LIÇÃO Nº 6 – A PEREGRINAÇÃO DE ISRAEL NO DESERTO ATÉ O SINAI

Título
INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo do livro de Êxodo, estudaremos hoje desde o final do capítulo 15 até o capítulo 18, como também, por força da opção feita pela CPAD, também o capítulo 32.
- Na caminhada até o monte Sinai, Israel perdeu a oportunidade de receber a promessa de Abraão.
I – A PARTIDA DO MAR E A PASSAGEM NO DESERTO DE SUR. O TESTE DE MARA
- Na lição anterior, vimos como o Senhor arruinou o exército dos egípcios e, deste modo, tornou irreversível a libertação do povo de Israel, com o milagre da travessia do mar.
- Como vimos também na lição anterior, assim que Israel partiu do Egito, onde fora tirado com mão forte, o povo começou a ser provado pelo Senhor e, nas duas primeiras oportunidades, não obteve aprovação. Com efeito, quando houve a aproximação do exército dos egípcios, os israelitas, em vez de clamarem a Deus, começaram a murmurar e a dizer que preferiam a morte à vida, a escravidão à liberdade (Ex.14:10-12).
- Em seguida, após terem atravessado o mar, a primeira reação dos israelitas foi a de ir até a praia, para se certificarem que os egípcios haviam sido mesmo destruídos, como dissera Moisés, demonstrando aqui, uma vez mais, sua incredulidade, pois tiveram de ver “com os próprios olhos que a terra havia de comer” os corpos dos egípcios (Ex.14:30). Só, então, creram em Deus e em Moisés (Ex.14:31). Por isso, o salmista afirma que os israelitas foram rebeldes no Mar Vermelho (Sl.106:7).
- O Sábio Talmúdico Rabi Judá enumera as dez vezes em que o povo de Israel não obedeceu à voz do Senhor, tentou-O, como está escrito em Nm.14:22, sendo duas delas as que acabamos de enunciar. Diz ele: “…Com dez tentações nossos antepassados tentaram o Santíssimo, bendito seja Ele: duas no mar, duas por causa de água, duas por causa do maná, duas por causa das codornizes, uma em conexão com o bezerro de ouro e uma no deserto de Parã. ‘Duas no mar’: uma na descida e outra na subida. ‘Na descida’, como está escrito: ‘Não havia sepulcros no Egito (para nos tirares de lá, para que morramos neste deserto? [Ex.14:11]. ‘Na subida’, o que está de acordo com o que ensinou Rabi Huna, pois ele disse: os israelitas desta geração estão entre aqueles que têm pouca fé; como Rabbah ben Mari se expressou, dizendo: Está escrito: mas eles foram rebeldes no mar, mesmo no Mar Vermelho, ainda que Ele os tenha salvado por amor do Seu nome[Sl.106:7].
Ele ensina que Israel foi rebelde naquela hora em que disse: já que passamos para este outro lado do mar, então os egípcios devem também tê- lo feito. O Santíssimo, bendito seja Ele, disse, então, ao príncipe do mar: lance os egípcios para fora do mar, em terra seca! Ele respondeu: Soberano do Universo, há algum escravo que tenha recebido um presente do seu senhor e depois o devolva a ele? O Senhor disse a ele: Eu lhe darei um [mais tarde] uma vez e meia mais do que eles.
O príncipe disse ao Senhor: há algum escravo que possa clamar contra o seu senhor? O Senhor disse: O riacho de Quisom será a garantia. Imediatamente, ele lançou os egípcios na terra seca, pois está escrito: e Israel viu os egípcios mortos na praia [Ex.14:30]…” (Tratado Aruchin 15a. Disponível em: http://halakhah.com/pdf/kodoshim/Arachin.pdf Acesso em 10 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês). OBS: Como explica a nota 16 do referido trecho traduzido, os egípcios tinham 600 carros quando perseguiam Israel e, posteriormente, como nos relata Jz.4:3, ao proporcionar a vitória de Israel sobre o rei Jabim, de Canaã, o Senhor destruiu 900 carros, ou seja, uma vez e meia o número dos carros do Egito, que foram arrastados no ribeiro de Quisom (Jz.5:21).
- Em virtude de ter o povo de Israel crido e glorificado a Deus por causa da travessia do Mar Vermelho, o Senhor como que lançou para trás de Si as iniquidades cometidas e Israel iniciou a sua jornada no deserto em direção ao monte Sinai, pois era este o sinal que Deus havia dado a Moisés a respeito da libertação (Ex.3:12).
- Antes de ir para Canaã, Israel precisava se formar como nação. Para tanto, necessitava ter governo e cultura próprios, vez que já tinha população e tinha obtido a sua libertação do Egito. Precisava, entretanto, ter um modo de viver totalmente diferente dos das demais nações, como também ter um conjunto de leis que as regesse e era precisamente isto que iria buscar no Sinai.
- Hoje, com a Igreja, não é diferente. Depois de ter sido resgatado pelo Senhor, através do Seu sacrifício na cruz do Calvário, o cristão deve, também, passar pela água do batismo, quando confessa publicamente sua conversão e dá glória a Deus, tornando irreversível sua vida espiritual, mas, então, deve, também, iniciar sua jornada para chegar até o Sinai, para receber a lei de Cristo (I Co.9:21; Gl.6:2).
- Não é por acaso que, no Evangelho segundo Mateus, vemos que Jesus, após ter vencido o diabo no deserto e escolhido os primeiros discípulos e feito os primeiros milagres, ensina os Seus discípulos a doutrina da nova aliança (Mt.5:1). OBS: “…Teremos de voltar a três elementos do primeiro resumo acerca da ação de Jesus 9Mt.4:12-25). Aí está em primeiro lugar a informação radical sobre o conteúdo da pregação de Jesus, que deve resumir o conjunto da Sua mensagem: ‘Convertei-vos: o Reino (a realeza) dos céus está próximo’ (Mt.4:17).
Como segundo elemento encontra- se a vocação dos 12 apóstolos, com a qual Jesus, num gesto simbólico e ao mesmo tempo numa ação muito concreta, anuncia a renovação do povo das 12 tribos, a nova reunião de Israel, e a põe em prática. Finalmente, torna-se aqui igualmente claro que Jesus não é apenas o mestre, mas também o redentor de todo homem: o Jesus como mestre é também o Jesus que cura. Assim, em poucas linhas, mais precisamente 13 versículos (4:12-25), S. Mateus apresenta aos seus ouvintes um primeiro quadro da figura e da obra de Jesus. Segue-se então em três capítulos o ‘Sermão da Montanha’.O que é isso?
Com esta grande composição do discurso, S. Mateus apresenta-nos Jesus como o novo Moisés, e justamente no sentido mais profundo, em que aparece a ligação com a promessa messiânica do Livro do Deuteronômio.…” (BENTO XVI. Jesus de Nazaré: primeira parte – do batismo do Jordão à transfiguração. Trad. de José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, pp.71-2).
- Era absolutamente necessário que Israel fosse até o Sinai, para começar a servir a Deus de forma plena, conhecendo a Sua vontade, sendo capaz de assumir e exercer o papel que o Senhor dele queria. A libertação do Egito era necessária, mas, também, era absolutamente indispensável que tivessem um encontro pessoal com o Senhor e com Ele assumissem o seu serviço no monte Sinai.
- É interessante observar que os judeus celebram este encontro com Deus no monte Sinai na festa das semanas, ou seja, na festa de Pentecostes, que eles denominam de “Shavuot”. Ora, a festa de Pentecostes, para a Igreja, representa o instante em que os discípulos foram capacitados para empreender a tarefa da evangelização, é o momento em que o Espírito Santo é derramado e há a primeira grande conversão de almas (At.2). É o Sinai do povo de Deus da atual dispensação, o momento em que nos disponibilizamos plenamente ao serviço do Senhor. Para chegarmos até lá temos de passar pelo deserto e, crendo em Deus, alcançarmos a promessa do Pai. O amado irmão já superou os obstáculos e foi batizado com o Espírito Santo? Ou está ainda claudicando como o povo de Israel em sua peregrinação.
Peça ao Senhor que aumente a sua fé e receba o revestimento de poder! OBS: “…A festa de Shavuot, celebrada em 6 e 7 do mês de Sivan, comemora o evento mais significativo na História Judaica – a Revelação Divina no Monte Sinai e a subsequente entrega da Torá ao Povo Judeu. Cinquenta dias após o Êxodo, D’us abertamente Se revelou a aproximadamente três milhões de judeus – homens, mulheres e crianças – a quem Moshé liderou para fora da escravidão no Egito.…” (A VERDADE histórica da Revelação Divina no Sinai. Revista Morashá, edição 75, abr. 2012. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=940&p=0 Acesso em 10 dez. 2013).
- Moisés, então, mandou que os israelitas partissem do Mar Vermelho pelo deserto de Sur e, assim, andaram três dias no deserto, não achando águas (Ex.15:22). Chegaram, então, a Mara, onde encontraram águas, mas que não puderam ser bebidas, porque eram amargas, por isso mesmo foi o local chamado pelos israelitas de “Mara”, que significa “amargo” em hebraico (Ex.15:23).
- Diante desta constatação, a fé dos israelitas rapidamente se extinguiu e eles tornaram a murmurar contra Moisés, reclamando a ele o que haveriam de beber. Vemos, pois, que a fé que havia movido os israelitas após a travessia do mar, era uma fé baseada no que haviam visto e este tipo de fé é fugaz, extremamente débil e passageira, não resiste às dificuldades que se apresentam, é uma fé sem raízes, como nos ensina o Senhor Jesus na parábola do semeador ao falar da semente que caiu nos pedregais (Mt.13:5,6,20,21). Por isso mesmo, o Senhor repreendeu a Tomé (Jo.20:28,29). A fé genuína é a prova das coisas que não se veem (Hb.11:1).
- Nos dias em que vivemos, muitos têm insistido para que haja um “despertamento espiritual” através de uma fé “visível”, uma fé que se inicie em “elementos visíveis”, surgindo daí o que o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2011) chamava de “amuletos”, que infestam o meio evangélico na atualidade (toalhinhas, rosas ungidas, sabonetes de extrato de arruda, meias, etc. etc. etc.). Nada mais falso, porém. A fé deve se estribar na confiança naquilo que Deus revelou em Sua Palavra. Se for depender de elementos “visíveis”, cedo esta suposta fé desvanecerá, mesmo diante dos mais tremendos milagres e sinais. Prova disso é a reação de Israel em Mara.
- O povo não suportou os três dias sem água e, diante do achado das águas, que elas fossem amargas. A caminhada era feita na direção de Deus, o Senhor estava guiando o povo, mas o povo não ficou livre das agruras do deserto. O deserto não deixou de ser deserto porque Deus os estava guiando. Assim também, o mundo não deixa de ser mundo, apesar de estarmos sendo guiados pelo Espírito Santo. No mundo, sofreremos a sede espiritual, como também as amarguras que ele nos traz por estar contaminado pelo pecado. Entretanto, nós não devemos imitar os filhos de Israel e passarmos a murmurar, mas, pelo contrário, devemos, isto sim, clamar a Deus, pois só Ele pode tornar as águas amargas em doces. Como dizia o saudoso pastor Severino Pedro da Silva (1946-2013), precisamos ter a capacidade de transformar um limão em limonada.
- Israel murmurou contra Moisés e Moisés, ao revés, foi em busca de Deus. O Senhor, em resposta ao clamor do Seu servo, mostrou-lhe um lenho e, numa atitude de fé, Moisés lançou o lenho nas águas e as águas se tornaram doces (Ex.15:25).
- Este lenho é um símbolo de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, pois Ele mesmo Se compara a um lenho quando caminhava para o Gólgota (Lc.23:31), chamando-Se de lenho verde. Cristo torna doces as águas amargas, ou seja, transforma a criatura humana, sacia a sede espiritual que existe no mundo. Moisés, como profeta, teve a revelação deste lenho e o lançou sobre as águas amargas. Nós, devemos mostrar Cristo para os homens, pregando a Cristo e Este, crucificado (I Co.2:2).
- Alguns comentaristas judeus acham que o lenho que foi lançado nas águas seria um oleandro (conhecido no Brasil como “flor-de-são-josé”), uma planta extremamente tóxica e amarga, venenosa a animais e ao homem, e, assim, se teria feito um milagre dentro do milagre, mostrando que a amargura somente se torna em doçura quando há percepção da própria amargura e de seu caráter ruim, de forma que a doçura venha por vontade própria, graças à ação do lenho. Sem dúvida alguma, somente quando o pecador se reconhece como tal e busca em Cristo a sua transformação, deixa de ser água amarga para ser água doce.
- Quando as águas se tornaram doces, o povo de Israel pôde dela beber, mas, após terem murmurado. Era, portanto, a terceira reprovação. Israel falhava, mais uma vez, em confiar em Deus. OBS: “…A geração que saiu do Egito era lamurienta, rixenta e sediciosa. Ante a menor provocação se queixavam e faziam exigências imperiosamente, ou, como no caso do bezerro de ouro, retornaram à idolatria porque acreditavam que Moisés demorava mais do que lhes havia prometido, para descer do Sinai. Esta geração viu o Eterno, por assim dizer, mais concretamente que qualquer profeta, através de um milagre após o outro que Eles lhes proporcionava. Quando os egípcios, seus terríveis feitores, finalmente foram jogados, mortos a seus pés, pelo mar, eles sentiram a mais completa confiança no Eterno. Mas a fé pouco durou. Como a paráfrase da nossa Mishná [a tradição dos anciãos que foi reduzida a escrito, observação nossa] expõe muito claramente: ‘Com dez provas foram nossos antepassados testados diante do Onipresente (Deus) e em nenhuma delas se apresentaram íntegros’ [Avot de Rabi Natan segundo citado em Sêfer Mussar (A34 e as leituras variadas na nota 1 parecem ser versões mutiladas disto)]…” (BUNIM. Irving M. Trad. Dagoberto Mensch. A ética do Sinai: ensinamentos dos Sábios do Talmud, p.329).
- É, portanto, interessante que, após terem se tornado as águas doces, esteja registrado que, ali mesmo em Mara, tivessem os israelitas recebido “estatutos e uma ordenança“, depois de terem sido provados e, naturalmente, reprovados pelo Senhor (Ex.15:25).
- O fato de Israel ter falhado novamente na sua confiança em Deus e de o Senhor lhes ter dado estatutos e uma ordenança, era já um sinal de que Israel, nesta sua peregrinação ao Sinai, não receberia a promessa de Abraão, por não estar ainda preparado para tanto, devendo, então, receber algo inferior para que aguardasse o momento oportuno da recepção da promessa. Quando Deus dá estatutos e uma ordenança a Israel em Mara sinaliza que, em vez do cumprimento da posteridade prometida a Abraão, viria algo que serviria de aio para esta posteridade, como nos ensina o apóstolo Paulo na epístola aos gálatas. Em vez de receberem a promessa de Abraão, o povo haveria de receber a lei. OBS: “…D’us os reprovou fazendo eles aceitarem mitsvot [mandamentos, observação nossa], tanto chukim (preceitos acima da compreensão), quanto mishpatim (preceitos autocompreendidos).…” (RASHBAM apud CHUMASH: o livro de Êxodo, p.106).
- Que “estatutos e ordenança” foram estes que o povo de Israel recebeu em Mara? O Talmude assim afirma: “…Certamente foi ensinado: os israelitas receberam dez preceitos em Mara, sete dos quais já tinham sido aceitos pelos filhos de Noé, aos quais foram acrescentadas em Mara as leis sociais, o sábado e a honra aos pais; ‘leis sociais’, pois está escrito, ‘ali lhes deu um estatuto e uma ordenança [Ex.15:25] — ‘o sábado e a honra aos pais’, pois está escrito ‘o Senhor seu Deus te ordenou’ [Dt.5:12,16]…” (Tratado Sanhedrin 56b). OBS: Os sete preceitos dados aos filhos de Noé são o pacto estabelecido entre Deus e Noé e que se encontram em Gn.9:1-17, a saber: “…praticar a equidade, não blasfemar o nome de Deus, não praticar idolatria, imoralidades, assassinatos e roubos; não tirar e comer o membro de um animal estando ele vivo…” (MELAMED. Meir Matzliah. Torá: a lei de Moisés, com. a Gn.9:4, p.22).
- O Senhor prossegue na execução do plano de formação do povo de Israel. Antes do episódio do mar, já lhes havia determinado que celebrassem a páscoa e a festa dos pães asmos, em memória do livramento que haviam obtido. Agora, em Mara, concede-lhe “leis sociais”, a ordenança do sábado e a honra aos pais, começando, assim, a estruturar um governo que pudesse disciplinar o relacionamento entre os israelitas. É o moldar da cultura e do governo que caracterizará esta peregrinação de Israel no deserto em direção a Canaã e cuja parada no Sinai é crucial para tanto.
- Após ter o Senhor ter entregado estatutos e esta ordenança, Moisés disse aos israelitas que, se eles fossem atentos à voz do Senhor e inclinassem seus ouvidos aos Seus mandamentos, e guardassem todos os Seus estatutos, o Senhor não poria sobre Israel qualquer das enfermidades que havia posto sobre o Egito, pois o Senhor era aquele que sarava Israel (Ex.15:26).
- Esta promessa de Deus para Israel já delineava, também, o regime que seria implantado pela lei, ante a incredulidade do povo que estava a persistir. Na lei, a observância dos mandamentos traria bênçãos, a confiança em Deus deveria se manifestar em obras que fariam com que Israel fosse um povo distinto dos demais, não sofrendo, assim, a ira de Deus que eles tinham visto se manifestar aos egípcios, que haviam endurecido seu coração para com Deus.
- Esta passagem tem sido indevidamente utilizada por alguns da chamada “teologia da confissão positiva” para defenderem uma “imunidade do cristão à doença”, ou seja, que quando um servo de Deus é fiel, ele não adoece, pois o Senhor, em retribuição à Sua obediência, não permitirá que ele fique enfermo. Nada mais falso, porém.
- Por primeiro, como estamos a ver, esta promessa dada por Deus se dirige a Israel. È, na verdade, como admitem os próprios comentaristas bíblicos judeus, uma “repreensão de Deus”, uma “reprovação de Deus” à incredulidade do povo em Mara. Trata-se, portanto, de um preâmbulo da lei que seria dada ao povo no monte Sinai. Sendo assim, é algo que não tem valor para a dispensação da graça.
- Por segundo, a promessa divina refere-se às “enfermidades que pus sobre o Egito”, ou seja, está não a tratar de doenças propriamente ditas, mas, sim, das pragas que o Senhor lançou sobre o Egito no processo de libertação. Na verdade, aqui, o Senhor está a dizer a Israel que ele desfrutaria de um tratamento diferente, pois seria uma nação diferente, a “propriedade peculiar de Deus dentre os povos”.
- Tanto assim é que, na sequência da difícil peregrinação de Israel no deserto, a partir da entrega da lei, os desobedientes sempre sofrerão pragas, sempre serão castigados pelo Senhor de forma visível, a saber: a matança de três mil homens no episódio do bezerro de ouro pela espada dos levitas (Ex.32:28); a praga contínua em razão do bezerro de ouro (Ex.32:35); o fogo que consumiu Nadabe e Abiú (Lv.10:1,2); a praga que matou muitos quando estavam a mastigar as codornizes em Quibrote- Hataavá (Nm.11:33); a lepra sobre Miriã (Nm.12:10); a praga que matou os dez espias infiéis (Nm.14:37); a abertura da terra que engoliu Datã, Abirão e Coré e suas famílias (Nm.16:32,33); as serpentes ardentes que mataram muito povo quando rodeavam a terra de Edom (Nm.21:6); a praga sobre os vinte e quatro mil que se prostituíram em Baal- Peor (Nm.25:1-9). Não tem, portanto, o mínimo cabimento querer utilizar-se esta passagem como uma demonstração de que o cristão jamais ficará doente.
- Assim como o Senhor havia sarado as águas amargas em doces, dizia a Israel que poderia sará-lo também, poderia convertê-lo em um povo “doce” e não “amargo”, em um povo confiante e não em um povo murmurador. O Senhor mostrava que era preciso recorrer a Ele que Ele daria o “lenho” para transformar a amargura em doçura, para transformar a natureza pecaminosa do homem em natureza agradável a Deus. Demonstrando fé como fez Moisés ao lançar o lenho nas águas, Israel atingiria a sua salvação.
- Nós também somos convidados a crer no Senhor, no “lenho verde”, na “árvore da vida”, que é Cristo Jesus, que nos fará agradáveis ao Senhor, desde que nós deixemos que Ele venha até nós e faça em nós morada (Jo.14:23; Ap.3:20). Aleluia!
- O povo de Israel prosseguiu viagem e chegou a Elim (cujo significado é “palmeiras”), onde havia doze fontes d’água e setenta palmeiras, tendo, então, acampado junto das águas (Ex.15:26). Após a experiência difícil dos três dias de deserto e das águas amargas, Israel chega a um oásis, onde havia abundância de água e de sombra. Na vida peregrina que andamos, também há momentos de abundância e de fartura. Na vida debaixo do sol, temos tanto o dia da prosperidade, como o dia da adversidade (Ec.7:14).
II – ISRAEL PASSA PELO DESERTO DE SIM
- Em Elim, os israelitas ficaram vinte dias, segundo Edward Reese e Frank Klassen, organizadores da Bíblia em ordem cronológica, já que de lá partiram, segundo Ex.16:1, no dia quinze do segundo mês.
- No entanto, apesar de ser um local extremamente agradável, não era este o destino do povo de Israel, que tinha de ir para o monte Sinai, de forma que levantaram acampamento e foram para o deserto de Sim, que ficava entre Elim e o Sinai (Ex.16:1).
- No deserto, novamente o povo sentiu sede e, então, toda a congregação de Israel murmurou contra Moisés e contra Arão, mais uma vez sentindo saudades do Egito, dizendo que teria sido melhor eles morrerem lá, quando estavam sentados junto às panelas de carne, quando comiam pão até fartar, acusando Moisés e Arão de quererem matar o povo de fome e de sede no deserto (Ex.16:3).
- O povo mostrava-se totalmente insensível à voz de Deus. Apesar de serem guiados pelo Senhor, apesar de terem visto grandes maravilhas, mostravam que haviam saído do Egito mas o Egito ainda não havia saído deles. Esta é a grande dificuldade para a nossa caminhada até o monte Sinai, para o encontro com Deus. É que, neste caminhar, muitas vezes, nós desejamos retornar à vida antiga, sentimos saudade da vida velha, das supostas vantagens que tínhamos e que agora, diante da nossa condição de filhos de Deus, já não desfrutamos mais. OBS: “…deixemos este mundo, pois ele nada vale. Ah! Que jamais este Egito com seus alhos, cebolas e suas carnes podres nos leve ao desgosto, mas que saboreemos o maná que nosso Salvador nos dá no deserto no qual entramos, e que então viva e reine Jesus! “ (FRANCISCO DE SALES. Sobre a festa da Candelária. Citação de Ex.16:2-4. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 11 dez. 2013) (tradução nossa de texto em francês).
- É evidente que os israelitas não viviam tão bem quanto estavam a dizer em sua murmuração. Não ficavam apenas “sentados junto às panelas de carne”, até porque, diante da opressão de Faraó, pouco tinham para comer. Também não estavam tão fartos de pão, como estavam a dizer, visto que, também, não tinham tempo para fazer tanto pão ante as cargas imensas que Faraó lhes impunha.
- A verdade é as dificuldades no deserto, ao se defrontar com uma fé débil e imatura, fizeram com que os israelitas, absurdamente, tivessem na mente uma ilusão, uma ideia de um passado no Egito, dos dias de José e os imediatamente subsequentes, que eles nem haviam vivido. Em nome de algo que jamais haviam experimentado, que se confundia indevidamente com uma situação opressiva, esta, sim, que havia sido vivida por eles, reclamavam do que estavam a passar, em vez de confiar em Deus e até clamar ao Senhor para que fosse modificada.
- Muitos que cristãos se dizem ser agem da mesma maneira em nossos dias. Ficam a se queixar das dificuldades que estão a passar e se deixam enganar pelas mentiras que a propaganda diabólica apresenta como atrações para o mundo e não são poucos aqueles que não titubeiam em “sentar junto às panelas de carne”, abandonando o deserto de Sim, esquecendo-se de que o Egito só traz opressão, escravidão e violência.
- Israel murmurava pois não tinha como retornar ao Egito, mas, hoje, lamentavelmente, muitos retornam, desistem da jornada em direção à Terra Prometida, porque, como disse o Senhor Jesus, não têm raízes profundas em sua fé, que logo seca e se queima pelo ardor do sol, ou seja, pela provação. Tomemos cuidado, amados irmãos, para que não sejamos daqueles que retrocedem, desagradando a Deus (Hb.10:38,39).
- Diante da murmuração do povo, Moisés, uma vez mais, busca ao Senhor. Que lições nos dá o servo do Senhor! Aqui, nesta passagem, não é dito explicitamente que Moisés tenha buscado a Deus, mas isto se faz desnecessário, já que o texto nos mostra que Deus trouxe uma resposta a Moisés para a murmuração do povo, a indicar que, como da vez anterior, em Mara, Moisés também orou ao Senhor para sair daquela situação.
- Deus, então, promete fazer chover pão dos céus, pão este que o povo deveria sair e colher cada dia a porção para cada dia, a fim de que o Senhor observasse se ele estava andando na Sua lei ou não (Ex.16:4), com exceção do sexto dia, quando, então, deveria recolher o dobro de cada dia, pois, no dia sétimo (e aí se entende que a ordenança do sábado fora dada em Mara), o pão dos céus não seria dado.

- Moisés e Arão, então, chamaram o povo e entregaram a mensagem de Deus. Com o pão dos céus, o Senhor demonstraria ao povo que fora Ele quem os havia tirado do Egito e, no dia seguinte, veriam a glória do Senhor.
- Como se não bastasse o pão dos céus, o Senhor, também, haveria de dar carne ao povo, pois tinha ouvido a murmuração do povo, que não era contra Moisés ou contra Arão, mas, sim, contra Deus, como deixou bem claro o próprio Moisés. E, como prova disso, o Senhor fez aparecer a Sua glória na nuvem que os guiava, a fim de que todo Israel soubesse que Deus estava presente e a tudo ouvia, a tudo observava (Ex.16:9,10).
- Devemos ter muito cuidado quando murmuramos contra as nossas lideranças. Se elas estão a seguir a direção e orientação do Senhor, como era o caso de Moisés e de Arão, o que era observado claramente pelo povo, visto que a direção da viagem era dada pela nuvem e pela coluna de fogo e não por Moisés ou por Arão, não podemos sequer reclamar, pois, se assim o fizermos, estaremos murmurando contra o próprio Deus.
- Quando estamos diante de lideranças legítimas, constituídas pelo Senhor, que estão a seguir a direção divina, não ousemos contrariá-las ou delas se queixar, pois isto não é agradável ao Senhor. Não se trata aqui de defender uma imunidade das lideranças ou de dizer que elas são incontestáveis, mas, sim, de sabermos que o líder constituído por Deus tem de prestar contas ao Senhor, não sendo por meio de murmuração ou de queixa que iremos fazer a vontade d’Aquele que é a cabeça da Igreja.Lembremos disto, amados irmãos!
- O Senhor, para deixar bem claro que era contra Ele que o povo havia murmurado e não contra Moisés e Arão, mandou que todo o povo se chegasse diante do Senhor e o Senhor, então, mostrou a Sua glória na nuvem (Ex.16:9,10).
- Está aqui uma importante orientação aos líderes. Quando forem contestados, quando o povo estiver a murmurar, busquem a Deus, como fez Moisés, bem como se esforcem para levar o povo até a presença do Senhor. O Senhor certamente manifestará a Sua glória e isto servirá de corroboração das lideranças contestadas. O que temos visto, infelizmente, é que os líderes preferem fazer uso do poder, da força, em vez de confirmar a sua legitimidade com a demonstração da glória de Deus.
- Numa feliz e bíblica afirmação, o Catecismo da Igreja Romana afirma que “…A glória de Deus consiste em que se realize esta manifestação e esta comunicação de Sua bondade em vista das quais o mundo foi criado. Fazer de nós “filhos adotivos por Jesus Cristo: conforme o beneplácito de sua vontade para louvor à glória da sua graça” (Ef 1,5-6): “Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus: se já a revelação de Deus por meio da criação proporcionou a vida a todos os seres que vivem na terra, quanto mais a manifestação do Pai pelo Verbo proporciona a vida àqueles que veem a Deus” (§ 294 CIC). A liderança deve, pois, fazer o povo chegar a Deus e, deste modo, manifestar a todos a glória do Senhor mediante a manifestação e a comunicação da bondade divina através da membresia, através do corpo de Cristo.
- Em outra afirmação igualmente bíblica, assim se manifesta o mesmo Catecismo: “…A Santidade de Deus é o centro inacessível de Seu ministério eterno. Ao que, deste mistério, está manifestado na criação e na história, a Escritura chama de Glória, a irradiação de Sua majestade. Ao criar o homem “à sua imagem e semelhança” (Gn 1,26), Deus “o coroa de glória”, mas, pecando, o homem é “privado da Glória de Deus”. Sendo assim, Deus vai manifestar Sua Santidade revelando e dando Seu Nome, a fim de restaurar o homem “segundo a imagem de seu Criador” (Cl 3,10) (§ 2809 CIC).
- Deste modo, vemos, claramente, que o propósito de Deus em mostrar a Sua glória a Israel era uma forma de convidar o povo à santidade, querendo que Israel abandonasse o pecado e, assim, estivesse em condições plenas de se encontrar com Ele no monte Sinai para servi-l’O. Deus, mais uma vez, mostrava Sua disposição em perdoar o povo e levá-l’O uma plena comunhão com Ele, fazendo deste povo “amigos” e não somente “servos”.
- As lideranças, quando contestadas, à luz deste ensinamento do próprio Deus, devem, portanto, também se desdobrarem no sentido de levarem o povo à santificação, pois, assim, contemplarão a glória do Senhor e tudo será resolvido e sanado.
- Conforme a palavra que o Senhor havia dito a Moisés, entre aquelas duas tardes, subiram codornizes e cobriram o arraial e, pela manhã, jazia o orvalho ao redor do arraial e, alçando-se o orvalho caído, eis que sobre a face do deserto estava uma coisa miúda, redonda, miúda como a geada sobre a terra. E ao verem aquilo, os filhos de Israel perguntaram: “Que é isto?”, expressão que, em hebraico, é “Man hu” e que acabou dando nome ao “pão dos céus”, a saber, “maná” (Ex.16:14-18).
- Moisés disse-lhes que aquele era o pão que o Senhor lhes havia dado diretamente dos céus e que eles deveriam colher diariamente para o seu sustento, não podendo guardá-lo até o dia seguinte.
- O Senhor, mesmo, disse que a necessidade da colheita diária do maná era uma prova que o Senhor daria para verificar se Israel estava, ou não, andando na Sua lei. Como ensina Agostinho: “…se Deus prova, não é para se aprender o que se ignora, mas para que os homens se conheçam melhor e se tornem mais humildes, implorem o socorro de Deus e não menosprezem Sua graça…” (Heptateuco. Livro II – Questões sobre o Êxodo. Citação de Ex.16:2-4. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 11 dez. 2013) (tradução nossa de texto em francês).
- O Senhor ainda quer que tenham com ele uma comunhão diária, que estejamos sempre prontos a buscá-l’O dia e noite, a fim de que possamos sempre ter em mente que dependemos d’Ele exclusivamente e que Lhe devemos estrita obediência em todas as circunstâncias de nossa vida. Temos feito isto?
- O Senhor tomava, então, duas providências ante as murmurações dos israelitas. A primeira foi lhes dar a carne que estavam desejando e sentindo saudades do Egito, carne esta que foi dada, segundo os comentaristas judeus, “com ressentimento”, em mais uma repreensão do Senhor à incredulidade dos israelitas.
- A segunda atitude tomada pelo Senhor foi a concessão do maná, que era uma providência para toda a peregrinação do deserto, em resposta à acusação de que o Senhor os tinha mandado ao deserto para que eles morressem de fome. Tratava-se de uma providência para o sustento do povo, que tinha, ademais, uma função didática e pedagógica, como dirá Moisés em Dt.8:2,3, com o propósito de mostrar ao povo que nem só de pão ele viveria, mas de tudo que sai da boca do Senhor.
- O Senhor estava ensinando Israel que eles deveriam viver pela fé, de que eles não deveriam se moldar segundo as circunstâncias da vida, que podem ser más, como em Mara ou no deserto de Sim, como boas, como em Elim, mas que deveriam se moldar segundo a vontade do Senhor, ter a Deus como norte e objetivo de suas vidas, pois o Senhor, sendo assim seguido, tudo lhes supriria.
- As codornizes vieram em uma tarde para saciar o desejo do povo de Israel, desejo este motivado por uma ilusória saudade do Egito. O maná, ao revés, veio para sustentar o povo durante toda a jornada até a Terra Prometida. Deus sacia as nossas necessidades momentâneas, motivadas pelas circunstâncias, mas está mesmo interessado em saciar as nossas reais necessidades, aquelas de que dependem a nossa sobrevivência espiritual.
- Por isso, o próprio Jesus vai mostrar que o maná era um símbolo, um tipo da Sua própria pessoa, pois Ele é o verdadeiro pão do céu (Jo.6:32), pois desce do céu para dar vida ao mundo (Jo.6:33).

- Para escaparmos da sede e da fome que existe neste mundo, temos de ir até Jesus Cristo, pois Ele é o pão que nos sacia plenamente. Muitos, infelizmente, porém, se encontram na mesma situação dos judeus que ouviram estas palavras do Senhor Jesus, logo após a primeira multiplicação dos pães. Estavam atrás de Jesus apenas para terem saciadas as suas necessidades físicas, corriam atrás da “comida que perece” (Jo.6:26,27), assim como os israelitas queriam carne que os matasse a saudade do Egito, desprezando o sustento oferecido por Cristo, “a comida que permanece para a vida eterna”.
- Para executarmos as obras de Deus, torna-se necessário que creiamos n’Aquele que Ele enviou, que aceitemos nos alimentar do pão do céu e, assim, não morramos, mas tenhamos a vida eterna (Jo.6:50), tendo comunhão com o Senhor Jesus, participando do Sua carne e do Seu sangue, vivendo por Cristo (Jo.6:56,57). Somente assim, conseguiremos passar por esta peregrinação terrena e chegarmos à Canaã celestial.
- Agostinho traz aqui também uma interessante explicação tipológica para esta passagem. Diz ele: “…A carne que Deus enviou naquela tarde e o pão que Ele enviou naquela manhã, não são uma figura d’Aquele que foi entregue por nossos pecados e que ressuscitou para nossa justificação (Rm.4:25)? Pois, à tarde, Ele foi morto em Sua fraqueza e foi enterrado e, de manhã, sendo ressuscitado por Sua própria virtude, apareceu a Seus discípulos.” (Heptateuco. Livro Ii. Questões sobre Êxodo. Citação de Ex.16:12-15. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 11 dez. 2013) (tradução nossa de texto em francês). Vemos aqui, aliás, que o sacrifício de Cristo é único, como única foi a vinda das codornizes, mas o efeito de Sua ressurreição é duradouro, como duradouro foi o maná, que caiu durante toda a peregrinação no deserto, só cessando quando se ingressou na Terra Prometida.
- Os filhos de Israel saciaram-se de carne e, pela manhã, foram buscar o maná, colhendo dele como havia dito Moisés. Cada um recolheu aquilo que podia consumir, de sorte que uns recolheram mais e outros, menos, mas cada qual tinha o suficiente, a porção de cada dia.
- Nesta colheita do maná, o Senhor também ensinava que o que devemos buscar, neste mundo, é a porção de cada dia. É este o alvo e o objetivo daquele que serve a Deus, daí porque foi extremamente sábio o pedido de Agur, que pedia ao Senhor tão somente a porção acostumada de cada dia, pois, assim, não se desviaria dos caminhos do Senhor (Pv.30:8,9). Este mesmo pedido nos ensinou o Senhor Jesus na oração dominical (Mt.6:11).
- Todavia, não são poucos os sedizentes cristãos que, em nossos dias, estão mais interessados em “se fartar de carne”, em correr atrás de Jesus única e exclusivamente pela “comida que perece” e que, portanto, não podem se contentar com a “porção acostumada de cada dia”, mas querem acumular riquezas cada vez mais, querem ter cada vez mais, amando, assim, o dinheiro e, portanto, não amando a Deus, pois um amor exclui o outro (Mt.6:24), negando, assim, pertencer ao povo de Deus, pois são os gentios que vivem em função da comida, bebida e vestido (Mt.6:31,32).

- Os israelitas, mesmo tendo divisado a glória de Deus na nuvem, mesmo tendo recebido carne para se fartar, demonstraram, mais uma vez, sua incredulidade. Colheram, sim, o maná, mas não deram ouvidos a Moisés e alguns deles deixaram o maná para o dia seguinte, e o resultado disto foi que o maná cheirava mal e criou bichos, tendo Moisés se indignado contra eles (Ex.16:20).
- Era a quinta demonstração de incredulidade por parte do povo de Israel na sua caminhada rumo ao monte Sinai. Não creram na Providência Divina e preferiram guardar o maná colhido a acordar na manhã seguinte para apanhá-lo.
- Isto representa aqueles que não se dispõem a ter um encontro diário com o Senhor Jesus, a não terem uma vida de comunhão diária com Ele, que querem ter uma vida espiritual baseada no passado, naquilo que colheram no dia anterior.
- Jesus é o pão da vida, Aquele que está pronto a nos sustentar diariamente. Jesus não é para ser consumido uma vez ou outra, não é para ser armazenado para que seja fonte de alimentação no futuro. É preciso sairmos da tenda diariamente e irmos ao Seu encontro. É fundamental que nos alimentemos d’Ele, da Sua Palavra de dia e de noite (Sl.1:2).
- Lamentavelmente, não são poucos os crentes que se alimentam da Palavra de Deus apenas aos domingos à noite, querendo “armazenar” o maná para toda a semana. Qual o resultado disto, amados irmãos? A corrupção da vida espiritual. O maná, de uma dia para o outro, com exceção do sexto dia, criava bichos e cheirava mal. Não há possibilidade de vida espiritual sadia com frequência a cultos uma vez por semana. Torna-se absolutamente necessário termos uma comunhão diária com o Senhor, meditarmos em Sua Palavra de dia e de noite. Temos feito isto?
- No sexto dia, colheram o maná em dobro e, no dia seguinte, o maná não criou bichos nem cheirou mal (Ex.16:24), consoante a palavra que o Senhor dissera a Moisés. Mas se teve, então, nova manifestação de incredulidade, porque alguns israelitas, apesar da ordem de Moisés, violaram o sábado e foram buscar o maná, não o achando, porém (Ex.16:27).

- Ante este gesto, a sexta manifestação de incredulidade de Israel no caminho ao Sinai, o Senhor apresenta uma queixa diante de Moisés, dizendo: Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis? (Ex.16:28). O Senhor alertava o povo a respeito do descumprimento da Sua Palavra e da necessidade da obediência. Era o Deus longânimo e tardio em irar-Se que Se manifestava a Israel, querendo dar-lhe a promessa de Abraão.
- O Senhor, também, em sinal de que queria que o povo de Israel guardasse na memória a Sua Divina Providência, mandou que Arão colhesse um gômer cheio de maná e o pusesse em um vaso, que ficasse diante de Deus, para que as gerações subsequentes jamais se esquecessem que Deus havia sustentado o Seu povo no deserto. Este vaso seria, posteriormente, posto dentro da arca, diante do Testemunho (Ex.16:33,34; 25:16; Hb.9:4). OBS: “…O maná guardava-se na arca para recordar o benefício que Deus havia outorgado aos filhos de Israel no deserto…(TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica I-II, 102, 4. Citação de Ex.16:16-36. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 11 dez. 2013) (tradução nossa de texto em espanhol).
III – ISRAEL EM REFIDIM
- Depois de terem sido saciados de carne e de receberem o maná, o povo de Israel partiu do deserto de Sim e foram até Refidim, outro lugar em que não havia água para que o povo bebesse (Ex.17:1), apesar de “Refidim” significar “refrigérios”.
- O povo, então, foi mais forte em sua desobediência e incredulidade. Até então, havia tão somente reclamado, murmurado contra Moisés, mas, agora, resolveu contender com Moisés. Contender é lutar, brigar, disputar, rivalizar com alguém. O povo, pelo que se verifica, portanto, resolveu se contrapor a Moisés, disputar com ele, e, por isso, disseram: Dá-nos água para beber (Ex.17:2).
- Moisés é desafiado pelo povo para que lhes dessem água para beber e Moisés, em vez de “partir para a briga”, de aceitar o desafio, fez ver aos israelitas a tolice que estavam a cometer. “Por que contendeis comigo? Por que tentais ao Senhor?” (Ex.17:2).
- Muitos estão a agir da mesma maneira na atualidade. Diante das dificuldades, das agruras da vida, preferem desafiar a Deus, desacreditar em Deus do que confiar n’Ele e esperar a Sua Providência. Os israelitas não buscaram a Deus, mas, antes, preferiram murmurar, acusando Moisés de querê-los matar de sede (Ex.17:3).
- Moisés, porém, diante daquela situação de conflito, buscou ao Senhor, temendo, inclusive, ser apedrejado. O Senhor, então, mandou que Moisés passasse diante do povo e tomasse com ele alguns dos anciãos de Israel e tomasse na sua mão a vara com que havia ferido o rio, ferisse a rocha em Horebe e dali sairiam águas de onde o povo beberia (Ex.17:5,6).
- Moisés feriu a rocha e águas saíram dela e o povo pôde, então, beber e saciar a sua sede e o local ficou conhecido como Massá e Meribá, que significa, respectivamente, tentação e contenda, pois ali os israelitas tentaram ao Senhor, dizendo: está o Senhor no meio de nós, ou não? (Ex.17:6,7). O lugar que deveria ser “refrigério”, por causa da incredulidade do povo se passou a chamar “tentação e contenda”.
- Que significa “tentar a Deus”? Por sua biblicidade, reproduzimos aqui o que diz a respeito o Catecismo da Igreja Romana: “…Tentar a Deus consiste em pôr à prova, por palavras ou atos, a Sua bondade e a Sua onipotência. Foi assim que Satanás quis que Jesus Se atirasse do templo abaixo, para com isso forçar Deus a intervir (Lc.4:9). Jesus opôs-lhe a Palavra de Deus: «Não tentarás o Senhor teu Deus» (Dt.6:16). O desafio contido em semelhante tentação a Deus fere o respeito e a confiança que devemos ao nosso Criador e Senhor, implicando sempre uma dúvida relativamente ao Seu amor, à Sua providência e ao Seu poder (I Co.10:9; Ex. 17:2-7; Sl.95:9)” (§ 2119 CIC).
- Como afirma Matthew Henry, “tentar Deus” significa “…não apenas uma desconfiança em Deus genérica, mas uma desconfiança d’Ele depois de eles terem recebido provas de Seu poder e de Sua bondade, para a confirmação da Sua promessa. Eles, com efeito, supuseram que Moisés era um impostor, e Arão, um enganador, a coluna de fogo e a nuvem uma mera fraude e ilusão, que impuseram a seus sentidos, que a longa série de milagres que os havia resgatado servido e alimentado, uma cadeia de trapaças e a promessa de Canaã um gracejo para eles(…). Pela desconfiança em Seu poder, vocês [o povo] traem Sua paciência e, assim, provocam a Sua ira…” (Comentário Completo sobre toda a Bíblia. Com. Ex.17:1-7. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry- complete/exodus/17.html Acesso em 11 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
- Era a sétima vez em que o povo demonstrava incredulidade diante do Senhor e, neste caso, de forma praticamente irreversível, tentaram a Deus, desafiaram-n’O, demonstrando total rebeldia e destemor. Estava ali selada a sorte do povo de Israel: fora ele definitivamente reprovado e não poderia receber a promessa de Abraão. Não estava preparado para viver pela fé, para receber a lei de Deus em seus corações.
- Não é por outro motivo que Moisés alude sempre a este episódio para indicar a fidelidade de Deus e a infidelidade do povo – Nm.20:13,24; 27:14; Dt.6:16; 9:22; 32:51; 33:8. O salmista, no Sl.81:7, também faz alusão a esta triste ocorrência. Temos aqui uma verdadeira apostasia do povo, que os impede de receber a promessa de Abraão e os fará entrar num “degrau abaixo” de relacionamento com Deus: a lei.
- Dentro de Sua misericórdia, o Senhor, então, haveria de instituir um outro concerto com o povo de Israel, um concerto que os pudesse levar até a posteridade de Abraão, até a bênção que se espraiaria para todas as nações da Terra. Diante desta sétima reprovação, Israel chegaria ao Sinai apenas para receber um aio, alguém que pudesse conduzi-los no futuro até o Messias. Eles haveriam de receber a lei e não a promessa de Abraão.
- Esta rocha ferida que trouxe água que saciou a sede dos israelitas era outra figura de Cristo Jesus, como nos ensina o apóstolo Paulo em I Co.10:4. Esta rocha, ademais, como ensinam os comentaristas judeus e o apóstolo Paulo o confirma, passou a seguir os israelitas ao longo do deserto, motivo por que nunca mais reclamaram de sede, com exceção do episódio no deserto de Sim relatado em Nm.20:2. Deus provia não só o pão, mas também água para o povo dali por diante.

- Jesus, mesmo, identificou-Se como a água viva (Jo.4:10), como a água da vida (Jo.7:37), que sacia plenamente de modo que quem dela bebe nunca mais terá sede. Assim como os israelitas não tiveram mais sede durante a sua peregrinação no deserto, aquele que toma da água dada por Jesus não tem mais sede neste mundo.
- Por isso, temos muita preocupação com alguns sedizentes crentes que vivem sentindo necessidade de ter “emoções”, “prazeres”, “lazer” e “diversão” neste mundo. Ao agirem deste modo, estão cometendo duas maldades, como o povo de Judá nos dias de Jeremias, visto que estão abandonando a Deus, que é o “manancial de águas vivas” e cavam “cisternas rotas, cisternas que não retêm as águas” (Jr.2:13).
- Moisés chamou os anciãos de Israel e, à vista deles, feriu a rocha e a mesma forneceu água para o povo. Cabe aos líderes levar o povo até o manancial de águas vivas, mas, infelizmente, não são poucos os líderes que, na atualidade, em vez de levarem o povo à presença de Cristo, estão a buscar “entretenimentos”, “diversões”, “emoções” para saciar o povo. Tem misericórdia desta gente, Senhor!
- Moisés foi até o monte Sinai para ferir a rocha, mas o povo estava em Refidim (Ex.17:6). Isto indica que as águas, provavelmente, vieram num riacho de Horebe até o Refidim. Neste gesto, parece que o Senhor queria animar o povo de Israel a ir até o Sinai, evitando que a rebeldia os impulsionasse a desistir da caminhada. Conhecendo o coração do povo, o Senhor quis, na Sua infinita misericórdia, impedir uma debandada geral.
- O fato de a rocha ter de ser ferida para que pudesse fornecer água é um símbolo da necessária morte de Cristo para a redenção da humanidade. Como diria o profeta Isaías séculos depois: “Mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados” (Is.53:5).

- O Senhor mostrou a Moisés a necessidade de se ferir a rocha em Horebe para que brotassem águas que saciassem a sede do povo. Mas, também, o Senhor mostrou a Moisés que a água viria apenas de Horebe, “o monte de Deus”, a indicar que era o Senhor que iria saciar a sede de Israel e ninguém mais. Assim como o Senhor havia saciado a fome do povo trazendo o pão do céu, de igual maneira, iria saciar a sede do povo trazendo água de Horebe, mas água produzida sobrenaturalmente, mediante o ferimento por uma vara. O Senhor assinalava que só Ele era a provisão do povo.
- Temos, também, de entender que o Senhor é a nossa única fonte de providência, tanto material quanto espiritual. O Senhor é Aquele que provê, como bem compreendeu Abraão no episódio do sacrifício de Isaque (Gn.22:14). Cristo é a provisão que Deus nos deu, pois, naquele monte, Abraão exultou por ver o dia do Senhor Jesus (Jo.8:56). Temos esta visão de Abraão?
- Aqui, aliás, temos mais uma demonstração de que os israelitas haviam perdido a oportunidade de receber a promessa de Abraão. A rocha ferida não foi vista pelo povo, apenas pelos anciãos. O povo estava em Refidim, que havia sido renomeado para Massá e Meribá. Deus não abençoa onde há “tentação e contenda”. O povo estava impedido de desfrutar do “refrigério”, porque havia uma parede de separação que somente seria desfeita quando se recebesse a promessa de Abraão, para o que o povo estava despreparado naquela ocasião.
- Os comentaristas judeus entendem que, por causa da contenda contra o próprio Senhor, Deus permitiu que os amalequitas guerreassem contra Israel. Segundo Rashi (1040-1115), “…esta seção sobre Amaleque foi colocada diretamente depois do versículo: ‘D’us está conosco ou não?’, sugerindo a resposta de D’us: ‘Eu sempre estou com vocês, e eu sempre estou preparado para todas as suas necessidades, e ainda vocês dizem: ‘D’us está conosco ou não?’ Vocês verão! Um cachorro virá e lhes morderá; e vocês clamarão para Mim e então vocês saberão onde Eu estou’…” (CHUMASH: o livro de Êxodo, p.117).
- O povo ainda se encontrava em Refidim, quando os amalequitas, que eram aparentados dos israelitas, uma vez que Amaleque era neto de Esaú, filho de Elifaz (Gn.36:12). No entanto, sabendo que os israelitas se encontravam em situação de fraqueza, com sede, os amalequitas resolveram atacar Israel, até porque devem ter percebido que Israel estava cheio de bens, os bens que haviam trazido do Egito.
- Podemos aqui elucubrar como os amalequitas tiveram conhecimento da situação de fraqueza de Israel e da sua situação econômica privilegiada. Muito provavelmente, a murmuração foi tanta, o alvoroço causado pelo povo nesta contenda com Deus foi tamanho que despertou os amalequitas, que sempre estavam a transitar pelo deserto. Não é difícil, mesmo, que tenham encontrado com algum israelita que, no seu “desabafo”, tenha “entrado o ouro” para o inimigo.
- O certo é que Israel havia se posto contra Deus, havia contendido contra o Senhor e, nesta situação, ficou vulnerável ao ataque do inimigo. Isto ainda hoje acontece com o povo de Deus. Se começar a contender com Deus, se se posicionar no lado oposto ao da vontade de Deus, ficará sendo presa fácil do inimigo de nossas almas. Tomemos cuidado, amados irmãos!
- Diante da disposição guerreira de Amaleque, Moisés não teve outra alternativa senão mandar que se formasse um exército para a peleja. Lembremos que os israelitas estavam armados (Ex.13:18), sendo certo que seiscentos mil homens haviam saído do Egito que tinham formação militar. Para comandar o povo, Moisés chama Josué, que, pela vez primeira, aparece no texto sagrado, tudo indicando que este jovem de Efraim tivera formação militar no Egito.
- Moisés mandou que Josué fosse liderar os soldados que haviam sido escolhidos para a peleja, enquanto que Moisés, acompanhado de Arão e de Hur, que era o príncipe da tribo de Judá (Ex.31:2), subiram ao cume do monte, tendo Moisés a vara de Deus na sua mão.
- Enquanto Josué comandava o exército na batalha, Moisés, com os braços estendidos, clamava a Deus. Quando os braços de Moisés estavam levantados, os israelitas prevaleciam, mas, quando ele abaixava os braços, os amalequitas prevaleciam. Arão e Hur, ao notarem esta circunstância, foram ajudar Moisés, segurando os seus braços, depois que puseram uma pedra debaixo dele para que ele se sentasse e, deste modo, Israel venceu a peleja (Ex.17:11-13).
- Com esta atitude, o Senhor deu importantes lições aos israelitas. A primeira era de que não poderia contender contra Deus, pois isto os deixaria vulneráveis. A segunda era de que não há possibilidade de vitória sem o concurso de todo o povo e da liderança, em conjunto, em unidade. A terceira é que somente Deus pode dar a vitória, sem que o homem deixe de fazer a sua parte. A quarta é que a liderança necessita de auxiliares.
- O povo havia se distanciado de Deus e do seu líder. Agora, o Senhor proporcionava um inimigo para restaurar a unidade não só entre o povo e Deus, entre o povo e seu líder, mas, também, entre as lideranças. Vemos, portanto, como, muitas vezes, o Senhor permite que o inimigo se levante contra nós para que nós arrumemos o nosso relacionamento com o Senhor e com o Seu povo.
- Após a vitória, o Senhor mandou deixar escrito para memória num livro e isto fosse relatado aos ouvidos de Josué, que o Senhor haveria de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus (Ex.17:14). Isto não ocorreu imediatamente, mas, pouco antes da dispersão do povo de Israel após a destruição do Segundo Templo, realmente toda a descendência de Esaú desapareceu do mapa, não havendo mais qualquer edomita para contar história nos dias de hoje. Deus é fiel e vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12). Aleluia!
- Após o final da guerra, Moisés edificou um altar ao Senhor e lhe deu o nome de “O Senhor é minha bandeira” (Iahweh-Nissi), altar que serviria de memorial para todas as gerações de que o Senhor faria guerra a Amaleque de geração em geração, uma comprovação de que o Senhor estava, sim, no meio do povo de Israel, apesar da incredulidade dos hebreus.
- Em mais um passo para a estruturação da nação israelita, o Senhor fez com que Jetro, o sogro de Moisés, viesse ao encontro de seu genro, trazendo a família de Moisés de volta para o líder. Não havia como Deus ter um encontro com o povo e com Moisés, sem que Moisés estivesse com sua família naquela ocasião. A “célula-mater” da sociedade é a família e Moisés, como líder, devia dar o exemplo, levando sua família à presença de Deus, para servi-l’O no monte Sinai (Ex.18:1-12).
- Jetro vem, entrega Zípora, Gérson e Eliezer a Moisés. Moisés recebe a sua família, prova de que, ao contrário do que dizem alguns, não se casou novamente nem se livrou daquela mulher que lhe abandonara. Embora tivesse casado mal, fora da direção do Senhor, Moisés teve de assumir as consequências de seu ato e manter a família que havia formado com aquela midianita, que, por ser morena, também era chamada de “cusita”, como se vê em Nm.12:1.
- Depois da restauração da família de Moisés, Jetro ainda contribuiria para o bem do povo de Israel. Ao ver que seu genro se fadigava atendendo a todas as causas que lhe vinham para julgar, Jetro lhe deu um sábio conselho, qual seja, o de que organizasse um sistema judicial, constituindo magistrados sobre dez, cinquenta, cem e mil, que julgassem as causas mais simples, deixando a Moisés apenas as causas mais complexas,
pois Moisés deveria dar prioridade às coisas de Deus, a obter a direção de Deus para o povo, não se envolvendo demasiadamente com as questões cotidianas (Ex.18:13-26).

- Com este conselho, Jetro contribuiu para que houvesse uma racionalização do sistema de conflitos no meio do povo de Israel, efetuando uma descentralização, que promoveu o bem-estar da população israelita e a efetiva aplicação da lei, impedindo a impunidade e fortalecendo os relacionamentos entre os hebreus.
- Ao mesmo tempo, Jetro fez ver ao seu genro que o mais importante era que ele se dedicasse às coisas de Deus, afinal de contas tinha sido constituído pelo Senhor para liderar o povo e o mais importante para o líder é saber qual é a vontade de Deus e decidir em absoluta consonância com o Senhor.
- Que bom seria que nossas lideranças ouvissem, como Moisés, este sábio conselho de Jetro. A centralização somente traz enfado e fadiga para o povo e para o líder, sem que haja quaisquer resultados edificantes. A consequência, como disse Jetro, será o total desfalecimento do líder e do povo, com o esgarçamento dos relacionamentos e a destruição da boa convivência, como temos visto, lamentavelmene, em muitas igrejas locais. Que tal seguirmos o conselho de Jetro?
- Moisés, então, constituiu juízes no meio do povo, homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreciam a avareza, constituindo-se por maiorais de dez, cinquenta, cem e mil, deixando apenas as causas mais complexas para Moisés, que, deste modo, pôde dar prioridade ao serviço do Senhor.
- De Refidim, Israel partiu e, ao término de três meses de jornada, chegou até o deserto do Sinai, acampando-se defronte do monte. Cumpria-se, assim, o sinal que Deus dera para Moisés quando de sua chamada (Ex.19:1,2). Aproximava-se o momento de o povo firmar um pacto com Deus, o que veremos na próxima lição.
IV – O EPISÓDIO DO BEZERRO DE OURO
- Por força da opção feita pela CPAD, analisaremos, também, nesta lição, o episódio do bezerro de ouro, narrado no capítulo 32 do livro de Êxodo. Sua ligação com os fatos até aqui tratados está apenas na questão de que este episódio é uma das “dez vezes” em que o povo de Israel tentou Deus no deserto (Nm.14:22).
- Tencionávamos, mesmo, diante da ausência de uma lição específica sobre este importante episódio narrado no livro do Êxodo, fazer um apêndice para dele tratar, mas, já que o ilustre comentarista (talvez notando a lacuna do plano traçado pelo Setor de Educação Cristã da CPAD) inseriu este ponto nesta lição, dela aqui trataremos, sem fazer o apêndice inicialmente pretendido.
- Ao chegar ao Sinai, como haveremos de estudar nas lições 7, 10 e 11 deste trimestre, Israel recebeu a lei, o modo pelo qual Deus iria Se relacionar com o Seu povo, que se apresentara incapaz de receber a promessa de Abraão.
- No monte Sinai, o Senhor Se manifestou aos israelitas, que preferiram ficar longe de Deus, e o Senhor lhes deu “dez palavras”, os dez mandamentos, que traduziam o resumo de toda a legislação que seria dada ao povo, com 613 mandamentos, a ser minudenciada ao longo da caminhada para Canaã.
- Depois da entrega da lei no monte, o Senhor entregou a Moisés uma série de ordenanças básicas para a convivência entre os israelitas, as chamadas “leis civis”, que se encontram em Ex.21-23. Em seguida, o Senhor mandou que Moisés solenemente promulgasse a lei, que havia sido aceita pelo povo, o que foi feito com sacrifícios e aspersão do sangue (Ex.24:1-11).
- Após a “entrada em vigor” da lei, o Senhor mandou que Moisés subisse ao monte, onde lhe daria novas instruções, o que foi feito, tendo o povo ficado sob a direção de Arão e de Hur, enquanto Moisés ficaria na companhia de Deus no cume do monte Sinai (Ex.24:12-18).
- Passaram-se quarenta dias e quarenta noites e o povo, sentindo a falta de Moisés, desanimaram e cansaram de esperar por ele. Reuniram-se e foram até Arão e pediram que o irmão de Moisés lhes fizesse deuses que fossem adiante deles, pois não sabiam do paradeiro de Moisés (Ex.32:1).
- Esta atitude dos israelitas era terrível, pois demonstrava, claramente, que a sua fidelidade a Deus, assumida quando da entrega da lei, não durou mais do que quarenta dias, o tempo de ausência de Moisés.- O

povo de Israel não confiou em Deus. Era-lhe muito penoso crer em um Deus invisível e, ao mesmo tempo, crer num líder que não se encontrava presente já há quarenta dias. Queriam algo visível, algo palpável. Cometiam, assim, o mesmo erro que haviam cometido quando ainda estavam sendo testados por Deus para ver se recebiam, ou não, a promessa de Abraão.
- Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado por justiça (Gn.15:6; Rm.4:3). Deus queria justificar Israel por esta fé, mas os israelitas haviam sido incrédulos, incapazes de assumir um compromisso deste naipe. Por isso, o Senhor lhes concedera a lei, mas, quarenta dias depois, os israelitas pediam a Arão que lhes desse um “Deus visível”, algo em que pudessem ver para que pudessem crer.
- Os israelitas, com este pedido feito a Arão, estavam simplesmente quebrando os dois primeiros mandamentos, os quais diziam que não se deveria ter outros deuses além do Senhor (Ex.20:3), como também não poderiam fazer imagens de escultura (Ex.20:4). Descumpriam a lei a partir do que nela havia de mais sublime.
- Na verdade, o Egito ainda não havia saído dos israelitas, mesmo depois do pacto que haviam firmado com o Senhor, numa prova de que a lei não remove o pecado, algo que somente Cristo Jesus pode fazer. É por isso que Estêvão, cheio do Espírito Santo, ao mencionar este episódio, afirma que, ao fazer o pedido a Arão para que lhes fabricasse deuses, os israelitas tinham tornado ao Egito em seus corações (At.7:39,40).
- Como afirmou o pastor Aldery Nelson Rocha, em ensino dado na reunião de obreiros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Belém – sede – São Paulo/SP, em 2 de dezembro de 2013, o Senhor queria trazer a lei para o coração do povo de
Israel, mas eles não quiseram, pediram que só Moisés subisse ao monte e, assim, a lei acabou sendo gravada em pedra, totalmente incapaz de transformar o povo.

- A incapacidade do povo de receber a promessa de Abraão e a quebra da lei agora neste episódio tornaram absolutamente necessária uma nova aliança, como proclama o Senhor através do profeta Jeremias em Jr.31:32,33, proclamação esta que é lembrada pelo escritor aos hebreus em Hb.8:13.
- Como pôde Arão atender a este pedido? É algo que também nos deixa perplexos. Na verdade, sendo Arão o “profeta de Moisés”, mero porta-voz das mensagens que Deus dava a Moisés (Ex.4:14-16). Assim, como Moisés estava ausente, Arão estava como que sem função e o fato de ter ouvido o povo mostra claramente que a liderança não estava em suas mãos, que não tinha qualquer direção divina para fazê-lo.
Seu papel seria apenas cuidar dos negócios que surgissem durante a ausência de Moisés, ou seja, cuidar dos conflitos e querelas mais complexos na órbita judicial, nunca substituir-se a Moisés no tocante às coisas relativas a Deus. Ao usurpar indevidamente este papel, estava, também, transgredindo os ditames estatuídos pelo Senhor tanto quanto o povo, caindo, assim, no mesmo pecado.
OBS: “… Foi especialmente estranho que Arão estivesse tão profundamente implicado neste pecado, já que ele fabricou o bezerro e proclamou a festa! É este Arão, o santo do Senhor, irmão de Moisés, seu profeta, que falava tão bem (Ex.4:14) e não disse nem uma palavra contra aquela idolatria? Não é aquele que não havia apenas visto, mas tinha empregado em ação as pragas do Egito e os juízos executados sobre os deuses dos egípcios? O quê! E ainda ele mesmo copiou as idolatrias abandonadas do Egito?
Com que cara ele pôde dizer para o povo: eis os deuses que vos tiraram do Egito, quando eles estavam a trazer a idolatria do Egito (a pior coisa lá) no meio do povo? É este Arão que tinha estado com Moisés no monte (Ex.19:24; 24:9) e que sabia que não havia nenhum modo de se reproduzir numa imagem o que ali havia visto? É este Arão a quem se tinha confiado o cuidado do povo na ausência de Moisés? Estava ele ajudando ou encorajando esta rebelião contra o Senhor? Como era possível que ele pudesse fazer uma coisa tão pecaminosa?
Ainda que estivesse estranhamento surpreso com tudo aquilo e o tenha feito quando ele estava um pouco adormecido, ou se ele estava atemorizado com os insultos da turba. Os judeus tem uma tradição que seu colega Hur, opondo-se a isto teria sido derrubado e apedrejado (e, consequentemente, nós nunca mais lemos a respeito dele a partir deste episódio) e que este Arão atemorizado consentiu com o povo.
E Deus permitiu que ele agisse deste modo: (1) para nos ensinar quem são os melhores dos homens quando eles são deixados por Deus, para que nós façamos parar o homem e que aquele que cuida estar em pé olhe para que não caia. (2) Arão estava, a este tempo, destinado por divina escolha para o grande ofício do sacerdócio, embora ele ainda não soubesse, apenas Moisés, que estava no monte.
Agora, a fim de que ele não se exaltasse pela excelência das revelações (II Co.12:7), com a honra que lhe seria dada, um mensageiro de Satanás prevaleceu sobre ele, para que a lembrança do que ocorrera o mantivesse humilde durante todos os seus dias. Aquele que uma vez se envergonhou por ter construído um altar para um bezerro de ouro, deveria se sentir como alguém que não merecia a honra de servir no altar de Deus e receber isto como pura graça do Senhor. Então, o orgulho e a jactância foram para sempre silenciados e um bom efeito surgiu de uma causa má. Por este episódio, do mesmo modo, mostrou-se que a lei fez sacerdotes que tinham enfermidade e que precisavam primeiramente oferecer por seus próprios pecados.…” (HENRY, Matthew. Comentário sobre toda a Bíblia. Com. Ex. 32:1-6. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/exodus/32.html Acesso em 11 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
- Arão, então, mandou que os israelitas arrancassem os pendentes de ouro que estavam nas orelhas de suas mulheres, filhos e filhas e os trouxessem a ele. Arão, então, tomou- os das suas mãos e formou o ouro com um buril e fez dele um bezerro de ouro (Ex.32:3,4). Muitos veem nesta exigência de Arão uma tentativa de demover os israelitas de seu intento, já que seria extremamente penoso obter o ouro necessário para a fabricação do ídolo. Mas os israelitas estavam obstinados e fizeram todo o possível para atender à exigência.
OBS: “…Quando Arão exige que ‘…as mulheres e os filhos dispusessem de seus pendentes das orelhas’ para que se fabricassem os deuses, pode-se razoavelmente pensar que ele lhes impunha este sacrifício penoso a fim de demover o projeto deles. Esta grade privação que eles se impuseram para ter todo o ouro necessário para a fabricação de um ídolo, creio que devo enfatizá-la àqueles que se entristecem quando Deus ordena fazer ou suportar pacientemente alguma coisa semelhante para obter a vida eterna.” (AGOSTINHO. Heptateuco. Livro II. Questões
sobre Êxodo. Citação de Ex.32:7-11. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 11 dez. 2013) (tradução nossa de texto em francês).
- Vemos aqui, neste episódio, como o Egito ainda não tinha saído totalmente dos israelitas. Por primeiro, Arão pediu que lhes fossem dados os pendentes que estavam nas orelhas, um costume gentílico, um costume egípcio. Aliás, é oportuno verificar como sempre os brincos estão associados na Bíblia Sagrada à idolatria, prova de que se trata de uma prática totalmente inapropriada para o povo de Deus.
- Por segundo, vemos que Arão usou de uma tecnologia que, certamente, tinha tido contato no Egito, onde era comum a fabricação de ídolos. Tomou o buril e deu forma ao ouro. Mais um resquício egípcio que servia a um propósito contrário à vontade de Deus.
- Por terceiro, Arão deu ao ídolo a forma de um bezerro, naturalmente se reportando à própria religião egípcia, onde o boi era adorado como um deus, o deus Ápis ou, ainda, era considerado como uma imagem do deus Osíris, que, inclusive, havia sido alvo de uma das pragas, a praga da peste nos animais. Para que não se tivesse a cópia de um deus egípcio, fez-se um bezerro e não um touro ou um boi.
- Esta indisfarçável influência egípcia que imperou na fabricação do bezerro de ouro está explicitada nas palavras do profeta Ezequiel, quando o Senhor diz que o povo de Israel se rebelou e não quis ouvi-l’O, pois ninguém lançou as abominações dos seus olhos nem deixaram os ídolos do Egito (Ez.20:8) e, ainda, de não ter deixado as impudicícias que havia trazido do Egito (Ez.23:8).
- O povo havia fracassado em sua confiança em Deus e, em vez da promessa de Abraão, recebera a lei. Mas, agora, estava a quebrar a própria lei, usando do que haviam aprendido no Egito. Que tragédia quando não nos desvencilhamos do mundo. Por isso, o apóstolo João foi enfático a nos dizer que não devemos amar o mundo, nem o que no mundo há, pois quem ama o mundo, o amor do Pai não está nele (I Jo.2:15). Como está a nossa situação?

- Muitos discutem que os israelitas não estavam querendo adorar outros deuses. Não haveria, propriamente uma idolatria, mas, sim, buscavam uma representação de Deus para poderem servi-l’O com mais confiança, diante da dificuldade que sentiam em adorá-l’O sendo Ele invisível e tendo, ainda mais, a ausência de Moisés, que com o Senhor falava, a pedido do próprio povo.
- Parece ser razoável, mesmo, que o bezerro de ouro fosse uma representação visível de Deus, até porque Arão, ao edificar um altar ao bezerro, conclamou o povo para que, no dia seguinte, fizesse “festa ao Senhor”, identificando, assim, o bezerro ao próprio Deus (Ex.32:5). Ademais, o Sl.106:19,20 diz que o povo adorou uma imagem fundida de um bezerro, porque converteram a glória de Deus em um boi que come erva.
- De qualquer maneira, esta representação de Deus era igualmente proibida pela lei, pelo segundo mandamento, de modo que tal postura, que parece ter respaldo bíblico, não diminui em coisa alguma o pecado cometido pelo povo de Israel. Como afirma um artigo da Revista Morashá: “…Essas justificativas para o pecado do bezerro de ouro não o desculpam por completo: de fato, os judeus cometeram um terrível ato de idolatria.…” (O BEZERRO de ouro e os dez espiões. Revista Morashá, edição 72, jul. 2011.
Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=898&p=1 Acesso em 11 dez. 2013).
- Isto mostra, aliás, como é extremamente abominável ao Senhor a fabricação de imagens e figuras representativas do Senhor Jesus, feitas para “veneração”, como se verifica em certos segmentos do Cristianismo, como também como é igualmente abominável o recurso a “elementos visíveis da fé”, como já se disse supra. São os “bezerros de ouro” de nossos dias. Fujamos disto, amados irmãos! OBS: “…Eles iam adorar Jeová sob o emblema de um bezerro! Isto é o que vocês ouvirão os idólatras dizer – eles não adoram a imagem — dizem — mas o verdadeiro Deus que está sob a imagem! Entretanto, isto é expressamente proibido pelo segundo mandamento!” (SPURGEON, Charles. Exposição que segue o sermão 2398.

A mediação de Moisés, p.7. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols40-42/chs2398.pdf Acesso em 11 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
- No dia seguinte, logo de madrugada, o povo iniciou esta festa conclamada por Arão, uma festa em que houve sacrifícios, mas onde também houve muita diversão, pois o povo não só sacrificou, como também comeu, bebeu e folgou (Ex.32:6).
- Era uma festividade guiada pela carne e não pelo espírito. Era uma festividade que fazia o povo “matar a saudade do Egito”. Era uma festividade repleta de folguedo, com danças, gritarias e total submissão aos instintos, tanto que Josué pôde ouvir o barulho do povo lá no monte Sinai (Ex.32:17,18).
- Ao compararmos esta festividade com a que ocorreu na promulgação da lei, vemos uma grande diferença. Ali, houve sacrifícios, aspersão do sangue, mas não havia folguedo, nem coisa parecida. Também, quando a glória de Deus se manifestou no monte Sinai, não houve nada parecido com aquele entretenimento carnal que ocorria ao redor do bezerro de ouro. Isto mostra bem a diferença entre o verdadeiro culto a Deus e o folguedo carnal.
- O que temos visto em nossas igrejas locais, amados irmãos? Louvorzões, baladas gospel, shows, gritos de torcidas organizadas de futebol, danças, manifestações carnais, ou demonstrações da glória de Deus, com salvação de almas, batismos com o Espírito Santo, manifestação dos dons espirituais, curas e milagres? Estamos em torno do Senhor ou ao redor do bezerro de ouro? Pensemos nisto! OBS: Por oportuno, transcrevemos trecho da obra “Subida ao Monte Carmelo” do padre e místico espanhol João da Cruz: “…E que dizer de outras intenções de algumas pessoas nessas festas, ou quando as celebram por interesse de lucro? Estes têm o olho da cobiça mais aberto sobre o próprio ganho que sobre o serviço do Senhor. Não ignoram a insensatez da sua conduta e Deus, que os vê, ainda melhor o sabe. Saibam que se não têm reta intenção, fazem mais festa a si do que a Deus. Tudo quanto é feito para a própria satisfação, ou para agradar aos homens, Deus não aceita como feito a Si.
Antes sucede muitas vezes estarem os homens folgando de tomar parte nas festas religiosas, e Deus estará Se irritando contra eles, como aconteceu aos filhos de Israel cantando e dançando em torno do seu ídolo (Ex.32:7-28), imaginando honrar a Deus, quando muitos milhares dentre eles foram exterminados pelo Senhor. Ou ainda poderá suceder como aos sacerdotes Nadabe e Abiú, filhos de Arão, que foram mortos com os turíbulos nas mãos porque ofereciam fogo estranho (Lv.10:1,2). De igual modo, o que penetrou na sala do festim sem estar revestido de túnica nupcial foi, por ordem do rei, lançado, de pés e mãos atados, nas trevas exteriores (Mt.22:12). Mostram-nos esses diversos castigos até que ponto desagradam a Deus as irreverências cometidas nas reuniões feitas em Sua honra…” (JOÃO DA CRUZ. Subida ao Monte Carmelo, III, 38. In: Obras completas, pp.419-20).
- Deus a tudo estava vendo e dá a notícia do que acontecia para Moisés, que estava no cume do monte. O Senhor foi direto ao assunto: o povo de Israel havia se corrompido e foi chamado por Deus de “povo de Moisés”, pois não tinha mais a dignidade de povo de Deus (Ex.32:7). Era um povo que depressa havia se desviado do caminho do Senhor, um povo obstinado, i.e., duro de cerviz e que merecia ser destruído (Ex.32:8-10).
- Moisés, porém, intercedeu pelo povo, pedindo ao Senhor que Se lembrasse do concerto com Abraão, Isaque e Jacó, que olhasse inclusive para a Sua própria dignidade, pois os egípcios poderiam dizer que o Senhor não tinha condições de fazer o povo entrar em Canaã e, por isso, os havia destruído ainda no deserto. O Senhor, então, atendeu ao pedido de Moisés e resolveu não destruir o povo (Ex.32:11-14).
- Moisés desceu do monte, levando as tábuas da lei que haviam sido escritas pelo próprio Deus, mas, ao chegar até onde estava o povo, não pôde se controlar diante de tamanha desobediência, tendo, então, arremessado as tábuas da lei e as quebrado ao pé do monte Sinai. Esta quebra das tábuas era apenas a visualização daquilo que já ocorrera, ou seja, Israel havia quebrado a lei, mostrando que ninguém pode ser salvo através da lei (Gl.3:11).
- Diante do pecado cometido pelo povo, Moisés mostrou-se impotente, sem condições de entregar a Israel as tábuas da lei, o registro daquilo que haviam ouvido da parte de Deus e se comprometido a observar. A lei é santa, as tábuas haviam sido feitas e escritas por Deus (Ex.32:16), mas havia uma barreira intransponível pelo homem em direção ao Senhor, de modo que o povo não pôde ter acesso àquelas tábuas.
- A lei é santa, como nos afirma o apóstolo Paulo (Rm.7:12), mas a única coisa que consegue fazer é tornar patente o pecado do homem, sendo apenas uma testemunha da morte do ser humano (Rm.7:9-11). Moisés não pôde tirar o pecado do povo, algo que somente Cristo haveria de fazer (Jo.1:29).
- Tomado de santa indignação, Moisés, então, tomou o bezerro que tinham feito, queimou-o no fogo, moendo-o até que se tornou pó, espargiu-o sobre as águas e deu-o a beber aos filhos de Israel (Ex.32:20).

- Muito se discute porque Moisés deu de beber do pó do bezerro a todos os filhos de Israel. A opinião prevalecente é que Moisés agiu aqui de forma similar a que se agia com a mulher suspeita de adultério, que deveria beber da água da separação (Nm.5:11- 31). Israel havia cometido adultério espiritual, diante daquele ato de idolatria, e, como o Senhor havia poupado o povo de destruição, forçoso era distinguir quem havia pecado efetivamente, adorando o bezerro, e quem não o havia feito.
Por isso, a água foi dada para que aqueles que, sem testemunhas, houvessem adorado o bezerro, fossem igualmente punidos. Outros, como os comentaristas da Bíblia de Estudo de Genebra (nota a Ex.32:20), entendem que o gesto de Moisés tinha em vista, de um lado, desdenhar da idolatria do povo e, de outro, não lhes dar qualquer oportunidade de se lembrar do bezerro mais tarde.
OBS: Matthew Henry afirma que “…esta mistura do pó do bezerro com a bebida da água significava para eles que a maldição que eles haviam trazido para si próprios iria se misturar com todos os seus deleites e amargá-los; eles entrariam em suas entranhas como água e como óleo em seus ossos. “De seus caminhos se fartará o infiel de coração” (Pv.14:14); ele deve beber como ele planeja. Esta foi verdadeiramente uma água de Mara…” (Comentário completo sobre a Bíblia toda. Com. Ex.32:15-20. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew- henry-complete/exodus/32.html Acesso em 11 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês). Há uma tradição judaica que entende que este pó do bezerro de ouro é, mesmo, uma herança de maldição para o povo de Israel, a fonte de todos os males que sobrevêm ao povo israelita ao longo de sua história milenar.
- Moisés, em seguida, interpela Arão, que havia ficado responsável pelo cuidado do povo, tendo, então, Arão apresentado uma desculpa para aquele gesto, desculpa esta que não tinha qualquer cabimento, já que, embora tenha admitido que houvesse se rendido à pressão do povo, afirmou que juntara o ouro recolhido e havia “saído o bezerro”, o que não correspondia à verdade (Ex.32:21-24).
- Arão, de qualquer modo, havia mandado o povo se despir e se humilhar diante do Senhor (Ex.32:25), de forma que, por este gesto, de arrependimento eficaz, não foi punido por Deus, tendo sido perdoado. Tudo indica, ademais, que não fez qualquer ato de adoração ao bezerro.
- A tribo de Levi, por sinal, não havia participado daquela festividade. Haviam se posicionado ao lado do Senhor, tanto que atenderam ao chamado de Moisés neste sentido (Ex.32:26), tendo sido os executores da morte de uns três mil homens, que, conforme explicam os comentaristas judeus, tinham sido vistos, com testemunhas, adorando o bezerro de ouro. Era a lei sendo aplicada, trazendo morte aos pecadores (Ex.32:28,29).

- O resultado deste pecado foi que Israel perdeu a sua condição de nação sacerdotal, que havia assumido no monte Sinai (Ex.19:6). Com efeito, por ocasião da promulgação solene da lei, israelitas de todas as tribos haviam oferecido holocaustos no pé do monte Sinai (Ex.24:4,5).
- Entretanto, diante da quebra dos dois primeiros mandamentos, Israel mostrara-se sem condições de servir como reino sacerdotal e o Senhor, então, escolheu a tribo de Levi para servir-Lhe, precisamente a tribo que havia ficado do lado do Senhor e não tinha participado daquele triste evento idólatra, escolhendo Arão e seus filhos para administrarem o ofício sacerdotal (Ex.28:1,2; Nm.18:7).
- A Igreja é, também, uma nação sacerdotal (I Pe.2:9; Ap.1:6), de maneira que não podemos, em absoluto, participar da idolatria, sob pena de sermos extirpados do povo de Deus (I Co.10:14-21). Devemos, pois, fugir de tudo aquilo que significa idolatria, como a utilização de “elementos visíveis” para “aumento da fé em Deus”, do “culto à personalidade” a lideranças e outras coisas que têm contaminado o povo do Senhor nos últimos tempos. Tomemos cuidado, amados irmãos!
- O pecado cometido por Israel foi tão grave que Moisés entendeu por bem interceder junto ao povo, tendo subido novamente ao monte Sinai, onde ficaria mais quarenta dias e quarenta noites (Ex.32:30-35), tendo, então, obtido o perdão do Senhor. Israel, porém, havia perdido a sua condição de “reino sacerdotal” e a lei mostrava toda a sua impotência para trazer a salvação do homem.

- Por fim, em Ex.32:35, é dito que o Senhor feriu o povo porque haviam feito o bezerro que Arão tinha feito. Entendem alguns que esta praga não se refere à morte dos três mil homens pela tribo de Levi, mas, ao longo da peregrinação, muitos morreram por causa da sua participação na idolatria, tenso sofrido as enfermidades e pragas que o Senhor havia lançado sobre os egípcios, já que não haviam observado os mandamentos do Senhor, como, aliás, falara o Senhor em Mara (Ex.15:26). Como afirmou Charles Spurgeon: “Moisés teve sucesso parcial em rogar pelo povo, Eles não iriam morrer de pronto, mas Deus declarou que os visitaria por causa do pecado cometido” (Exposição seguinte ao sermão A mediação de Moisés, p.8. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols40-42/chs2398.pdf Acesso em 11 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
OBS: “ E o Senhor feriu o povo com praga – provavelmente por pestilência ou algumas outras doenças infecciosas. Deste modo, Moisés prevaleceu e obteve uma mitigação da punição, mas não pôde retirar totalmente a ira de Deus” (WESLEY, John. Notas explicativas. Ex.32. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/wesleys- explanatory-notes/exodus/exodus-32.html Acesso em 11 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2014_L6_caramuru.pdf

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