 1” de autoria do pastor Monteiro Júnior. Disponível em: http://www.opesquisadorcristao.com.br/2009/07/as-provas-do- exodo.html Acesso em 05 dez. 2013).
II – A TRAVESSIA DO MAR VERMELHO
- Quando o povo estava em Etã na entrada do deserto, o Senhor mandou que Moisés fizesse os filhos de Israel voltar e se acampassem diante de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar, diante de Baal-Zefom (Ex.14:1,2). Este aparente retorno daria a impressão de que o povo estava desnorteado e era mesmo esta impressão que o Senhor queria causar em Faraó, para, então, tornar totalmente irreversível a possibilidade de o povo ser novamente escravizado pelo Egito.
- O Senhor, então, revelou a Moisés o que iria acontecer, pois, como temos visto ao longo deste trimestre, Deus sempre revela os Seus segredos aos Seus servos, os profetas (Am.3:7). O Senhor revelou a Moisés que Faraó endureceria ainda uma vez o seu coração e tentaria re-escravizar os israelitas, mas o Senhor seria glorificado em Faraó e em todo o exército do Egito e, então, os egípcios saberiam que o Senhor era o único e verdadeiro Deus (Ex.14:2-4).
- Alguém poderia dizer que todas as dez pragas já tinham sido suficientes para mostrar que Deus era o Senhor, mas isto não corresponde bem à realidade. Faraó ainda não havia sido diretamente atingido. As duas últimas pragas haviam atacado duramente a imagem de Faraó, mas ele ainda não havia sido diretamente atingido. Somente quando fosse derrotado com a destruição de seu exército, quando não conseguisse impedir a
destruição de sua força maior, de seu próprio poder, aí, sim, ficaria demonstrado que o “Deus dos hebreus” era o único e verdadeiro Deus, que Faraó nada era senão um mero ser humano como os demais.
destruição de sua força maior, de seu próprio poder, aí, sim, ficaria demonstrado que o “Deus dos hebreus” era o único e verdadeiro Deus, que Faraó nada era senão um mero ser humano como os demais.
- Assim que Faraó soube que os israelitas haviam voltado para Pi-Hairote, interpretou esta manobra como um desnorteio, ou seja, como uma falta de orientação e, assim, entendeu que os israelitas estavam sem direção e poderiam ser facilmente reduzidos de novo à escravidão. Seu orgulho não havia se demovido nem mesmo com a morte de seu filho primogênito e, o que é mais grave, também os seus servos foram contaminados por esta soberba, cerrando fileiras novamente atrás de seu líder nesta investida para trazer de volta os hebreus. Sobreveio-lhes um enorme arrependimento por terem deixado os hebreus partir: “ Por que fizemos isso, havendo deixado ir a Israel para que nos não sirva?” (Ex.14:5 “in fine”).
- Quando se tem o coração endurecido, quando se tem o coração preso pelas coisas desta vida, não há milagre, não há castigo que possa demover os incrédulos, os duros de coração, os duros de cerviz. Assim como Faraó, ao longo dos séculos, são milhões e milhões aqueles que não abrem qualquer possibilidade de arrependimento em seus corações, aqueles que não aceitam se submeter a Deus, que O desafiam. Estes acabarão sendo destruídos, pois se se colocam contra Deus, como poderão ter algo de bom em suas vidas? OBS: Por sua biblicidade, cabe aqui reproduzir trecho do Catecismo da Igreja Romana, muito adequado para o que estamos a tratar: “…A misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna (§ 1894 CIC).
- A praga dos primogênitos não tinha sido ainda suficiente para mostrar ao Egito que o Senhor era o único e verdadeiro Deus. As pragas haviam sido suficientes para mostrar que os deuses egípcios nada eram, mas ainda não havia se demonstrado que Deus era o único e verdadeiro Deus. Para tanto, era indispensável mais um juízo, juízo este que se efetivaria com outro grande sinal, onde, aí, sim, o nome do Senhor seria glorificado diante do Egito.
- Faraó logo conseguiu arregimentar seu povo para tentar trazer de volta os seus ex- escravos. Pôde reunir todos os seus capitães, como também seiscentos carros escolhidos e todos os carros do Egito, a fim de perseguir os israelitas que, tidos como desorientados, seriam facilmente sujeitos à dominação (Ex.14:4-8).
- Mas, por incrível que pareça, não eram os egípcios apenas que ainda não estavam definitivamente convencidos de que o Senhor era o único e verdadeiro Deus. O próprio povo de Israel ainda não estava inteiramente convencido disto. Tanto que, em se aproximando o exército de Faraó dos israelitas, estes, na primeira prova que tiveram para atestar a sua fé, fracassaram.
- Assim que notaram a aproximação dos egípcios, os israelitas, em vez de clamarem a Deus, que, afinal de contas, os estava guiando, preferiram a alternativa mais fácil, que foi a murmuração: “Não havia sepulcros no Egito, Moisés, para nos tirares de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos fizeste isto, que nos tens tirado do Egito? Não é esta a palavra que te temos falado no Egito, dizendo: Deixa-nos, que sirvamos aos egípcios? Pois que melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos no deserto” (Ex.14:11,12).
- Não só os egípcios haviam se arrependido de deixar o povo de Israel ir, mas os próprios israelitas haviam se arrependido de ter partido! Que absurdo! Que incredulidade! Que falta de conversão! Sem dúvida alguma, apesar de sua intensidade, a praga dos primogênitos e, porque não dizer, todas as dez pragas tinham sido insuficientes para levar egípcios e israelitas a glorificar o Senhor.
- Israel mostra, assim, mesmo antes de sair definitivamente do território egípcio, que não estava nem um pouco preparado para receber as promessas de Abraão, como haveremos de ver na próxima lição. Na primeira dificuldade, na primeira provação, sucumbem vergonhosamente, dizendo que preferiam a escravidão à liberdade, o jugo egípcio à companhia de Deus.
- Quantos de nós não temos procedido da mesma maneira? Quantos que, uma vez gozando da liberdade em Cristo Jesus, também, em virtude das dificuldades, também não passam a desejar o mundo e o pecado e, se o Senhor não tomar uma atitude que torne a volta ao mundo irreversível, não sucumbem e se deixam escravizar novamente pelo mal?
- Na parábola do semeador, o Senhor Jesus fala deste tipo de gente, ao dizer que a semente da Palavra, muitas vezes, cai em meios aos pedregais. Apesar de germinar e nascer, quando vem o sol, a planta queima e seca, porque não tem raiz (Mt.13:5,6). Explicando a parábola, o Senhor Jesus diz que estes são aqueles que, embora tenham recebido a Palavra com alegria, quando chegam a angústia e a perseguição por causa da Palavra, logo se ofende e abandona a fé (Mt.13:20,21).
- O Senhor bem conhecia o coração do povo, por isso não o permitira ir pelo caminho do mar, pois, diante da guerra, sabia que o povo voltaria ao Egito. Agora, mesmo no caminho do deserto, ante a simples aproximação dos egípcios, os israelitas manifestam seu desejo de ser re-escravizados.
- Na sua cegueira espiritual, os israelitas chegam mesmo a concordar com os malévolos planos de Faraó. Dizem que havia sepulcros no Egito para poderem morrer, assumindo que o objetivo de Faraó era a morte do povo e, o pior de tudo, estavam a concordar com esta intenção. Preferiam a morte à vida, mesmo depois de terem visto o Senhor poupar a vida de seus primogênitos. Que incredulidade!
- Na sua cegueira espiritual, os israelitas chegam mesmo a concordar com os malévolos planos de Faraó. Dizem que havia sepulcros no Egito para poderem morrer, assumindo que o objetivo de Faraó era a morte do povo e, o pior de tudo, estavam a concordar com esta intenção. Preferiam a morte à vida, mesmo depois de terem visto o Senhor poupar a vida de seus primogênitos. Que incredulidade!
- Nos dias em que vivemos, não são poucos os que cristãos se dizem ser que estão não só a pensar mas a agir conforme este pensamento dos israelitas. Preferem a morte à vida. Preferem voltar à vida de pecado a enfrentar as dificuldades e aflições daqueles que seguem a Cristo Jesus. Tomemos cuidado, amados irmãos!
- Moisés, porém, como havia sido avisado pelo Senhor de que este endurecimento final de Faraó era para a glorificação do nome do Senhor diante de Faraó e dos egípcios, não se deixou intimidar pela murmuração do povo. Pelo contrário, cheio de fé, disse ao povo que não temesse, mas que ficassem quietos e vissem o livramento que o Senhor lhes daria (Ex.14:13). A peleja seria do Senhor, o Senhor lutaria por Israel e os israelitas ficariam calados.
- Como afirma, muito adequadamente, o Catecismo da Igreja Romana, foi na travessia do Mar Vermelho que o Senhor, pela vez primeira, manifesta publicamente a Sua Glória, entendida esta como a “irradiação da Majestade Divina”, a manifestação da santidade de Deus na criação e na história.
Era preciso que israelitas e egípcios descobrissem que o único e verdadeiro Deus é o Senhor, o Rei da Glória (Sl.24:8-10). OBS: Transcrevemos aqui os textos do Catecismo da Igreja Romana: “A santidade de Deus é o foco inacessível do Seu mistério eterno. Ao que dela se manifestou na criação e na história, a Escritura chama Glória, a irradiação da Sua majestade (Sl.8; Is.6:3).
Ao fazer o homem «à sua imagem e semelhança» (Gn 1,26), Deus «coroa-o de glória» (Sl.8:6), mas, ao pecar, o homem é «privado da glória de Deus» (Rm.3:23). Desde então, Deus vai manifestar a Sua santidade revelando e dando o Seu nome, para restaurar o homem «à imagem do seu Criador» (Cl 3,10). Na promessa feita a Abraão e no juramento que a acompanha (Hb.6:13), Deus compromete-Se a Si mesmo, mas sem revelar o Seu nome. É a Moisés que começa a revelá-l’O (Ex.3:14), e manifesta-O aos olhos de todo o povo salvando-o dos Egípcios: «revestiu-Se de glória» (Ex 15,1). A partir da Aliança do Sinai, este povo é «Seu» e deve ser uma «nação santa» (ou consagrada; em hebreu é a mesma palavra) (Ex.19:5,6), porque o nome de Deus habita nela.” (§§2809 e 2810 CIC).
- É esta a confiança que deve ter o servo do Senhor em meio às aflições deste mundo. O próprio Cristo disse que, apesar de termos aflições neste mundo, deveríamos ter bom ânimo (Jo.16:33). Este bom ânimo só é possível se tivermos fé em Deus, se demonstrarmos confiança em Deus e, ante esta confiança, nos mantivermos quietos, aguardando a direção, a orientação e a ação do Senhor em nossas vidas. Como diz o salmista: “Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus; serei exaltado entre as nações; serei exaltado sobre a Terra” (Sl.46:10).
- Moisés animou o povo, mas clamou ao Senhor. Os egípcios aproximavam-se rapidamente e a situação era de extrema angústia. Entretanto, o Senhor respondeu a Moisés, dizendo: “Por que clamas a Mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu, levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco” (Ex.14:15,16).
- Moisés não deixou de clamar a Deus, algo que os israelitas deveriam ter feito. A vitória sempre vem pela oração. Em resposta à oração de Moisés, o Senhor mandou que os israelitas marchassem e que Moisés levantasse a sua vara e estende a sua mão sobre o mar, fendendo-o. Moisés e Israel fizeram a sua parte. A oração sempre deve ser seguida de ação, não basta clamarmos a Deus, mas devemos fazer aquilo que Deus nos manda fazer. Diz Charles Spurgeon: “…Há um tempo para orar, mas há também um tempo para a atividade sagrada.
A oração adapta-se a quase toda ocasião, mas não a oração apenas, pois ocorre, agora ou pouco depois, um tempo em que até mesmo a oração toma um segundo lugar e a fé deve entrar e nos levar não a clamar a Deus mas a agir como Ele nos manda…” (Oração fora de hora. Sermão pregado na noite de 14 out. 1877, p.1. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols49-51/chs2851.pdf Acesso em 06 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
- Além de orientar Moisés o que deveria ser feito, o Senhor, mais uma vez, diz a Moisés o que ocorreria, ou seja, os egípcios também entrariam no caminho aberto no meio do mar. Por que Deus fez questão de dizer isto a Moisés? Para que o líder não se abalasse com a continuidade da perseguição, mesmo após a realização do milagre, mas perseverasse confiando em Deus.
- Como é extremamente importante, amados irmãos, que, ao vermos o Senhor agindo de forma sobrenatural em nossas vidas, não nos deixemos abalar pelo eventual proveito que o inimigo, aparentemente, toma, como que se estivesse de carona em nossa bênção.
Temos de ser extremamente confiantes em Deus, não só antes de Deus começar a agir, mas enquanto Deus está agindo. Devemos ser perseverantes, sabendo que a vitória está no fim, não no começou ou no meio: “Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas” (Ec.7:8a).
- O anjo de Deus, que ia adiante do povo de Israel, retirou-se de diante dos hebreus, indo para a retaguarda, de modo que a coluna de fogo e a nuvem, que estavam à frente de Israel, foram deslocadas para trás do povo. Com esta ação divina, os egípcios passaram a ter escuridão, enquanto que os israelitas tiveram luz, apesar de ser noite, e, assim, os egípcios não conseguiram alcançar os hebreus durante toda a noite (Ex.14:19,20).
OBS: Conforme diz João da Cruz (1542-1591), aqui temos uma figura da própria fé. “…É evidente, portanto, ser a fé noite escura para a alma, e assim a ilumina; e quanto mais a obscurece, mais luz irradia. Porque cegando dá luz, conforme diz o profeta no texto citado [Is.7:9, observação nossa]: se não crerdes, não tereis luz. Assim foi figurada a fé naquela nuvem que separava os filhos de Israel dos egípcios, na passagem do Mar Vermelho. A Sagrada Escritura diz: a nuvem era tenebrosa e iluminava a noite (Ex.14:20)…” (Subida do Monte Carmelo II,3. In: São João da Cruz: obras completas, p.190).
- Vemos aqui que jamais o maligno consegue tocar o povo de Deus sem que haja a permissão divina (I Jo.5:18). Se seguimos a direção divina, se estamos em comunhão com Ele, não há a menor possibilidade de o inimigo nos tocar, a menos que isto vá resultar em uma bênção maior para nós. Como dizem os teólogos, Deus não nos permite o mal a menos que, deste mal, nos advenha um bem maior (Rm.8:28). Aleluia!
- A chegada dos egípcios aos hebreus não lhes traria qualquer bem, por isso o anjo de Deus foi deslocado para impedir que os egípcios alcançassem os israelitas. Mas, a perseguição não foi dissipada, pois, desta perseguição, adviria um bem maior para os israelitas, que seria a completa destruição dos exércitos egípcios, de forma que eles não poderiam nunca mais tentar re-escravizar os hebreus.
- É bom lembrarmos que todos os três faraós que são apontados pelos estudiosos como os Faraós do Êxodo (Amósis I, Amenotepe II e Ramsés II), têm, em seus currículos, um ponto em comum: todos os três empreenderam guerras na terra de Canaã e foram vitoriosos. Assim, seja qual for que tenha sido o Faraó do Êxodo, o fato é que, a menos que houvesse a destruição do exército, jamais os israelitas viveriam em paz, mesmo no caminho do deserto. O Senhor queria dar uma libertação completa aos hebreus e, por isso, era indispensável que os egípcios adentrassem no caminho que Deus abriria para os hebreus no meio do mar.
- Moisés estendeu a sua mão, levantou a vara e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite, e o mar se tornou em seco e as águas foram partidas. Explica-se, então, com absoluta clareza, o deslocamento da nuvem e da coluna de fogo, pois as águas não abriram de imediato, de sorte que havia, mesmo, necessidade de os egípcios serem retardados para não alcançarem os israelitas durante aquela noite. OBS: Inscrições hieroglíficas do tempo de Amósis I, a chamada “Estela de Amósis” confirmam esta divisão das águas, como se verifica no documentário já mencionado de Simcha Jacobivici e no artigo já mencionado do pastor Monteiro Júnior.
- O fato de ter Moisés usado a vara para que fosse aberto o caminho para que o povo de Israel passasse tem sido entendido como figura de Cristo, que abriu um novo e vivo caminho para Deus (Hb.10:19,20). A vara, sendo de madeira, prefigurava a morte na cruz do Calvário, quando, então, tendo “…Sua carne rasgada qual véu, vivo caminho para o Céu, Jesus nos consagrou…”(primeira estrofe do hino 139 da Harpa Cristã, trad./adapt. por Paulo Leiva Macalão).
É o que diz Tomás de Aquino: “…porque esse gênero de morte corresponde a muitas figuras. Como disse também Agostinho, em um Sermão De Passione, uma arca de madeira livrou o gênero humano do dilúvio das águas (cf. Gn.6-8); quando o povo de Deus saiu do Egito, Moisés dividiu o mar com uma vara, derrotou a Faraó e resgatou o povo de Deus (cf. Ex.14:16-31)…” (Suma Teológica III, 45, 4. citação de Ex. 14:15-18.
Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 06 dez. 2013) (tradução nossa de texto em espanhol). OBS: Bernardo de Claraval também tem este entendimento: “…sua vara [vara de Moisés, observação nossa], ela mesma, esta vara que, com um golpe, dividiu as águas do mar para dar passagem aos hebreus, ou fez jorrar água da rocha para saciar a sede, figura o Cristo…” (Segunda homilia. Sobre as glórias da Virgem Mãe. Citação de Ex. 14:15- 18. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 06 dez. 2013) (tradução nossa de texto em francês).
- Obedecendo a Deus e demonstrando confiança no Senhor, os israelitas atenderam à ordem dada por Moisés e entraram pelo caminho seco aberto no meio do mar, sendo que as águas eram como um muro à sua direita e à sua esquerda (Ex.14:22). Os egípcios, ao verem aquele caminho aberto, também entraram por ele, mas isto não abalou Moisés, que já havia sido informado do Senhor a respeito disto.
- O Senhor, então, atuou uma vez mais, causando grande alvoroço entre os egípcios, tirando-lhes as rodas dos seus carros e fazendo-os andar dificultosamente, a ponto de os próprios egípcios admitirem que o Senhor estava pelejando pelos israelitas (Ex.14:24,25). O nome do Senhor foi, então, glorificado nos egípcios, que reconheceram, finalmente, que o Senhor era Deus, ainda que tarde demais.
- Quando todo o povo de Israel passou, o Senhor mandou que Moisés estendesse outra vez a sua mão sobre o mar, a fim de que as águas tornassem sobre os egípcios, sobre os seus carros e os seus cavaleiros, o que se fez, havendo, então, a morte de todos aqueles homens que se encontravam no meio do mar, a completa destruição do exército dos egípcios. Faraó era, pois, diretamente atingido e tornada irreversível a libertação dos israelitas.
- A tradição judaica costuma dizer que, no mar, houve outras dez pragas que caíram, de uma só vez, sobre os egípcios, de forma que o nome do Senhor foi glorificado, pragas estas que foram reveladas por Deus a Moisés em seu cântico que proferiu logo após este grande milagre. Como afirma o Talmude, no tratado “Pirke Avot”: “Dez milagres foram feitos para nossos antepassados no Egito, e dez no Mar (Vermelho). Dez pragas o Santíssimo, bendito seja, trouxe sobre os egípcios no Egito, e dez no Mar”. Eis as “pragas do mar” (5:5), a saber:
1 – Atirou cavalo e cavaleiro ao mar (Ex.15:1)
2 – Atirou os carros do Faraó e seu exército ao mar (Ex.15:2)
3 – Os príncipes escolhidos por Faraó foram afogados no mar Vermelho (Ex.15:4)
4 – Os abismos cobriram os príncipes egípcios (Ex.15:5)
5 – Os príncipes egípcios afundaram no mar como pedras (Ex.15:6)
6 – A destra do Senhor despedaçou os egípcios (Ex.15:6)
7 – A grandeza da excelência do Senhor derrubou os egípcios (Ex.15:7)
8 – A ira do Senhor consumiu os egípcios como rastolho (Ex.15:7)
9 – As águas se amontoaram, detiveram-se as correntezas como uma montanha (Ex.15:8)
10 – Quando o mar se reuniu, os egípcios afundaram como chumbo em veementes águas (Ex.15:10).
- O Senhor é glorificado em Faraó e em seu exército, como Deus havia anunciado para Moisés (Ex.14:4) e o Egito teve de reconhecer que o Senhor era o único e verdadeiro Deus, algo que, parece, mesmo, fica reconhecido, ainda que sob os temperamentos próprios da natureza das inscrições e dos registros históricos daquele tempo na chamada “Estela de Amósis”.
Um dos seus trechos contém o seguinte: “…com ninguém capaz de aliviar o tacho em algum lugar. Então Sua Majestade disse: ‘Como estes (eventos) puderam sobrepor o poder do grande deus e a vontade dos deuses? E Sua Majestade humilhou-se…” (Uma tempestade no Egito durante o reinado de Amósis. Fragmento 11. Disponível em: http://web.archive.org/web/20111227182804/http://www.therafoundation.org/articles/c hronololy/astorminegyptduringthereignofahmose/view?searchterm= Acesso em 05 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
- Mas o Senhor também é glorificado em Israel. Os filhos de Israel haviam murmurado e dito que preferiam a morte à vida, a escravidão à liberdade, mas entraram pelo caminho aberto por Deus no meio do mar e foram iluminados e mantidos protegidos do inimigo, que se encontrava em trevas e em grandes dificuldades. Passaram em seco pelo meio do mar e, com isso, deram demonstração de fé, fé que os livrou, de uma vez por todas, da escravidão no Egito. Como diz o escritor aos hebreus, foi pela fé que passaram o Mar Vermelho como por terra seca, fé que não tinham os egípcios e que, por isso mesmo, se afogaram (Hb.11:29).
- Os israelitas entraram pelo caminho aberto por Deus, imergiram na Sua vontade, mergulharam no “mar da obediência” e, por isso mesmo, como afirma o apóstolo Paulo, foram “batizados em Moisés, na nuvem e no mar” (I Co.10:2). OBS: “…A história de Israel na saída do Egito foi um tipo muito instrutivo da história da Igreja visível de Cristo. Eles estavam na escravidão no Egito assim como todos os homens estão escravos do pecado e de Satanás. Eles foram levados para fora do Egito assim como todos os redimidos são libertos pela misericordiosa graça de Deus. Com uma mão forte e braço estendido, o Senhor trouxe Israel fora da casa da servidão e, por um maravilhoso batismo, ‘na nuvem e no mar’, eles começaram a sua carreira como povo separado de Deus…” (SPURGEON, Charles. Exposição de I Co.10:1-14, p.7. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols43-45/chs2621.pdf Acesso em 06 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
- Esta expressão do apóstolo traz-nos importantes lições. Por primeiro, mostra que Israel teve de assumir a mesma postura de Moisés. Enquanto estavam a murmurar e reclamar para Moisés, não poderiam receber a bênção. Mas, depois que, a exemplo do libertador, que deixara o Egito não temendo a ira do rei, ficou firme, como vendo o invisível (Hb.11:27), resolveram também deixar de temer a ira de Faraó e assumir, com firmeza, a fé em Deus, puderam alcançar a vitória.
- Vemos quão importante é que aquele que está à frente do povo de Deus seja um homem de fé, fé que possa ser imitada pelos liderados (Hb.13:7). O líder que assim procede transmite esta sua virtude a todo o povo, recebendo um galardão por isso. Como afirma o tratado “Pirke Avot” do Talmude: “Todo aquele que torna uma multidão meritória, nenhum pecado virá através dele, mas aquele que faz uma multidão pecar, a este não serão doados os meios de obter o arrependimento. Moisés alcançou a virtude e conduziu a multidão à virtude; portanto, o mérito da multidão lhe pertence, pois está escrito: ‘ele efetuou a justiça do Eterno e seus juízos para com Israel’ (Dt.33:21).…” (5:21).
- Por isso, diz o apóstolo que eles foram batizados “em Moisés na nuvem e no mar”. Ao crerem na palavra que Moisés lhes deu, publicamente confessaram que resolviam guiar-se pela vontade do Senhor, que queriam a vida e não, a morte; a liberdade e não, a escravidão. Assim agindo, tomaram a decisão de abandonar o Egito e assumir a vida com Deus, apesar da angústia que estavam a viver. “Deitaram raízes” e, por isso, não perderam a salvação. OBS: “…O povo de Deus nasceu deste “batismo” no Mar Vermelho, quando experimentou a mão forte do Senhor que o arrancava da escravidão, para conduzi-lo à suspirada terra da liberdade, da justiça e da paz.(…) A profecia do Livro do Êxodo cumpre-se hoje também para nós, que somos israelitas segundo o Espírito, descendência de Abraão graças à fé (cf. Rm. 4,16). Na sua Páscoa, como novo Moisés, Cristo faz-nos passar da escravidão do pecado à liberdade dos filhos de Deus. Mortos com Jesus, com Ele ressuscitamos para a vida nova, pelo poder do seu Espírito. O seu Batismo veio a ser o nosso.…” (JOÃO PAULO II. Homilia na Vigília Pascal. 30 mar. 2002. citação de Ex.14:21-15:1. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 06 dez. 2013).
- Com esta atitude de fé, glorificaram ao Senhor e é exatamente isto que fazemos quando nos submetemos ao batismo nas águas. Ao confessarmos publicamente que morremos para o mundo e agora vivemos para Deus, estamos glorificando ao Senhor, que é, afinal de contas, o que temos de fazer enquanto estivermos servindo a Deus neste mundo (Mt.5:16). Eis, portanto, a grande importância do batismo nas águas para a vida espiritual de um cristão.
- As águas tornando, cobriram os carros e os cavaleiros de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar, nem ainda um deles ficou. Ao contrário de Moisés, Faraó acabou levando, por sua dureza de coração e incredulidade, toda aquela multidão para a perdição, o que, certamente, lhe será cobrado pelo Senhor. Como atesta o término da mishná mencionada do Pirke Avot 5:21: “…Jeroboão, filho de Nebate, pecou e levou a multidão a pecar; portanto, a iniquidade é devida a ele, pois está escrito: ‘pelos pecados de Jeroboão que ele cometeu e fez Israel cometer’ (I Rs.15:30)”. Faraó agiu assim como Jeroboão, e fez todo o seu exército perecer por causa da sua dureza de coração, e até mesmo o registro feito para exaltá-lo (a “Estela de Amósis”) teve de deixar consignado que “Sua Majestade se humilhou”. Este é o nosso Deus, amados irmãos!
III – O CÂNTICO DE MOISÉS E A CELEBRAÇÃO DE MIRIÃ
- Israel havia confiado em Deus e atravessara o mar. Mas esta confiança não era exemplar. As Escrituras dizem que, depois que as águas tornaram e o exército egípcio se afogou, Israel viu os egípcios mortos na praia do mar (Ex.14:30).
- Os doutores da lei e rabinos judeus interpretam corretamente esta menção do texto sagrado como mais uma falha do povo de Israel. Eles viram os egípcios mortos na praia do mar porque foram lá para se certificar se, realmente, os egípcios haviam sido destruídos, como o Senhor falara que faria. Ou seja, houve uma demonstração de desconfiança por parte dos israelitas, que foram ver para crer, atitude que, como sabemos, não agrada a Deus, como nos ensina o Senhor Jesus no episódio que envolveu Tomé (Jo.20:29). Ocorria, então, a segunda falha por parte do povo de Israel em termos de fé desde a sua saída do Egito, o que, como veremos na próxima lição, trará sérias consequências para os israelitas em seu relacionamento com o Senhor.
- Diante do impacto de verem os corpos dos egípcios mortos na praia do mar, Israel viu a grande mão que o Senhor mostrara aos egípcios e temeram ao Senhor, crendo no Senhor e em Moisés, seu servo (Ex.14:31). Ocorria, assim, a glorificação do nome do Senhor no meio de Israel, o que nos mostra quão necessário foi que houvesse esse endurecimento final do coração de Faraó, mesmo após o povo já ter saído do Egito.
- A visão dos egípcios mortos na praia do mar é para o padre espanhol João de Ávila (1500-1569), “…uma figura daquele aperto que nossos pecados nos põem, representando-se-nos como inimigos muito fortes que nos querem matar e tragar; mas a Divina Palavra, cheia de toda boa esperança, nos esforça dizendo que não nos desesperemos nem tornemos atrás aos vícios do Egito, mas seguindo o propósito bom, com que começamos o caminho de Deus, estejamos em pé confortados com o Seu socorro, para vejamos as Suas maravilhas; as quais são que, no mar da Sua misericórdia e no sangue carmesim de Jesus Cristo, Seu Filho, são afogados os nossos pecados; e também o demônio que, como cavaleiro vinha atrás de nós, para que nem este nem aqueles nos possam fazer qualquer mal; antes, lembremo-nos deles, pois, ainda que batalhem contra nós, como é compreensível, nos dão ocasião de darmos graças e glória ao Senhor Deus por ter sido Pai piedoso para nos perdoar e sapientíssimo em tirar bens de nossos males, matando de verdade o pecado que nos matava. E o que fica vivo dele é a memória de os ter cometido, para que os Seus escolhidos sejam mais aproveitados que antes, e exaltadores da honra de Deus.” (Audi Filia, cap.20. citação de Ex.14:5-14. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 06 dez. 2013) (tradução nossa de texto em espanhol).
- Este temor a Deus e esta crença em Deus e em Moisés, ainda que imperfeitamente obtidos, fizeram com que o Espírito Santo Se manifestasse no meio do povo, através de um cântico que Moisés e o povo cantaram ao Senhor. Sabemos que, no Antigo Testamento, estes cânticos (e aqui temos o primeiro cântico no livro de Êxodo) são manifestações do Espírito Santo que, tomando um servo do Senhor, não só demonstra gratidão e louvor a Deus como, em muitos casos, também tem significado profético, seja revelando o que se passou, sendo prevendo o que há de ocorrer.
- Para que se tenha, portanto, manifestação do Espírito Santo é mister que haja fé e temor a Deus. Muitos ignoram estes indispensáveis requisitos para que o Espírito Santo possa atuar no meio do povo. É preciso haver liberdade para que haja ação do Espírito de Deus (II Co.3:17) e somente temos liberdade quando cremos em Deus, quando fazemos a Sua vontade, quando nos submetemos ao Seu senhorio.
- Além do temor e da fé, havia, também, unidade, como atesta o comentarista judeu Rabbi Chayim ben Attar (1696-1743), autor do “Or Hachayim” (comentário da Torá): “Os judeus cantaram a Canção dentro de absoluta unidade, sem diferença e separação entre eles, porque eles estavam como uma só pessoa. Para indicar este ponto o versículo (Ex.15:1) usa a expressão: ‘Eu cantarei’ (singular) e não ‘Nós cantaremos’.” (apud CHUMASH: o livro de Êxodo, p.99). A unidade é fundamental para que o povo de Deus possa cumprir os propósitos do Senhor (Jo.17:23; Ef.4:3,13).
- Depois de séculos de gemidos e de dores, o povo, finalmente, podia cantar. Havia chegado o tempo de cantar (Ct.2:12), o tempo de agradecer a Deus pelo grande livramento obtido. Mas, e isto é muito importante, o cântico se inicia dizendo que seria ele cantado “porque o Senhor sumamente Se exaltou”. O cântico era o reconhecimento da soberania divina, era um momento de adoração.
OBS: “…Na Bíblia, a primeira menção do ato de cantar encontra-se depois da travessia do Mar Vermelho. Israel libertou-se da escravidão. Subiu das profundezas ameaçadoras do mar. É como se tivesse renascido. Vive e é livre. A Bíblia descreve a reação do povo a este grande acontecimento da salvação com a frase: «O povo acreditou no Senhor e em Moisés, seu servo» (Ex 14,31). Segue-se depois a segunda reação que nasce, por uma espécie de necessidade interior, da primeira: «Então Moisés e os filhos de Israel cantaram este cântico ao Senhor…»…” (BENTO XVI. Homilia na Vigília Pascal na Noite Santa. 11 abr. 2009. citação de Ex.14:21-15:1. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 06 dez. 2013).
- Vemos aqui que o povo de Deus somente pode louvar ao Senhor com o intuito de adorá-l’O, de reconhecer o Seu senhorio, a Sua soberania. Não é, portanto, admissível que se louve o ser humano, que se ponha o homem como centro dos pensamentos e das reflexões no momento do louvor, como, infelizmente, temos visto em nossos dias, onde uma indústria totalmente despida do temor a Deus tem ditado o que os crentes devem cantar. Fujamos disto, amados irmãos!
- Como já afirmamos supra, neste cântico, Moisés revela as chamadas “dez pragas no mar”, os dez castigos que o Senhor imprimiu aos egípcios para arruiná-los de vez e garantir, de modo irreversível, a liberdade para os filhos de Israel.
- Neste cântico, também, Moisés afirma que “O Senhor é a minha força e o meu cântico; Ele me foi por salvação, este é o meu Deus, portanto lhe farei uma habitação; Ele é o Deus de meu pai, por isso, O exaltarei” (Ex.15:2).
- Quão profundas são as expressões de Moisés. O libertador rememora tudo quanto Deus lhe havia dito, tudo quanto aprendera de seus pais, reconhecendo que sem o Senhor nada poderia ter ocorrido, reconhecendo que, diante de um tão grande e amoroso Deus, o que temos de fazer é nos tornamos Sua habitação e não cessarmos de adorá-l’O. Temos esta consciência, amados irmãos?
- Moisés também reconhece que foi o Senhor que lutou por Israel, cumprindo, assim, o que dissera o Senhor e ele transmitira ao povo no momento da angústia (Ex.14:14). Por isso, chama o Senhor de “varão de guerra” (Ex.15:3), como também declara que foi o Senhor quem despedaçou o inimigo (Ex.15:6). O Senhor continua pelejando por nós, desde que façamos a Sua vontade e sigamos as Suas orientações.
- Moisés ainda reafirma que só há um único e verdadeiro Deus, ressaltando que se trata de um Deus santo (Ex.15:11), também demonstrando sua confiança que Deus continuaria a pelejar em favor de Israel, fazendo com que as demais nações o respeitassem e, assim, obtivesse ele a terra de Canaã (Ex.15:14-17).
- Após esta manifestação do Espírito Santo, que foi o cântico de Moisés, que foi entoado também pelo povo, Miriã , que é aqui chamada de profetisa e irmã de Arão e de Moisés, tomou o tamboril na sua mão e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças (Ex.15:20). Miriã repetia, então, parte do cântico de Moisés, sendo seguida pelas mulheres.
- Este episódio é muito mencionado pelos defensores da dança como elemento litúrgico. Dizem que, como Miriã dançou, devemos admitir que se dance também “para o Senhor”. Nada mais equivocado, porém.
- Por primeiro, observemos que Miriã tão somente repetiu como que um refrão do cântico que havia sido proferido por Moisés e por todo o povo. Não houve, portanto, qualquer inspiração nova para aquela celebração, tomando-se algo que já havia sido dado pelo Espírito.
- Dizem alguns que o texto diz que Miriã era profetisa e que, portanto, diante de tal menção, não se pode duvidar da inspiração divina para o gesto. Assim, porém, não entendemos. Miriã é aqui mencionada, por nome, pela primeira vez no livro de Êxodo e, diante desta sua nominação, normal que o autor do livro, que é Moisés, queira ter identificado a personagem, tanto que faz questão de dizer que é irmã de Arão. Desta maneira, está-se diante de uma identificação da personagem que não tem a ver com o gesto que ela estava executando naquele instante.
- Ademais, segundo a tradição judaica, Miriã teria profetizado pela vez primeira antes mesmo do nascimento de Moisés, daí porque é chamada de “irmã de Arão”, como se encontra no Talmude, “in verbis”: “E Miriã, a profetisa, irmão de Arão, tomou etc. —A ‘irmã de Arão’ e não a irmã de Moisés! — R. Amran disse em nome de Rab, e de acordo com outros o que R. Nahman disse em nome de Rab: ‘ Isto ensina que ela profetizou enquanto ela ainda era apenas irmã de Arão’…” (Sotah 12a) (tradução nossa de texto em inglês). Deste modo, não foi por ter pegado o tamboril e dançado que Miriã se fez profetisa, nem muito que tomou esta atitude por ser profetisa.
- Não resta dúvida de que Miriã estava muito mais feliz do que os demais israelitas, pois era fora testemunha ocular do início do processo de libertação de Israel, quando seu irmão Moisés é resgatado das águas do Nilo e teve sua vida poupada por Deus. Miriã via ali o cumprimento de tudo quanto Deus havia falado ao Seu povo e, segundo a tradição judaica, a seu pai Anrão, como relata Flávio Josefo. Como ninguém, Miriã via a fidelidade de Deus e era natural, ainda mais em se tratando de uma mulher, que não conseguisse conter a sua alegria, levando, então, todas as mulheres a lhe seguir numa celebração adicional, muito mais emotiva e sensível que a anterior. OBS: Reproduzimos aqui o texto de Flávio Josefo, em Antiguidades Judaicas II, 6, 87: “…Um hebreu de nome Anrão muito estimado entre o seus, vendo que sua mulher estava grávida, ficou preocupado, por causa do edito que ia exterminar inteiramente a sua nação. Recorreu a Deus, rogou-lhe que tivesse compaixão de um povo que sempre O tinha adorado e que fizesse cessar a perseguição que o ameaçava de ruína total.
Deus, tocado por essa oração, apareceu-lhe em sonho e lhe disse que esperasse: que Ele Se lembrava de sua piedade, e da de seus antepassados. Que os recompensaria como os tinha recompensado a eles(…).Que o filho de que ela estava grávida era o menino que os egípcios temiam tanto o nascimento e que, por isso, faziam morrer, por causa dele, todos os israelitas, mas que ele viria felizmente ao mundo, sem ser descoberto por aqueles que eram os encarregados dessa cruel indagação. Que ele seria criado e educado contra todas as esperanças, libertaria seu povo da escravidão(…). Anrão narrou esta visão à sua esposa.(…). Miriã, irmã do menino, foi, por ordem de sua mãe, para o outro lado do Nilo para ver o que aconteceria…” (História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, pp.55-6).
- Fato interessante é que é dito, no texto sagrado, que Miriã pegou o tamboril (algumas versões fala em “pandeiros”) e foi seguida por todas as mulheres. Como todas podiam ter tamboris? Diz Rashi (1040-1105), grande comentarista judeu, que “…as mulheres justas daquela geração tinham certeza de que D’us executaria milagres para o povo, assim elas trouxeram pandeiros consigo do Egito…” (apud CHUMASH: o livro de Êxodo, p.105). “…As mulheres daquela geração tiveram tanta fé em D’us que, até mesmo enquanto estavam sob o jugo do Egito, elas ativamente esperaram a redenção, com cada uma delas preparando e levando um pandeiro consigo para se alegrar com a chegada da redenção…” (ibid.).
- Tal entendimento faz sentido, na medida em que as promessas de Deus a Abraão falavam que a libertação se daria na quarta geração que estivesse no Egito (Gn.15:16), ou seja, precisamente a geração destas mulheres. Aprendemos disto que a fé precisa ser posta em prática e tem por objetivo a glorificação do nome do Senhor, como fizeram aquelas mulheres.
- Todavia, é preciso aqui registrar, a forma como se deu tal celebração mostrava como o povo de Israel precisava, mesmo, de uma cultura própria, de que se tratava de uma nação em formação. O recurso à dança mostrava a nítida influência egípcia nos costumes do povo. A dança foi utilizada naquela oportunidade como um resquício do Egito, como uma demonstração de que o povo precisava, mesmo, encontrar-se com Deus no Sinai para, então, tornar-se a propriedade peculiar de Deus dentre os povos.
- A dança aqui, bem ao contrário do que se diz hoje, é um contraexemplo, é uma prova de que Israel, embora tivesse mantido a sua identidade, ainda tinha muito de Egito em suas entranhas e, por isso, deveria selar um pacto com Deus, para que pudesse ser a nação santa que o Senhor queria que fosse. A dança aqui não é um permissivo para a utilizarmos em nossos cultos, mas uma comprovação de que se trata de algo mundano, próprio do Egito, que não pode, em hipótese alguma, ser utilizado no culto a Deus, tanto que, quando o Senhor der a lei a Israel, não adotará esta prática na adoração.
- O povo estava livre, tinha de ir até o encontro de Deus no monte Sinai, e, nesta peregrinação, continuariam a ser provados pelo Senhor, a fim de que pudessem receber as promessas dadas a Abraão, Isaque e Jacó. Será que foram bem sucedidos nesta empreitada? É o que veremos na próxima lição.
Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2014_L5_caramuru.pdf
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